17 de abril de 2013

QUE BOSTON !



Esta pérola do humor negro não é minha, infelizmente. É do meu grande amigo sempre amado poeta Victor Colonna.
Os Estados Unidos, que sempre cultivaram uma política belicosa, violenta e invasora, agora estão recebendo ameaças e estão atônitos.
Exportaram o medo do terror para o mundo, Aqui, puseram-nos sob as ordens de seus agentes, treinaram exército e polícia para a tortura, em nome da segurança nacional (a deles) e agora não sabem o que fazer com o produto que tão enfaticamente produziram durante anos, desde que existem, praticamente, cuja matéria-prima é uma incomparável vocação para matar: índios, negros, mulheres, minorias em geral, vietnamitas em particular, palestinos, iraquianos e quaisquer outros habitantes de países ou etnias com os quais não simpatizem ou os negócios não saiam bem.
 As coisas que acontecem hoje e que os deixam tão perplexos, tais como massacres em  colégios, têm o mesmo conteúdo (e agora até a imagem) dos filmes que comecei a ver desde os 14, eu acho. Primeiro os de mocinho. Depois os do FBI com aqueles caras de terno com ombreira e chapéus tortos, tipo Elliot Ness, depois o 007 e outros menos cotados para finalmente chegar a Tarantino e o resto. Os norte-americanos olham para si mesmos e dizem que não estão acreditando. Que isso não faz sentido. É exatamente o que diz uma pessoa doente que não acredita na doença. Como tratá-la? Nada a fazer, a não ser esperar que tome consciência.
O Senado votou hoje contra as restrições para porte de armas. É possível que 90% da população apóie a medida, como disse Obama. Acho difícil. A cultura da guerra está muito arraigada. 
Mas os Estados Unidos sempre foi um país de vencedores. Venceram os fabricantes de armas, os traficantes e os psicopatas.


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11 de abril de 2013

DEVASSOS COM MODERAÇÃO


Loira, bonita, longas pernas. Vive apreensiva porque a carteira está vencida e ela já tem 47 pontos. Mas principalmente porque gosta de se divertir o que inclui, entre outras coisas, beber. Atualmente, quando vai dirigir, não bebe, mas tem medo de que, sei lá, o bafômetro detecte a cerveja de ontem, ou de todas que bebeu.  Acha que alguma coisa pode ficar, um resquício que se movimenta até na pele. Enfim, uma paranóia. Eu a tranqüilizo dizendo que não é porque comeu um bombom com licor ou uma dose de homeopatia que vai ser presa e terá a carteira apreendida. No caso do bombom ainda pode esperar 15 minutos e fazer um novo teste (o que é esperar, sozinha, tarde da noite, em lugares sinistros, 15 minutos numa blitz, com todos aqueles policiais barrigudos e mal encarados?). Depois de 15 minutos o organismo terá metabolizado o álcool. E no caso da homeopatia pode-se levar o recipiente e a receita médica. Pouca coisa frente às infindáveis coisas que você já leva dentro da bolsa. Além disso, digo – e isso é o que mais a tranqüiliza –  eles não param as loiras.

Nas propagandas, uma cerveja chama para a libertinagem (usando uma mulher, naturalmente), e logo em seguida recomenda “beba com moderação”. De fato, é coisa difícil de entender a adoção de regras para o que é devasso. O licencioso não quer saber de regras. Faz o que lhe vem à cabeça e não se envergonha de fazê-lo, ao contrário, até se  orgulha.

O controle traz segurança, dizem quase todos. É importante prevenir, dizem todos. É importante a ação da polícia, dizem todos.
E afinal, o que é uma blitz perto de um estupro? A diferença é que não há multa para estupro.  E o estuprador pode dirigir até mesmo uma van, sem ninguém que lhe recomende moderação, sem ninguém que lhe peça documentação. Sem que ninguém saiba (ou acredite) no que ele está fazendo agora ou fará dentro de 15 minutos.  

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7 de abril de 2013

CIDADE CAÍDA

Muitas vezes comecei esse texto. Não porque alguém precise dele. Todos estão já atribulados com seus pensares, mas porque eu preciso escrevê-lo para tirar de mim esse peso nos ombros, esse terror. Nem consigo me recuperar do último assombro, logo outro explode na minha cara. Na televisão todos sorriem. E depois de nos dizerem que o mundo explode ainda ouvimos: vamos mudar de assunto, vamos falar de futebol. 
Não raro vemos que também no futebol tem havido mais violência, e ninguém conhece a mente dos jogadores de futebol, pelo menos ninguém conhecia a de Bruno, o goleiro.
Os estupradores da van. Que coisa mais terrível. E quantas vezes aconteceu? Muitas, ao que parece. A maioria das vítimas não comparece. E a vergonha se explica. Isso, meus amigos, é tortura. A tortura não é só o que aconteceu na ditadura. A tortura é hoje porque a ditadura ainda existe, só mudou de origem, multiplicou-se.
Fala-se em futuro, mas o Rio desaba. Se acompanharmos pelas fotografias as mudanças havidas na zona portuária veremos que é tudo cosmético. Atrás, subindo a Pedra do Sal, no entorno, será sempre como o Pelourinho. Pinta-se o que é bonitinho e vamos em frente até que alguma coisa aconteça. Aí a gente vê. Ali moram os de sempre: trabalhadores pobres, em casas que já foram ricas e não são mais; que cairão, como caíram as fortunas e as modas. Mas antes disso haverá despejos, sempre mais. Na madrugada, a polícia chegará com suas patas e acordará os miseráveis para que não possam pegar nada de seu, para que saiam em desespero, em pleno susto, para que percam, como perdem a cada investida, o que ainda têm de seu: a pele e um coração teimoso. 
Um dia é despejo, outro dia é incêndio, desabamento, acidentes - sempre a perplexidade e a pergunta:  como pôde acontecer? 

A ruína física do Rio influencia também os seus moradores. Não vejo ninguém rindo. O que vejo são pessoas tensas, apressadas, amedrontadas. Quem diz que adora o Rio só o faz se for pago pela televisão. Os que vivem o dia-a-dia do trabalho, do transporte, da lama, do perigo, esses não acham graça, e muitos deles já passaram por situações que acreditaram  que não eram reais, que iam passar. Mas não passam. E não passarão, enquanto durar a desigualdade e o desdém de quem a administra. O que fica e aumenta é uma lista de medos acumulados por motivos diversos, e muitas vezes novos, engendrados por mentes perversas, que de humano não têm mais nem a forma.
A cidade se transforma para a Copa. Ainda bem que os desportistas não vão ao teatro ou ao cinema no centro do Rio aos fins de semana. Se forem, encontrarão um cinema sem banheiro porque o empresário que explora o restaurante do Odeon fecha os banheiros aos fins de semana porque o restaurante não funciona. Aliás, nada funciona no centro da cidade nos fins de semana. Se forem ao teatro da Caixa, sairão de um espaço grandioso (embora também deficiente em coisas primárias) para encontrar a rua imunda, cheirando a mijo, habitada pelas sombras em que se tornaram aqueles para quem nada sobrou. Nesses dias a cidade é deles, como eles: abandonada, com um cheiro amargo de pobreza e desdém. A cidade ideal para uma população de sobras que a cidade cuspiu.

Para tudo, e para tanto, o poema de Judith Herzberg

Força de vontade 


Força de vontade. Coragem. Perseverança.

Quantas vezes prometemos a nós próprios,
até ficarmos ridículos, profundamente ridículos
até sentirmos o remorso cobrir-nos de suores frios
e as unhas crescerem para dentro da carne
e o eu dentro de nós transformar-se num novelo,
tentando em vão enganar-nos.

Quando afinal à nossa volta nenhuma

força de vontade, nenhuma perseverança
faz brotar os jacintos de dentro dos bulbos,
a cabeça repousar na almofada
o corpo abandonar-se à dor
se tiver de ser. Espera, talvez passe.
Força de vontade, coragem, perseverança, coitadas.


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