25 de maio de 2016

STF - SUSPEITO TRIBUNAL FEDERAL


Delação premiada. Que triste figura jurídica! Eu sempre conheci por traição. No entanto, agora atingiu outro sentido. Uma "interpretação da lei" desses tempos de mentira.
Como é que se pode acreditar em quem entrega um parceiro, seja de que atividade for? Roubos, negócios, negociatas, segredos íntimos... Quem entrega é traidor e pronto. Não há motivo para que lhe seja dado crédito, a não ser que "interesse". É uma tática policial, quando não conseguem encontrar um culpado, arranjam alguém para "confessar".
Na delação premiada o delator é duas vezes covarde porque dedura e o faz em troca de um favor, o que faz dele um corrompido.
E quem oferece vantagem a um suspeito (preso ou não) por dedurar alguém é o quê?
Um corruptor, é claro.
E é assim que, dizem, vão acabar com a corrupção.

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O LADO BOM




Agora também caiu a minha ficha. Não recebo mais nada a favor do golpe. Somos, afinal, todos da mesma ideologia.
Somos todos harmonia.
Os equivocados foram se retirando devagar, postando foto de cachorrinho, voando para NY ou São João del Rey. Não acreditaram que a luta ia continuar. Não sabem de fato o que é luta popular, coisa que já os secundaristas sabem tão bem.
A solidariedade anônima das ruas na luta por causas comuns é que forja a cidadania, no encontro com o outro, na vivência das vitórias miúdas e das pesadas derrotas. Na chuva, no vento ou na vontade máxima de um simples café. Na alegria de um sanduíche amassado.
O ânimo do povo se agiganta, levanta bandeiras e sustenta faixas
em defesa do próprio poder. Assim é que se faz uma Nação.


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21 de maio de 2016

MULHER - Lenilde Freitas

Enquanto guincham as hienas, em algum lugar há uma voz resistente e sábia, de mulher, como esta que se ergue, de Lenilde Freitas, que nos representa.


 













Mulher 
Lenilde Freitas


Escolheram-me rainha
e com doçura de fada
puseram em minha cabeça
uma coroa   — enferrujada.
Depois, sentaram-me num trono
de dor. Daquela dor não dosada
— mas tudo quase com amor
e com doçura de fada.
Deram-me também um cetro
não dado — só emprestado;
vestiram-me então de preto.
E ao julgarem que me convinha —
deixaram-me  — ali  — sozinha —
rainha e soberana
de um mundo despovoado.
 

CANTO De ARRIBAÇÃO

Caros amigos,

Calma, o pior está sempre por acontecer. Mas não o tempo inteiro.
Também chega a vez do melhor, e o melhor aconteceu.
Estou falando de CANTO DE ARRIBAÇÃO, o livro de poemas de Rosa Ramos, nascida Rosane, poeta de primeira grandeza que a Editora da Palavra tem a honra de trazer a público.
O convite não pode ser formal, não deve ser formal porque o livro resulta de uma reunião de afetos e admirações entre poetas em reconhecimento do raro talento de Rosa Ramos, tantas vezes festejado. E isso não pode ser dito assim, como se fosse apenas um dever de ofício.
Somos todos contentes: a Autora - nossa unanimidade, Alexandre Guarnieri, que selecionou os poemas e criou a capa; Roberto Dutra Jr., que escreveu o texto da orelha, Igor Fagundes, que prefaciou; Clara Lúcia França, que diagramou, Vagner Esteves, que fez imprimir, Lena Brasil, Valéria Pereira e Luiza Viana, que estiveram junto.
A poesia de Rosa Ramos, que já circula na rede, acabou-se de imprimir, como dizem as gráficas.
Que grande acontecimento! O livro, essa moldura, saiu bonito como na criação, abre-alas do que há de maior e absoluto - a grande Poesia, que nos compreende, surpreende, desperta e excita.
Com o fascínio do milagre, temos na mão esse canto que ouviremos, privilegiados, enquanto viramos as páginas, maravilhados na direção do alto, voando ainda, depois, muito depois que tiver partido o último pássaro.




CANTO DE ARRIBAÇÃO

Rosa Ramos

Dia 13 de junho de 2016.
Restaurante Lamas
das 19h30min. às 22h. 
Rua Marques de Abrantes 18
Flamengo - RJ


15 de maio de 2016

DITADURAS

DITADURAS

A ditadura implantada em 1964 era linha dura, com soldados, armas, prisões, arbítrio, perseguições, tortura, morte e impunidade.

A nova ditadura é diferente. (Talvez porque ainda nova, em sendo velha)
Vem chegando com palavras bonitas, "pelo bem do País", buscando a "pacificação", mas o que traz é a destruição, o desmonte, o medo. O canetaço voltou ágil e seguro, com saudade da opressão. Os atores são conhecidos de velhas montagens. Todas elas fracassadas.

Acabou-se a fraca democracia. As leis, de tão usadas, prostituíram-se inexoravelmente. Qualquer um pode mudá-las ou "interpretá-las" a seu modo. Aqueles sisudos senhores da máxima corte de justiça entregaram-se às hienas. Como não identificar (e juntar-se) à própria espécie?

Os direitos de mulheres, negros, índios, GLTs, pobres e outras "minorias" são os primeiras a cair. Mas todos eles têm família, parentes e amigos. Cairão junto? Quem irá amparar quem?

Sem justiça, sem governo e sem alento, resta-nos a vergonha de saber que o mundo inteiro, perplexo, não sabe se ri ou chora por nós.
Eis que começa um outro ciclo. Não é novo. Apenas outro. De novo mesmo, não temos nada. Seguimos com o velho sonho de um mundo melhor, absolutamente possível.

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13 de maio de 2016

O MAR DA HISTÓRIA

E então, que quereis?...
Maiakovski

Fiz ranger as folhas de jornal

abrindo-lhes as pálpebras piscantes.

E logo

de cada fronteira distante

subiu um cheiro de pólvora

perseguindo-me até em casa.

Nestes últimos vinte anos

nada de novo há

no rugir das tempestades.

Não estamos alegres,

é certo,

mas também por que razão

haveríamos de ficar tristes?

O mar da história

é agitado.

As ameaças

e as guerras

havemos de atravessá-las,

rompê-las ao meio,

cortando-as

como uma quilha corta

as ondas.
(1927

... 

5 de maio de 2016

UMA OUTRA LUTA



A Marcha da Maconha vai acontecer no Rio de Janeiro no próximo sábado, dia 7 de maio, iniciando o movimento que tem se expandido a cada ano, com mais e mais cidades organizadas pela legalização. Mais uma vez, de novo, sempre, até que a sociedade entenda esse clamor de uma luta dentro de outra maior, em que se busca sempre a liberdade. É uma luta feroz porque diz respeito a direitos individuais e intereses particulares. E a gente sabe quem pode mais.

Não só no Rio de Janeiro ela acontecerá, a exemplo de outros anos porque o consumo está aumentando e não tem - não adianta - nada que o faça parar. Por que? Porque as pessoas querem.
E quando elas querem elas vão buscar.

A sociedade, no entanto, não entende que não se trata de liberar a esbórnia; de ceder aos caprichos de uma juventude drogadita. Isso é ilusão. De todos esses anos de luta o que temos:

1. A MACONHA NÃO FAZ MAL
2. A POLÍTICA CONTRA AS DROGAS FRACASSOU.
3. TODOS OS DIAS MORREM PESSOAS POR CONTA DA REPRESSÃO.

E no futuro, como será? Como diremos aos netos que se matava por causa de uma erva que era boa de fumar?
Como diremos que a guerra às drogas era apenas o pretexto para a perseguição dos pobres? Como diremos que a repressão é necessária para a indústria das armas? Como diremos que as cadeias eram as novas senzalas, perfeitamente legalizadas? Fomos assim, um dia, e não soubemos avaliar a tempo as possibilidades de uma  riqueza imensa, sem precisar perfurar?
Escrevo no passado na esperança de que um dia seja possível analisar a questão com realismo; que tanto as drogas como as pessoas possam sair da marginalidade em que vivem, já que atualmente todas as economias buscaram (e encontrram) soluções para uma coisa simples que se tornou problema justamente por causa da proibição.
A maconha existe até no nosso corpo. Não podemos negá-la.*
Este ano será um marco para a Marcha da Maconha. Um ano difícil, em que se vislumbra uma ameaça às idéias progressistas, que vinham caminhando a passo lento.
Mas os defensores da legalização estarão lá, de todas as idades, apoiando o movimento que cresceu com o tempo. Agora não é só da galera da zona sul, como se dizia. Agora chegam os jovens da periferia, das favelas, por pura afinidade, de contentamento por estarem juntos, e de serem cada vez mais, lutando contra o preconceito e a opressão.



*Um das constatações mais incríveis do sistema endocanabinóide é que parece ser conservado na coluna vertebral, e está presente na estrutura dos receptores e na sua função, também em invertebrados, o que implica, portanto, a sua participação em funções vitais em quase todos organismo






1 de maio de 2016

A PALAVRA COMO ARMA



Assisti, ontem, na TV Brasil, a entrevista de um detentor do Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Perez Esquivel.
Tendo vivido até hoje na defesa dos direitos humanos, Esquivel deu uma lição de história e resistência. Trata-se disse ele, de um golpe, mas de um golpe brando, sem os aparatos dos já concretizados pelo uso da força. A estratégia agora é outra. E não há dúvida de que chegará ao seu objetivo, pois para isso foi planejado e financiado.

Estarrecida ainda com a vergonhosa votação na Câmara dos Deputados, que nos revelou o que há de pior entre nós, entre demagogia e hipocrisia, em nome da nossa ainda débil democracia, agora apunhalada, eu me pergunto, como milhões, o que será de agora em diante.
O que virá agora? Não sabemos. O que sabemos é que uma sombra paira sobre o Brasil e é preciso afugentá-la e vislumbrar algum céu. Como será isso? Quem se ocupará disso?  E isso é gancho para um outro programa que assisti, no Canal Brasil, sobre a resistência política por meio de jornais. Um belo trabalho de pesquisa trouxe à tona as inúmeras publicações, que existiram desde antes da independência, que saíram em defesa dos direitos da população sempre oprimida e negligenciada. Muitos deles foram presos, tiveram suas redações quebradas, mas nunca desistiram. É na crise que se fortalecem os espíritos.

Não tivéssemos a internet, não tivéssemos os jornalistas que nos trazem o contraponto das verdades deformadas da mídia impressa, não teríamos um horizonte.
A importância da imprensa está justamente na possibilidade de assumir outra forma e seguir resistindo, seguir teimando, com tudo a declarar, nada a esconder, e principalmente não temendo.

As guerras mudam, as armas também. Mas a palavra sempre se oferece à coragem.