6 de maio de 2012

O OUTRO DIA

Ontem foi a Marcha da Maconha em Ipanema, desta vez começando no Arpoador, programada para ir até a rua Maria Quitéria. E isso num ritmo, vocês sabem, lentíssimo, não só pela natureza da coisa mas porque a polícia insistia em manter livre a pista da esquerda para que os carros não passassem, como de fato não estavam passando. Para impor-se, apenas, vocês sabem como é.
Estranhei que desta vez a moçada tenha fumado na Marcha. Não fumar é a orientação, uma vez que a permissão é em decorrência do direito de expressão, mas fumar configura o ato ilícito. Estarei errada?
Por outro lado, como é que você vai reivindicar sem o objeto do desejo em pauta? Daí o conflito.
E foi assim que
Ato I - Acordei hoje com a alma alegre, vi os jovens tão bonitos lutando por um direito que é tão deles como falar ou ouvir. Defesa do plantio e do uso. Integração - que o homem não está separado da natureza. Tudo pode ser prazer e troca.
Voltava para casa depois, pensando em como seria bom ficar na praia, sob aquela lua imensa, que até piscava o olho, como em velhos tempos ou em velhos sonhos, nem sei mais.

Ato II  - ligo o computador e vejo no Youtube Renato Cinco falando sobre o que se seguiu depois que fui embora. Quando a Marcha caminhava ainda pela Vieira Souto, uma viatura da polícia de choque entra na contramão e segue, atravessando a marcha, até o carro de som, onde começa a fazer provocações. Não sei que provocações foram essas. O Cinco não falou.
Ato contínuo, dão tiros com balas de borracha e jogam bombas de gás lacrimogêneo e com isso conseguem dispersar o público. Sobem na viatura e vão embora.

Imprensa, pouco. Ontem era também o Viradão Carioca - uma série de eventos que o governo banca com a intenção de alegrar a população penallzada. A Globo cobriu o dia todo.

De modo que a polícia deve ter achado que a fumaça, que subia aos céus e brincava com a lua sob fundo azul-marinho deve ter sido uma provocação. Foi lá, com as armas do terror, e acabou com esse negócio de maconheiro protegido pela lei. Se a repressão é boa para a favela, deve ser boa também para esses subversivos. Já temos experiência disso.
A orientação é sempre a de não fumar. Mas desta vez, sei lá, saiu do controle. Já são anos de espera para uma coisa sobre a qual ninguém - absolutamente ninguém - pode decidir por cada um.

A foto é reveladora.

http://www.youtube.com/watch?v=sDFyAib_4Us&feature=youtu.be
http://www.youtube.com/watch?v=ek109dl5FKw
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5 de maio de 2012

EDUCAÇÃO & POLÍCIA

Hoje, sábado, é a Marcha da Maconha, que neste ano acontecerá em 37 cidades do Brasil.
As causas difíceis são mais lentas. Porque a sociedade é desigual e padece de falta de informações. A imprensa, por sua vez, não tem liberdade. Tem que seguir a voz do dono.
Lembram da Lei do divórcio? Nelson Carneiro batalhou por mais de 25 anos por ela. E parece tão antiga. Quanta coisa aconteceu desde então!
Mas o preconceito grassa ainda em outras áreas, principalmente as lucrativas.
Sinto muita pena de quem é contra a legalização.
Acho que é uma falta de compaixão não querer que os outros sejam felizes.
Vou, mas vou triste. Vejo mais notícias sobre a invasão? ocupação? das escolas pela polícia, sob o pretexto de coibir a violência.
É terrível que as escolas precisem de polícia. Não será porque os maus exemplos foram tantos, por parte de governos em geral, que as pessoas foram se decepcionando com tudo, deixando de acreditar? Não foi por causa de atos burocráticos dissociados da educação que os professores foram perdendo prestígio e respeito na sociedade? Não foi porque a televisão e a propaganda e as novelas e os programas cômicos foram ficando cada vez mais permissivos? Não foi porque os pais não tinham mais o que ensinar e passaram o encargo para os professores? Confirmado o fracasso do modelo, a solução, então, é a polícia? Polícia nas escolas, nas universidades, nas estradas, nas favelas?
Cada vez mais polícia?
Isso é um estado de direito?
Estamos mesmo muito mal. Só estamos bem em número de usuários do Facebook, atrás somente da Índia. E eu lhes pergunto (por favor, salvem-me): qual é a glória disso?
Lamento constatar que o Brasil embestou. E emburrou. Ninguém consegue conter a enxurrada. E nessa hora você vai fazer o quê? Engolir o Viradão com Luan Santana? Comprar na Eletro com Ivete? Ter um salário livre no Santander com Lília Cabral? Ou prefere um Jorge Vercillo bem geladinho?
Você merece, já dizia o Gonzaguinha.


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1 de maio de 2012

1º DE MAIO, TRABALHADOR


"Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas poulares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos, e suas pretensões de governá-los.
Quem duvida disso não conhece a natureza humana."
Mikhail Bakunin
(1814-1876)
É impossível que ainda se creia no voto como um instrumento de mudança. O dia do trabalho, no meu tempo, era quase sempre de luta. Depois de tantos anos de humilhações, o que ganha o trabalhador? Show de música sertaneja, pelo Brasil afora. É nisso que nos transformamos e nos transformaram os sindicatos capachos, como se dizia na época.
Portanto, nada mais pertinente que a citação de Bakunin, para que acabemos com essa palhaçada de comemorações. Os exploradores sempre precisam dos explorados. Por isso é bom mantê-los distraídos. Dê-lhes música sertaneja para que se esqueçam que amanhã estarão na obra, sob o sol duro, limpando as casas, sob ordens, cozinhando e olhando as crianças, de um lado bandido, de outro ladrão, equilibrando-se nos trens, arriscando-se nos ônibus, nas barcas, no metrô. Aquele trabalhador que não tem nada de seu, casa, louça ou comida. Aquele que não se cansa de construir o país, mesmo que tenha que destruir-se, e ao País, porque o movimento quer, e o movimento é forte: chama-se capitalismo, e não permitirá jamais que o pão seja para todos.
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