24 de fevereiro de 2015

O FIM DOS BLOGS

Alguém declarou o fim dos blogs. Não sei se acabarão. Para mim já são como um diário, às vezes sem registro, das coisas que estou vivendo, de como me sinto em relação a elas. Tento apenas organizar o pensamento. Mas o caso de outros blogs, de jornalistas famosos e conceituados, não sei. Não entendo porque a Presidente, que está tão necessitada, não convoca bons jornalistas para resistir aos ruídos (e golpes) do golpe.
Não estou gostando nem um pouco desses tempos. Mas já houve mudanças soturnas outras vezes. A história vai se repetindo com pequenos, pequeníssimos movimentos.
Que mais? Beltrame. Sempre ele. Reclamou que é tudo com a polícia. Que a lei não ajuda. Queixas. Será que agora, que estão morrendo tantos policiais, ele descobrirá que essa guerra é irreal?
A violência nasce nos quartéis, sai para as ruas e vai se formar na prisão.
Também nasce para quem não é polícia e segue pobre, na favela.
Favelado contra favelado, negro contra negro, pobre contra pobre.
É uma guerra, sim. Mas será contra as drogas?

12 de fevereiro de 2015

OS DEDOS-DUROS

Muito se fala em corrupção. No entanto, a ordem jurídica criou uma lei que chamou de "delação premiada". É com base nessa lei, que oferece não sei quê nem sei quanto aos delatores, que o sistema sai a campo fazendo o maior espalhafato e prendendo pessoas que tiveram seus nomes ligados, em algum momento, às atividades do delator, ou mesmo sem que isso tenha acontecido. Um delator pode inventar qualquer coisa que lhe peçam para garantir privilégios. Principalmente calúnias. Por que não? Já fez o acordo com a Lei, pode dizer qualquer coisa.
A lei, alegam os legisladores, é para facilitar a investigação de quadrilhas. Pode ser, mas também afeta de morte uma norma moral. A lealdade cai por terra. Cai também a noção de honra. E nessa queda levam na enxurrada a dignidade de homens e mulheres. Fica institucionalizado o "Roube, mas conte." Cada um faz a sua parte.
Em outros tempos muitas pessoas foram torturadas e morreram para não delatar os companheiros. A degeneração dos torturadores foi vista como "o cumprimento do dever".
A justiça não se fez, portanto, é era previsível que a corrupção aumentasse sem freio.
A criação da "delação premiada" é a aceitação social da deduragem. Os delatores são traidores não só de pessoas, mas de uma causa, seja ela por dinheiro ou poder. A delação premiada, a meu ver, incentiva a corrupção, ao invés de combatê-la efetivamente.
Mais uma vez, a estratégia está errada.

7 de fevereiro de 2015

CARTA À MÃE

Rio de Janeiro, 7 de fevereiro 2015.


Oi Mãe,
Esta carta é para te mandar notícias no dia em que completarias 100 anos. E se tivesses conhecido de perto o tal de facebook verias que tuas filhas e netos estavam ligadas no mesmo pensamento e na mesma saudade.
Aqui a vida anda e eu mesma, a caçula, já estou velha. Nós, as tuas filhas, que já posamos na linha de frente das fotografias de família, agora estamos na última, a de espera. Mas vamos, enfrentando as agruras da velhice e a carga de desequilíbrios que o corpo denuncia. Antes fossem só os do corpo. Mas já temos idade para reconhecer os momentos em que a felicidade, rápida, nos ilumina e nos dá combustível para ir além.
Agora não preciso mais medir a gravidade das coisas que te conto. E nem mentir.
Eu não queria, mãe, eu nem sabia mentir direito, mas aprendi. O clamor das ruas me seduzia, o cinema, o teatro, os passeios que nunca fiz com a escola. E eu chorava mãe, quase o dia inteiro enquanto as colegas iam a lugares que eu não veria mais, sem qualquer experiência de uma outra vida que não fosse estar protegida.
Tu dizias que o pai não deixava. Mas sabias, como eu soube depois, que era por ti que passavam aqueles nãos, que ele respeitosamente também obedecia.
Não incomoda o teu pai. E o teu reino, a casa, era dedicado a ele. Acho que nunca pensaste se estavas certa ou se poderias ter errado em algumas coisas. Na família não se discutia sobre educação de crianças como hoje. Era do jeito que cada mãe achava que era. Mas a curiosidade me chamava às ruas e eu não podia deixar de ir. Tu não querias. Mas o teu reino era a casa. Do que vinha de fora pouco sabias, com tantos encargos da casa e das filhas, com irretocável dedicação ao pai - amor sem medida.
Lembro que a gente ria porque tinhas ciúme das freiras que iam à nossa casa no dia do aniversário dele com as órfãs do Asilo N.Sra.da Conceição e lá cantavam loas ao seu diretor, modestamente envaidecido.
Lembro que nunca na vida eu vi um beijo, um abraço, um afago que não fosse apenas simbólico. O carinho era embutido nas comidas, nos doces, na casa impecável, na lealdade irrestrita, e principalmente poupando o pai de qualquer malfeito nosso, (ou eram apenas meus?) e esmagando qualquer tentativa de descobrir por mim mesma as coisas além da casa.
Eu dei trabalho, sim, mãe. Me perdoa. Mas sei que a minha rebeldia aumentou por conta da repressão Sei que era porque naquela época eu ainda não podia sair para lugar nenhum sem um adulto, enquanto as moças da minha idade já andavam na garupa das motos.
Ter ficado em casa por tanto tempo por conta de tantos nãos, no entanto, me levou aos livros. Ali encontrei o amor enjoadinho dos romances para moças, mas depois, com um tempo absoluto e disponível, alcancei outros níveis de qualidade e posso dizer que os livros me salvaram.

Foi sempre difícil a nossa convivência. Mas as mães (agora eu sei) fazem sempre o seu possível pensando fazer o seu melhor. Mas que melhor é esse? E para quem?

Sinto a tua falta, mãe, principalmente do teu humor ácido e da tua expressão sapeca de quem diz o que quer e espera os efeitos. Esse humor substituiu, com vantagem, o efeito ameaçador do teu olhar com que nos imobilizavas em crianças.
Não sei exatamente como sentem minhas irmãs. Só posso falar por mim. Mas me despeço para não chorar mais. Não sou tão durona como pensavam, e com a idade os sentimentos vão chegando com lágrimas. Não sei se é porque não estás mais, ou se porque eu também já quase morri.
Talvez porque seja carnaval, e meu coração esteja muito, mas muito perto de explodir na maior felicidade.
A melhor novidade deixei para o final: Corinha, que não conheceste neste mundo, fará seis anos em março e Gabriel é um pai dedicado. Ele e Gisa são adeptos da liberdade que vem do brinquedo e da arte, e por isso posso te dizer que é grande a alegria do Sim.
da tua filha integrada e marginal, embora cada vez mais
desintegrada

Helena