Visões
O poeta escreve por sua
terra,
Itabira, Rio de Janeiro,
União dos Palmares
Cajueiro.
Escreve quase sempre
triste, quase sempre certo
de que a sorte
reservou-lhe apenas
a visão e as chamas do
futuro que prevê.
Sabe que seu tempo é outro
por isso escreve por si e
pelos homens
Mas quem são os homens?
O vizinho, o homem da
banca de jornais, o entregador de água?
Terão sido eles que
secaram os rios
e não destruíram os
detritos?
A moça à janela não sonha
As grades são grossas
Os tiros apavoram a moça
A lua (a lua, senhores!)
foi explodida.
Em vão sofreu o poeta e o
mundo segue
obsceno e mudo.
Os homens indiferentes
cogitam sobre museus
do mar
do mato
do ar.
O poema não é novo. De 2009,
eu acho. Mas lembrei dele e resolvi deixar aqui para marcar um dos acontecimentos mais terríveis dos últimos tempos, no
Brasil. Um fato terrível demais para que eu possa agora buscar as palavras
certas. Meu corpo já velho e um coração abatido talvez acolham bem a viagem para o fim, mas não aguentam o assassinato de um rio.
Minha barragem (aquela que
a gente vai criando com o tempo, aceitando, engolindo, distanciando-se,
sabendo-se que os desastres se repetem ciclicamente) também transbordou. O que
há agora é um caudal de lágrimas que estiveram retidas, controladas, apaziguadas
às vezes, mas que estavam ali, prontas para a maior tristeza dos últimos tempos:
um desastre ambiental sem volta, um rio sem futuro, uma população entregue ao
medo, vítima do drama terrível que é ser abarcada por uma lama viscosa e fétida,
sem que ninguém a anunciasse.
Parece que estou sempre
prestes a explodir a cada vez, e cada vez é sempre. Não
consigo atinar com outra coisa que não seja a lama invadindo tudo, matando, destruindo,
inutilizando para sempre um Rio Doce inteirinho que corria lá pelas bandas das
Minas Gerais.
Há minas e minas. Para
extração de minérios, para explodir pessoas na guerra. Mas outra Minas, maior
que tudo, é feita de gente, de terra e de rios, que infelizmente não existem
para o lucro - síntese da exploração desenfreada e irresponsável.
O terrível acontecimento ainda sofreu o agravante do descaso dos responsáveis, da omissão da Justiça, da falta de determinação de quem podia tomar a decisão que mostrasse ao País que sim, o governo existe para nos extorquir, mas quando precisamos ele está lá. Não estava. Não esteve. Não estará.
O crime foi em Minas.
Perdão, Carlos.
...
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Obrigado, Helena, por escrever por todos nós.
ResponderExcluir¡Arriba, querida Helena!
ResponderExcluirYo siempre recuerdo aquello de que subimos tres escalones y nos bajan dos. Hay que tratar seguir aun herido, porque nunca la vida es lineal.
No tienes que pedirme para incluir mi mensaje en tu blog, sé que siempre será para bien. Adelante, entonces.
Abrazos.
Miguel Motta
Ok Querida Sabemos que perdeste , assim como nós estamos continuamente perdendo. Mas peço que não percamos a ti e a teu texto que tanto alento traz , a todos nós , perdedores. Continuaremos a ler-te , mesmo que não escrevas , porque reverbera sempre o que já escreveste.
ResponderExcluirMárcia Cavendish Wanderley
Poucos tem o privilégio de poder transcrever em palavras o pensamento de todos..Acho que é uma missão.Você a desempenha bem. Força ! Muito sucesso,paz e poesia..
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