Foi a primeira vez que fui parada numa blitz.
Vá lá. Quase nunca bebo e também ontem não tinha bebido. Um policial enfiou sua barriga na janela do meu carro e me pediu documentos. Entreguei. Em seguida me perguntou se concordava em fazer o teste do bafômetro e eu, que não quero espichar meu contato com polícia nenhuma e conheço as consequencias legais, só tive que engolir. Fui até a tenda, ele me mostrou o bico descartável e eu soprei naquela merda com todo o ar que era possível, a ver se me livrava da raiva que estava sentindo, da humilhação mesmo de ser parada por um babaca a partir de uma política que acha que a maioria é culpada e que todo cidadão deve se submeter à autoridade, mesmo que ela seja grossa e mal encarada.
As pessoas a quem contei o fato acham que tudo bem, que é assim mesmo, que é preciso impedir que motoristas bêbados andem por aí matando pessoas. Acontece que a grande maioria da população não sai bêbada por aí matando pessoas. A minoria é que bebe e, quando mata, não há o que a impeça. Está visto que a polícia só chega depois do morto.
O motorista atento sabe quando o motorista do outro carro está bêbado, falando no celular ou até dormindo, como acontece com frequencia. Ora, se qualquer motorista é capaz de perceber isso, por que a polícia, que é treinada, não pode? Nesse caso, a "autoridade" quando me mandou parar, depois de ver meus documentos em dia poderia ter percebido que eu não tinha bebido, e que ele bem podia me dispensar do teste, uma vez que sou (também é uma política pública) uma idosa que tem, por lei, algumas prioridades. Ao contrário, a "autoridade policial" não quer nem saber. Sabe que estou na sua mão. Sabe que se eu me negar a fazer o teste vou me incomodar mais do que fazendo. E então lá estou eu, prestando contas dos atos que não cometi a um policial mal encarado. Se me nego: desacato.
Mas quando a polícia inferniza a vida da população causando engarrafamentos por conta de reivindicações salariais, também nenhum motorista sai do carro para dizer que é desacato infernizar a vida de quem eles devem proteger.
Aí está. Vivemos um estado policial em que a repressão é o melhor remédio. Punição, punição e punição.
Mas quando a polícia inferniza a vida da população causando engarrafamentos por conta de reivindicações salariais, também nenhum motorista sai do carro para dizer que é desacato infernizar a vida de quem eles devem proteger.
Aí está. Vivemos um estado policial em que a repressão é o melhor remédio. Punição, punição e punição.
Por mais que Eduardo Paes ame o Rio, e o diga quase chorando na propaganda eleitoral, não acredito em amor armado.
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