Dezenas de pessoas, críticos de verdade (sabem o que eu quero
dizer) já escreveram sobre a sua obra fundada na justiça e na liberdade. Nasceu
poeta. E sábia.
Casou jovem com o também jovem e poeta Afonso Félix de Sousa,
companheiro da vida inteira. Juntos levaram uma vida de amor e trabalho, e
sobretudo de poesia para que os filhos se formassem íntegros e enfrentassem um
mundo tantas vezes vil.
Astrid Cabral é uma poeta extraordinária e disciplinada que
conhece e usa a fundo seus instrumentos. Como poderia, a professora que foi,
não fazer o que tão bem ensinara? Poesia faz-se trabalhando. E Astrid atendeu a
esse chamamento entregando-se resoluta à construção de sua prolífera obra.
O pessoal da Academia todo a conhece, tenho certeza. O que
estarão esperando? Ainda discutem sobre até onde as mulheres podem ir?
Esperam por alguma graça? Será a morte uma graça? É verdade que
ela talvez não aceitasse, É demasiado sincera, avessa a elogios fáceis. Mas
isso não vem ao caso. O que vem ao caso é a falta de visibilidade merecida, até
mesmo no momento em que completa 80 anos, sendo ela uma artista desse porte. E
ainda mais: uma cidadã brasileira, que todos precisariam conhecer porque não se
isenta de abordar temas tabus ou posicionar-se politicamente ante a hipocrisia
do sistema. Talvez por isso seus pares relutem: criatura esquisita: mãe
exemplar e poeta de excelência, não só possui o conhecimento do seu material de
ofício mas tem o olhar original e crítico sobre as coisas do mundo. Que mulher é essa? Nós a queremos aqui?
Vivêssemos num país culto e civilizado haveria vários eventos
programados em torno da autora. A imprensa, a reedição da obra, destaque nos
suplementos literários. Mas não. Nosso País não é culto nem civilizado e
vivemos um momento em que perdemos até a esperança dessa possibilidade.
É por isso que escrevo, minha querida poeta: para declarar
que te admiro não só pela obra, mas pelo caráter, pela fidelidade às ideias que
te sustentam, pela ausência de preconceitos e pela compreensão do mundo, que é
sempre maior ao teu lado.
Que bela homenagem, muito enternece, parabéns
ResponderExcluirlindo texto, helena. bjones
ResponderExcluirAinda bem que não se lembram dela na Academia,
ResponderExcluiré de um patamar superior a qualquer Ribamar da vida,
merece muito mais do que reconhecimento.
Astrid é poeta maior. E eu a parabenizo por sua obra e por sua existência. Parabéns, também, minha querida Helena, pelo belo texto e por sua poesia que, como a de Astrid, merece todos os louvores. Abraço cheio de saudade.
ResponderExcluirAstrid conserva o mesmo frescor da menina de doze anos que, sob a copa de um mulateiro, muitas vezes à luz de um candieiro "Aladim", conversava sobre literatura, com jovens seis a oito anos mais velhos. Fundavam o Clube da Madrugada que, recentemente, a homenageou em Manaus. Salve a poeta "telúrica e aquática, um ser em harmonia com o chão de origem" ! Bjs, Léa Madureira Lima
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