31 de março de 2015

"SEGURANÇA PÚBLICA É UM PACIENTE EM ESTADO FEBRIL "


O autor do diagnóstico é o Secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Maria Beltrame.
A declaração foi feita a partir dos últimos episódios em que a polícia mostra que está perdendo espaço em favelas ditas pacificadas. A política equivocada, depois de uma certa histeria, já mostra sinais da doença.
A obsessão não o deixa ver claramente a realidade. E a realidade é que chefia uma secretaria que inclui a polícia, há tanto tempo viciada em maus tratos e corrupção.
Penso que deve ser mesmo difícil ter pensamentos claros quando se atua no lado escuro da sociedade. Imagino as emanações entre esses indivíduos covardes que saem por aí às vezes para matar jovens pobres, principalmente negros.
O pretexto é a guerra às drogas. Mas isso, já se sabe, é armação. O objetivo é manter a guerra para poder matar os negros, quase todos pobres.
Imaginem se de repente, como aconteceu com a Lei Seca, nos Estados Unidos, a proibição às drogas fosse abolida, como foi. Que vexame! Mas aquilo foi em 1933! E o modelo é o mesmo?
Aqui é um pouco pior, porque com a desculpa da guerra às drogas (que mesmo os estados norte-americanos já abrandaram) a polícia continua matando quem estiver pela frente, porque não respeita ninguém que não tiver a autoridade que ela tem, uma autoridade armada; porque não respeita o morador.
Agora, conforme o previsto, a polícia está acuada. Não demorou e as quadrilhas se organizaram mais, armaram-se ainda mais, ousam ainda mais. E o inferno voltou às favelas.
Desde que existe mundo o homem quis alguma coisa mais por meio de substâncias diversas. É assim e pronto. É uma escolha que cada um faz. Isso é motivo para o massacre? Ou não é o caso de legalizar?
Mas se legalizar, como é que vão matar, invadir, humilhar a gente pobre, o público-alvo da política de eliminação?
É importante manter o pretexto, a desculpa, a mentira. E sobretudo, os lucros, as propinas, as intimidações.
E agora ainda vem a Bancada da bala (nunca pensei em ver isso) trabalhando pela redução da maioridade penal.  Cada vez mais jovens morrerão ou irão para as galés - onde sempre estiveram.

Diferente do Secretário, penso que a Secretaria de Segurança é um paciente terminal.

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29 de março de 2015

VOLUME VIVO


Sempre vi o golfe como um jogo para ociosos. Posso estar errada. E ociosos são os desempregados e os ricos. Como nunca se vê desempregados jogando golfe, suponho que seja mesmo para os ricos. (Até que deixem de sê-lo, do jeito que as coisas estão).

Os dominantes sempre ficam muito tempo sem ter o que fazer. Precisam se distrair. Já nosotros não podemos nem cantar o refrão da música no banho.
Nos campos de golfe são feitos grandes negócios, que também causam buracos.
A foto é do parcão do prefeito, para que venham ao Brasil nas Olimpíadas os maxi-ricos, que são os que interessam, tendo em vista o alto potencial do turismo de golfe brasileiro, que ficará mais evidente com o retorno do golfe às Olimpíadas em 2016, no Rio de Janeiro.
Lá atrás aparece uma cidade. Uma fatia da cidade, como um bolo mal repartido.
Falta água, mas que importa, se a grana está verde?
Grana? Desculpem, eu queria dizer grama. 
Bom domingo para todos

14 de março de 2015

EU SOU GARI

greve dos garis rio de janeiroEU SOU GARI

Do que eu me lembro, comida era para comer e o resto era para as galinhas. A carne era embrulhada em jornal e o pão vinha num saco de papel.
Hoje as galinhas não precisam mais de comida porque também não são mais as galinhas que eram e a gente nem tem mais quintal e muito menos galinheiro. Além disso, os jornais também estão contaminados e os sacos de papel custam os olhos da cara em lojas de embalagens.
Nada era descartável. Nem a palavra existia. A ordem era guardar. Sempre havia como aproveitar. E é claro que havia oficinas de consertos que consertavam mil vezes o mesmo aparelho.
E então chegou a palavra: descartável. E as embalagens, indestrutíveis.
Fomos inapelavelmente invadidos pelas embalagens em nome da higiene. 
Até para tomar um côco tem que ser na garrafinha de plástico, para gelar. E lá vem o canudo com envelope. E tudo para o mesmo lixo.
Faço compras na feira. Um abacaxi descascado vem envolto num plástico dentro de uma sacola de plástico.
No supermercado: frios em bandejas de isopor cobertos por plásticos. Para doces, dois docinhos só, uma caixa (com tampa, de plástico) Se você quiser comprar uma salada pronta, ela vem até com bandeja (descartável) para comer na cama.
Li recentemente que nos restaurantes, até mesmo os pratos (os talheres já são) terão que receber invólucros de plástico.
Se você resolve comprar um equipamento eletrônico ou eletrodoméstico levará dois séculos para se livrar da caixa de papelão, do isopor, do plástico bolha, da fita colante. Mas você pensa que é só botar na lixeira e tudo está bem. O problema não é mais seu.  
Toda essa sujeira foi inventada para resguardar a sua saúde, amigos. Para livrá-los das bactérias, dos vírus, dos coliformes fecais e outros resíduos – enfrentados diariamente por quem? Pelo gari. Aquele mesmo, que passa correndo, suando, sentindo o cheiro infecto da sua comida, do seu cocô, ouvindo buzinas e desaforos de pessoas que “precisam” chegar em casa para fazer mais lixo.
Onde foi que tudo isso começou? Porque esse deslumbramento com o lixo plástico? Coisa de subdesenvolvidos. A gente vira e mexe e dá sempre nesse lugar-comum. Emergentes, só se conseguirmos romper a camada de plástico e metais que infestam lagoas e mares.
A única coisa certa é que foi tudo uma armadilha.
Os garis estão em greve no Rio de Janeiro. Mas nem por isso as pessoas deixarão de consumir o “seu” iogurte, a “sua” água com gás, “o seu” refrigerante favorito. Brasileiro não junta uma coisa com a outra.
E francamente: Alguém precisa se desfazer da tampa do vaso sanitário, daquela poltrona velha ou do entulho da obra no banheiro justamente quando os garis estão em greve? Isso é sujeira.
A coisa mais importante dos últimos tempos foi a invenção de uma máquina, por um japonês, que converte plástico em petróleo, resolvendo dois problemas de uma só vez.
Muita gente fala até hoje em como o Japão conseguiu recuperar as cidades bombardeadas na guerra. Verdade que recebeu uma montanha de dinheiro. Mas e daí? Não fosse o povo empenhado na ação coletiva, nada teria acontecido.
Mas aqui é o Brasil, um país que cultua o lixo. E esquece o lixeiro.

11 de março de 2015

A ESTÁTUA DOS BRANCOS

Juro que não acreditei quando recebi a informação de que Eduardo Paes teria feito ou já fez uma estátua para o brasileiro morto por condenação de tráfico na Indonésia. Mas procurei na Internet e lá estava: outros blogs publicavam.
Como é que numa cidade onde a polícia mata tanto (e agora também morre) por conta (em termos) do tráfico de drogas, como é que ele vai fazer uma estátua para o traficante? Desportista, é verdade, mas traficante.
E onde estão as estatuazinhas devidas aos milhares de surfistas da vida, que estão nas cadeias brasileiras, o que equivale a dizer nas galés? Onde estão as estátuas para os cultivadores de maconha, que se negam a participar do tráfico e querem exercer um direito inquestionável, que diz respeito à sua vida privada, assim como uns comem biscoitos?
Aí tem coisa. Como sempre.

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