31 de maio de 2018

SOCORRO, URUGUAY!


SOCORRO, URUGUAY





SOCORRO, URUGUAY


Para quem não sabe, há muitos anos um uruguaio mantém uma barraca na praia de Ipanema.
Hoje, ao chegar à praia, vi tremular, não muito longe, a azul e branca.
Me deu um aperto no peito, engoli em seco, mas os olhos teimaram em chorar e eu me entreguei. Sol a pino, mar azul, e eu ali chorando porque a gente não é como eles, e nunca será.
Tive vontade de andar até lá e cumprimentar o uruguaio. Talvez num aperto de mão viesse uma centelha que acordasse o Brasil.
Depois pensei: Não. Não vou lá revelar nossa vergonha. Não vou lá reconhecer que o Brasil está de joelhos enquanto o vizinho faz tremular, na nossa praia, orgulhosa, a bandeira celeste da democracia.

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19 de maio de 2018

MARCHA DE SAMPA - 10 ANOS DE LUTA

No sábado, 26, é o dia da Marcha da Maconha de São Paulo, fechando maio. São 10 anos daquela que é hoje a maior Marcha do Brasil. 
Um sonho assumido conscientemente é assim: cresce e se espalha como fumaça. E não importa se é ilegal. Importa se é justo. E a liberdade individual é algo justo, a ser protegida pelo Estado.
Mas o que faz o Estado? 
Por isso faz-se necessária a legalização das drogas. Quem não quer a paz?
A paz não é proibicionista nem armada. A paz é fraternal e compassiva.
Algumas pessoas não querem nem ouvir falar nisso, mas fatalmente, e cada vez mais, a proibição das drogas atua no dia-a-dia da cidade e no recrudescimento da violência, de que tanto se queixam.
Sei que muita a gente é contra, por isso e por aquilo, mas se trata de um preconceito tão grande quanto o racial ou de falta de "nobreza de sangue", aproveitando o casamento quase real. Quem quiser de fato saber sobre o assunto sabe onde buscar.
De qualquer forma, sejam contra ou a favor, isso em nada me afasta da causa. A causa é alguma coisa que se põe à frente, como estrada a seguir, aprovada por corpo, mente e espírito. 

Não contarei agora o que devo à maconha, na saúde e na doença, nos bons e melhores momentos, no entendimento do outro e na realidade da marginalização, da vida em dois mundos. Preparo, isso sim, um livro com as crônicas que escrevi desde o início do blog www.integradaemarginal.blogspot.com.br, em 2009, defendendo a legalização, abominando a repressão, as mortes e as prisões desenfreadas. Imagino que de tudo que escrevi, cerca de 300 textos, 20% é sobre isso. 
Este livro marcará meus 50 anos de usuária.

Era maio de 1969, e o Rio de Janeiro era outro. A polícia estava focada em matar subversivos da ditadura. Ignorava outros tipos de subversão.
Aqueles mortos ainda existem, e a eles se juntaram outros, e os fantasmas de uns e outros. Mas sempre há a juventude, que vibra com palavras de ordem pela liberdade, com humor satírico e criatividade. Os jovens estão apoiados por seus camaradas. Comungam das mesmas idéias. E lutam juntos. É a força do coletivo que os impele para a frente. Outros virão. 
São Paulo prepara os 10 anos.
Eu, aos 71, preparo os 50.
Todos ao vão do Masp, no sábado, pelo fim da fracassada guerra às drogas.



4 de maio de 2018

AMANHÃ SERÁ OUTRO DIA






AMANHÃ SERÁ OUTRO DIA 

MARCHA DA MACONHA 2018

Já não sei há quantos anos escrevo pela legalização das drogas. Não só da maconha, mas de todas, em situação de igualdade com as lícitas. Já nem sei há quantos anos espero isso, e pensei que morreria sem ver, principalmente agora, quando estamos vivendo um tempo de retrocesso e obscurantismo.
Mas não. O movimento da sociedade é muito mais rápido que o da lei. A lei demora. A Justiça mais ainda. E enquanto isso vão acontecendo coisas, como a aceitação da maconha como fonte de economia de muitos países, a aceitação de que ela é também um remédio, a aceitação de que ela é uma companhia e de que promove a fraternidade entre pessoas e povos. Há um tácito entendimento entre os que seguem a seita da paz.
Então, por que a guerra?
A guerra é porque somos atrasados e subservientes. E não nos importamos de espalhar a morte e o medo pela cidade.
Morrem traficantes. Morrem policiais. Morrem crianças. (Leio, horrorizada, sobre o projeto de blindagem das escolas municipais) Afinal, guerra é para matar e morrer. Por que seguir com essa política fraticida?

Foi Galeano quem disse, se me lembro, respondendo a uma pergunta sobre para que serviam as utopias: "As utopias servem para caminhar".
Caminhemos, pois, de mãos dadas, para acabar de uma vez por todas com esse flagelo que é a tal "guerra às drogas", na qual só existem vencidos.