29 de maio de 2017

A CHACINA DO PARÁ (mais uma)

Estou aqui pensando na chacina do Pará. Não há nada que eu possa pensar mais do que na chacina do Pará.
A autoridade do Estado mata ou deixa matar. Mendigos, viciados, ladrões, índios, negros e assentados. Para ela não há diferença. São destinados a morrer porque são pobres. E como o capitalismo cria muitos pobres, que mal faz em morrerem uns, de vez em quando? Ninguém vai dar pela falta.
A chacina é um dos recursos fortes do poder do Estado autoritário porque desperta de imediato nossa indignação e, logo depois, nossa impotência.
É um jeito de fazer a gente acreditar que, de fato, a justiça não existe.

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5 de maio de 2017

OS QUERERES
Bom, há um assunto paradoxalmente polêmico: a legalização das drogas.
O paradoxo é que não existe razão para polêmica. Todos não somos por uma sociedade segura, pela paz, idealmente falando? Não queremos que acabem as guerras diárias nas favelas e periferias de todo o Brasil? Não queremos que as crianças vão e voltem da escola com segurança e os acidentes sejam apenas aqueles de menino caindo da laje porque está sonhando nas asas de uma pipa?
Não queremos, por acaso, que se acabe a sedução do tráfico sobre os meninos iludidos? Não queremos deter a corrupção na polícia?
Não queremos que a polícia pare de invadir casas e intimidar as pessoas?
Não queremos revisar as prisões de 130.000 pessoas, na maioria negras e pobres, porque portavam pequenas quantidades ou tiveram o flagrante forjado?
Não queremos que o Brasil cresça economicamente, e para isso use o grande potencial (terra e clima) para concorrer com a matriz?
Se até a Albânia - a Albânia !- criou emprego e renda com a maconha por que, ó Deus, não aprovamos a legalização das drogas?
Não queremos o pleno exercício dos direitos individuais?
Fico cismando. Mas não muito. A beleza do Brasil gerou seu
ônus: sofre de provincianismo crônico.