1 de janeiro de 2017

Adeus 2016

2016 - deste não esqueceremos. Foi um terrível ano de frustrações e indignação com o golpe organizado. Vimos coisas e ouvimos outras que jamais pensaríamos. Assistimos as ofensas contra Dilma Roussef, sempre mais violentas porque se trata de uma mulher e o País é essencialmente machista e controlador. Acordamos em sobressalto, dormimos inquietos com os próximos desmandos, do qual participam juízes e Rede Globo. Depois de tudo ainda veio o pior - as medidas de um governo ilegítimo. desmontando o que diz respeito à educação, à cultura e ao trabalho, a que as Cortes assistem indiferentes e desdenhosas.
Tornamo-nos beligerantes orais e escritos. Rompemos relações, na maioria das vezes não por discordar ideologicamente, mas porque a informação é falha, é falsa, é pura farsa da mídia oficial.
O que nos pode salvar? A poesia, apenas.
Deixo-lhes aqui, amigos, o sonho do poema de Murilo Mendes, que eu já não sou capaz de sonhar mas que é, apesar de tudo, o
OFÍCIO HUMANO
(Murilo Mendes)
As harpas da manhã vibram suaves e róseas.
O poeta abre seu arquivo - o mundo -
E vai retirando dele alegria e sofrimento
Para que todas as coisas passando pelo seu coração
Sejam reajustadas na unidade.
É preciso reunir o dia e a noite.
Sentar-se à mesa da terra com o homem divino e o criminoso.
É preciso desdobrar a poesia em planos múltiplos
E casar a branca flauta da ternura aos vermelhos clarins do sangue.
Esperemos na angústia e no tremor o fim dos tempos,
Quando os homens se fundirem numa única família,
Quando se separar de novo a luz das trevas
E o Cristo Jesus vier sobre a nuvem,
Arrastando por um cordel a antiga Serpente vencida.