Tenho abandonado meu blog, que é como um diário, sem muitas normas, que escrevo com a estufa ligada e uma outra chama, que reconheço minha. Enfraquece, a chaminha azul.
Deixei-o pela indiscutível eficácia do facebook, mas volto, como se voltasse a mim mesma, menos pública, de pantufas, na árvore longínqua em que vou me transformando - um tronco, pronto a se observar por centenas de anos.
A guerra me atravessa. Mas eu sei, e vocês também, que sempre há tempo de guerra em algum lugar. Umas são mais midiáticas, todas são contra os pobres.
Houve o tempo da resistência pelas idéias, da resistência armada, dos radicalismos. Dos hiatos a que chamaram paz. Tratados desonrados do aperto de mão a assinaturas intraduzíveis. Sempre há.
Não devemos incorrer nos mesmos erros. Guerras não são partidas de futebol que nos levem a torcer por um ou outro time. Nada de raças, bandeiras ou religiões de preferência. Estamos tratando da mesma humanidade.
O que não devemos nunca esquecer é o que já aprendemos pela voz do poeta. E a poesia é a alma da paz.
A Guerra que Aflige com seus EsquadrõesA guerra, que aflige com os seus esquadrões o Mundo,
É o tipo perfeito do erro da filosofia.
A guerra, como tudo humano, quer alterar.
Mas a guerra, mais do que tudo, quer alterar e alterar muito
E alterar depressa.
Mas a guerra inflige a morte.
E a morte é o desprezo do Universo por nós.
Tendo por consequência a morte, a guerra prova que é falsa.
Sendo falsa, prova que é falso todo o querer-alterar.
Deixemos o universo exterior e os outros homens onde a Natureza os pôs.
Tudo é orgulho e inconsciência.
Tudo é querer mexer-se, fazer coisas, deixar rasto.
Para o coração e o comandante dos esquadrões
Regressa aos bocados o universo exterior.
A química directa da Natureza
Não deixa lugar vago para o pensamento.
A humanidade é uma revolta de escravos.
A humanidade é um governo usurpado pelo povo.
Existe porque usurpou, mas erra porque usurpar é não ter direito.
Deixai existir o mundo exterior e a humanidade natural!
Paz a todas as coisas pré-humanas, mesmo no homem,
Paz à essência inteiramente exterior do Universo!
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Deixei-o pela indiscutível eficácia do facebook, mas volto, como se voltasse a mim mesma, menos pública, de pantufas, na árvore longínqua em que vou me transformando - um tronco, pronto a se observar por centenas de anos.
A guerra me atravessa. Mas eu sei, e vocês também, que sempre há tempo de guerra em algum lugar. Umas são mais midiáticas, todas são contra os pobres.
Houve o tempo da resistência pelas idéias, da resistência armada, dos radicalismos. Dos hiatos a que chamaram paz. Tratados desonrados do aperto de mão a assinaturas intraduzíveis. Sempre há.
Não devemos incorrer nos mesmos erros. Guerras não são partidas de futebol que nos levem a torcer por um ou outro time. Nada de raças, bandeiras ou religiões de preferência. Estamos tratando da mesma humanidade.
O que não devemos nunca esquecer é o que já aprendemos pela voz do poeta. E a poesia é a alma da paz.
A Guerra que Aflige com seus EsquadrõesA guerra, que aflige com os seus esquadrões o Mundo,
É o tipo perfeito do erro da filosofia.
A guerra, como tudo humano, quer alterar.
Mas a guerra, mais do que tudo, quer alterar e alterar muito
E alterar depressa.
Mas a guerra inflige a morte.
E a morte é o desprezo do Universo por nós.
Tendo por consequência a morte, a guerra prova que é falsa.
Sendo falsa, prova que é falso todo o querer-alterar.
Deixemos o universo exterior e os outros homens onde a Natureza os pôs.
Tudo é orgulho e inconsciência.
Tudo é querer mexer-se, fazer coisas, deixar rasto.
Para o coração e o comandante dos esquadrões
Regressa aos bocados o universo exterior.
A química directa da Natureza
Não deixa lugar vago para o pensamento.
A humanidade é uma revolta de escravos.
A humanidade é um governo usurpado pelo povo.
Existe porque usurpou, mas erra porque usurpar é não ter direito.
Deixai existir o mundo exterior e a humanidade natural!
Paz a todas as coisas pré-humanas, mesmo no homem,
Paz à essência inteiramente exterior do Universo!
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa