20 de junho de 2012

ECA !


Pois a minha impressão dessa Rio + 20 é a mesma da Eco-92. Nada. Só conversa. Tanto é que das decisões tomadas naquela época menos de 0,1 aconteceu. Quem afirma é um diretor do Greenpace. Enfim, ninguém tem interesse em mudar nada. Já ficou tudo para 2014, 2020 e até mais, se lá chegarmos.
Arma-se o show para que a maioria acredite. 
Diminuir a emissão de gases. Mas isso é impossível com a fabricação de carros. Mas não podemos deixar de fabricar carros. Ah, bom, então não se fala mais nisso.
Enquanto os chefes discutem e negociam, dormindo em luxuosos hotéis e com trânsito liberado, o povo arrisca a vida todos os dias no transporte público, nas portas dos hospitais, nos guichês dos tomadores.
Talvez fosse melhor - se os participantes das comitivas tivessem realmente interesse - que chegassem no aeroporto e brigassem pela tarifa séria nos táxis, depois entrassem no ônibus, no metrô ou nas barcas para ver como é o transporte. Não se deixassem levar para os programinhas modernos, tais como visitações a favelas bonitinhas e “apaziguadas” pela repressão. Favelas – a representação máxima da injusta e interminável má distribuição de renda.
Talvez se o estrangeiro visse tudo isso, não voltaria tão contente por ter feito apenas tentativas e turismo. O resultado foi zero, mas o preço, os cariocas fatalmente pagarão. 
Se eu chegasse numa cidade e visse o aparato bélico voltado contra os cidadãos eu também temeria pela minha segurança. Se eu soubesse o que falta de esgoto, de água, de segurança nas zonas pobres da cidade, que crescem sem parar, e visse o tamanho dos lixões, eu saberia que estava, de fato, num país subdesenvolvido.
E que não será o futebol, o pagode ou a tecnologia que nos tirará dessa condição. 

PS. Emergiu, de tudo isso, um grupo de cientistas que diz que o homem não é o predador. Que essas mudanças climáticas acontecem ciclicamente. Só faltava essa. Agora mesmo é que neguinho vai sujar geral.
Despeço-me, nesse inverno anunciado e que graças a Deus nunca se cumpre no Rio de Janeiro, com uma imagem da Bahia, que ninguém é de ferro, e com esses 

Três poemetos sustentáveis


De tudo o que se polui atualmente
a mentira
fica pra semente


Praia deserta
os piratas no entanto estão ali – eu sei
querem só petróleo
e agem dentro da lei


A Petrobras perfura
A Vale explode e fura
A Monsanto – desventura
A Maconha cura

......


6 de junho de 2012

NAS ALTURAS


Trazia ainda o silêncio do mar esmeralda, a praia deserta e as noites de onde despencavam estrelas. Abri os olhos. Estava no céu. Quisera estar, enquanto olhava da janela do avião as nuvenzinhas brincando como ovelhas novas. Mas daí a pouco não estavam mais. Era o chão, o aeroporto, as malas, e logo os carros em sua confusa ordenação. Vinham nítidos na memória da alma os brilhos lunares e o grito das caturritas. Era novamente eu, carregando o tempo nos ombros, o peso dos acontecimentos, a certeza de que nada houvera de novo, de espantoso. Mas não. Sempre há uma promessa. Dessa vez tinha um nome absoluto: Contos completos, de Sérgio Faraco, autor gaúcho, tradutor de Idea Vilariño e que me reportou a outro, João Simões Lopes Neto, registrando a vida e a linguagem da gente miúda do Rio Grande, do gaúcho sem nome, que morria sem que se soubesse a causa, de tiro ou de febre, sempre escravo do latifúndio, das oligarquias e da lei, como os pobres de Saramago em Levantado do chão ou os negros de Paulo Lins em Desde que o samba é samba.

O que posso dizer é que lá em cima, longe dos pagos que irmanavam Rio Grande e a banda oriental pude sentir de novo a maravilha de ser tomada pela emoção do texto impecável, do tema sagrado, da grandeza que é a vida de cada um e que o artista pode reinventar e transformar em verdade. Chorava, no avião, primeiro lágrimas rasas, mas depois deixei que saltassem e me abandonei o que pude, o que necessitava, cheia de compaixão e amor pelo que um dia fomos e se chamava humanidade.


...
... 

O ESPÍRITO DA COISA


Depois de participar da Marcha da Maconha em Recife e em seguida da de Juiz de Fora, que estavam na lista das 37 cidades organizadas para realizá-las, eis que volto para casa e sou surpreendida com a notícia que segue abaixo, e que nem todos leram. Pensei que era algo a ser comemorado, embora dois dias depois a coluna do Ancelmo, no Globo, tenha dito que não passa de jeito nenhum, por conta das bancadas católica, evangélica e da saúde. Não há entusiasmo que se mantenha.
Mas enfim, eis a notícia.  
A comissão de juristas que discute a reforma do Código Penal no Senado aprovou nesta segunda feira, dia 28 de maio incluir na lista de sugestões que será enviada ao Congresso a descriminalização do plantio, da compra e do porte de qualquer tipo de droga para uso próprio.
As propostas da comissão, consolidadas, devem ser encaminhadas até o final de junho. Apenas após votação nas duas Casas as sugestões viram lei.
Hoje, o consumo de drogas já não é crime, mas é muito raro que alguém faça isso sem também praticar uma das outras condutas criminalizadas: cultivar, comprar, portar ou manter a droga em depósito.
A autora da proposta, a defensora pública Juliana Belloque, afirmou que se baseou na tendência mundial de descriminalização do uso e na necessidade de diminuir o número de prisões equivocadas de usuários pelo crime de tráfico.
Ela citou reportagem publicada pela Folha que apontou um crescimento desproporcional do aprisionamento de acusados de tráfico desde 2006, quando entrou em vigor a atual lei de drogas: enquanto as taxas de presos por outros crimes cresceram entre 30% e 35%, o número de punidos por tráfico aumentou 110%. A alta se explica, de acordo com especialistas, pela confusão entre usuário e traficante.
A comissão aprovou uma exceção em que o uso de drogas será crime: quando ele ocorrer na presença de crianças ou adolescentes ou nas proximidades de escolas e outros locais com concentração de crianças e adolescentes.
Nesse caso, as penas seriam aquelas aplicadas atualmente ao uso comum: advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade e o comparecimento obrigatório a programa ou curso educativo.
Para diferenciar o usuário do traficante, os juristas estabeleceram a quantidade máxima de droga a ser encontrada com o acusado: o equivalente a cinco dias de uso. Como a quantidade média diária varia conforme a droga, o texto estabelece que serão utilizadas as definições da Anvisa.
A comissão também aprovou a diminuição da pena máxima para o preso por tráfico. Hoje são cinco a 15 anos de prisão e a proposta estabelece cinco a 10.
Dos nove juristas presentes de um total de 15 da comissão, apenas o relator, o procurador da República Luiz Carlos Gonçalves, votou contra a descriminalização.
Para ele, o fato de o usuário não ser punido acabará estimulando que ele seja considerado pela polícia e pela Justiça um traficante, o que aumentaria o encarceramento - exatamente o efeito contrário que a comissão pretende atingir.


A Cannabis Sativa é uma planta
Com a força divina e natural!
Quem conhece o valor do seu astral
Diz que ela, na terra, é quase santa.
Todo dia meu corpo se levanta.
Faz um pouco de tudo que é preciso,
Bota um grau de saber no meu juízo
Que é pra ver se a matéria se orienta
Do contrário a cabeça não agüenta
A belota é quem faz o improviso.


(Luiz Homero, na epígrafe do Cordel de Greg Marinho - Manifesto pela pela Descriminalização e Legalização da Maconha)

As marchas aconteceram antes disso, e tanto a de Recife como a de Juiz de Fora careceram principalmente de divulgação a partir do problema de sempre: falta de dinheiro. Mesmo assim, os organizadores se desdobram e a coisa acaba acontecendo. O jornal diz que havia duas mil pessoas. 
Em Recife, não entendi porque ela foi organizada para se realizar no centro, num domingo de sol, quando todo o mundo vai à praia. Evidentemente, não tinha ninguém a quem convencer, convidar, informar. Todo o mundo que foi já sabia que queria e porque queria a legalização.
"A marcha da maconha (conforme o Jornal do Commercio) reuniu a juventude pernambucana em defesa da legalização e descriminalização do uso da droga". De fato, quase a totalidade dos participantes eram jovens, e os adultos continuam a pensar que isso é coisa de jovens. Fumam em suas casas, mas não abraçam a causa. Ainda não entenderam que se trata de uma luta por direitos individuais, contra a repressão e a corrupção. Ou então foram tomados por um mal que se alastra: o desânimo. Os jovens são presa mais fácil da polícia, passam por cada uma que ninguém imagina, e muitas vezes são presos por quase nada.

Em Juiz de Fora aconteceu algo estranho: A concentração, no Parque Halfeld, marcada para as 11h, saiu bem mais tarde. Demorou a juntar gente. Várias pessoas falaram a respeito, e houve até quem levasse o recado de um professor de Direito (que não foi) a favor da legalização. A estranheza ficou por conta da união entre maconheiros e vadias - acreditando-se que unindo-se os grupos a manifestação alcançaria maior repercussão. Não sei se para o bem ou para o mal, uma vez que os usuários lutam para se livrar do estigma da vadiagem. Enfim, conceitos. Lá estavam as moças vadias pedindo respeito e segurança à polícia. Pelo menos nisso há coincidência.
Quando finalmente saiu, a marcha reunia grande número de pessoas, não sei se chegavam a mil, mas estava bastante animada. Depois de dois quarteiros, se desvaneceu como num sonho. O sonho da legalização. Mas para que servem as utopias? Para caminhar. E seria bom que se mudasse o nome de Marcha para Caminhada. A marcha traz o espírito da guerra, enquanto a caminhada pressupõe paz e fraternidade. 



p.s. falando nisso, é bom informar que a polícia se portou muito bem. e até onde sei, só no Rio é que mostrou a sua verdadeira cara.






......

5 de junho de 2012

BRASIL X ALEMANHA

O título é só chamariz, nessa época de síndrome da Copa. Mas não é de todo enganoso.
A ultima postagem foi no dia 6 de maio. Muitas coisas aconteceram e não registrei. Acho que é porque tudo se atropela e eu já não acompanho mais. São tantas coisas que não organizo o pensamento. Mas registrar é preciso. Daqui a pouco a coisa vai.
Hoje em dia faço poucas coisas que mesmo assim para mim são muitas. Sou mulher, moro sozinha e - oh, o terrível agravante: velha. Vivo em perigo absoluto.
Mas não parei de pensar.
Por exemplo: Ronaldinho lá se foi para o Atlético deixando o Flamengo de boca aberta. Está programado para ser vendido, mas lutando até o fim pelos seus tostões. O irmão vende, ele vai. A prática não é nova. Já se fosse o Tostão, era outra coisa.  Pobre Ronaldinho! O que mais ele aprendeu? O resto é pagode.

Mais uma: Reunião do Comitê Olímpico no Sofitel, em Copacabana - alta cúpula. Arthur Nuzmann (cadeira cativa) Márcio Fortes, ministro (de passagem) Regis Fichter (em ascensão). E o prefeito? Satisfeito. Até o Beltrame está satisfeito. Vá entender! O esporte nos salvará.

Thor, o herói, também merece registro: Olhem bem para ele e verão: é oco. Pobre Eike, nem todo o dinheiro do mundo é capaz de preencher o rapazinho.

Propaganda eleitoral: Zito diz que no tempo em que pertenceu a outro partido foi tratado com todo o respeito. Agora está feliz no PP, junto com a Presidenta Dilma.
Alegrem-se brasileiros! Zito - o terror da baixada, está feliz. Outro que está feliz é o Francisco Dornelles.  Morreu? Como assim? Aquilo não morre. Aquilo é ruim de morrer.
As Universidades estão em greve. Uma menina foi estuprada dentro da escola.
Eu vi o Brasil na tevê.

Agora, há outras coisas, como Ulla Hahn, poeta alemã em versão de João Barrento para o português de  Portugal, que  me chegou pelas boas mãos do poeta e editor Joaquím Antonio Emídio.
E é o que vale.

Um jeito


Em silêncio
te vestiste
em silêncio uma vez mais
ternamente mentiste

Em silêncio
fechaste o portão
em silêncio a-
jeitaste o coração.









Homeopatia

cobriste-me de nudez o
corpo nu quando tive frio
envolveste-me em
frieza quando fiquei cansada
serviste-te do meu sono
Saciaste a minha fome
com fome  mataste com
sede a minha sede.
Quando o telefone toca
e ninguém diz nada
és tu do outro lado.

Fogo de alegria

Vinde todos é Páscoa sim
então tudo o que está podre
Saltam altas as faíscas
hereges insolentes anjos de luz

Saltério e harpa despertai
por nós atravessamos o fogo cada um
com a sua provisão de mortes

Vamos atiçar o cântico de louvor
enquanto vivermos estamos
condenados ao fogo ao
Juízo Final: todos os dias.
Agora.

...