26 de janeiro de 2010

TUPAIA BELANGERI - o bicho da vez


Recebo num informativo do Grupo Otimismo - uma atuante ONG no campo da ajuda ao portador da Hepatite C - a notícia de que a ciência descobriu um bicho novo para pesquisar a progressão da doença e testar medicamentos.

A descoberta - dizem - aumenta a esperança de manter a vida em milhares de portadores do vírus HCV, o que já tem levado a pesquisas com os chipanzés. Mas os chipanzés, vocês sabem, são poucos. E grandes.

O bicho da vez é a tupaia. Eu nunca tinha ouvido falar, e vocês? Pois ela é uma espécie de esquilo, menor, que se alimenta de insetos. As tupaias não são lá muito maternais no sentido que se prefere incentivar, relativamente à dedicação. O ninho do filhote é separado é a fêmea vai lá só uma vez por dia e lhes dá um precioso leite que, por sua vez, serve por um dia. Fora isso, está fora. Também não limpa os filhotes nem os salva, se por acaso escapam do ninho. Esse procedimento "negligente" dá aos humanos uma justificativa para o sacrifício. Já que são tão mazinhas, as tupaias podem perfeitamente servir para salvar vidas humanas, porque os humanos também gostam principalmente de se manterem vivos, mas também de se acharem "justiceiros"

De tal forma que manter-se vivo é hoje o próprio sentido da vida.

Não tem chipanzé? Vai tupaia.

As doenças são outras, as descobertas também. A única coisa que não muda é o sacrifício dos mais fracos.


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18 de janeiro de 2010

FECHOU A PADARIA!



O choque de ordem inventado pela prefeitura do Rio já foi interpretado. Não se trata de uma série de ordens que visem estabelecer padrões ou até mesmo (ai, ai ,ai) leis. Trata-se apenas de divergência entre ordens. Uma daqui, outra de lá, uma hoje, outra amanhã. Inevitavelmente, chocam-se. É apenas isso. Depois, só o dilúvio. O Rio, como vocês sabem, está às moscas.
A foto de hoje é de um bairro do Rio. Bonito, histórico, bucólico, boêmio. Já quiseram até compará-lo a Montparnasse. Trata-se do bairro de Santa Teresa - coitado.
Santa Teresa de Ávila é a protetora do cinema, mas pelo visto só do cinema. O resto está ao Deus-dará, um pouco mais acentuado porque não se vê, está em cima.

E o que aconteceu agora não é pouco para o desassossego das famílias: fechou a padaria. A velha padaria das famílias. Cara, mal sortida, mas existia. Agora não há mais. E não adianta esticar suposições nos botequins. Aliás, também não existem mais botequins. Todos os restaurantes cobram pensando nos turistas. Mas isso é outra história. O certo é que a padaria fechou.
Uma padaria fechada significa muito mais do que mostra a foto. Significa que falta o pão; que o leite, o queijo ralado de última hora, o tomate que faltou - tudo isso, que é de fato a vida de cada um, acabou. E mais: os encontros dos vizinhos, dos namorados, dos bêbados - a padaria fazia a própria história.
Virá outra? Pode ser, mas e o sentimento? Chegar um dia à padaria e constatar: fechou. Por que? Decisão da Secretaria da Saúde? Falência? Ou terá sido a violência crescente que assustou o proprietário?
A verdade é que Santa Teresa agoniza. Assaltos, roubos, lixo espalhado nas ruas, mal-educados de todas as etnias, autoridades coniventes. Uma pena. E o símbolo disso é, exatamente, a padaria.
Agoniza mas não morre poderia ser o nome de um bloco de Carnaval, mas a foto do prédio, com as portas cerradas, sem ninguém nas imediações, já é de um fantasma.
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15 de janeiro de 2010

O CÉU DO PROJAC












Como vocês sabem, o Rio de Janeiro não é o mesmo. E não é que eu seja tão pessismista. Leia as seções de cartas nos jornais e achará mais adeptos da minha opinião.
Os sucessivos maus governos, o efeito estufa e a falta de educação têm comparecido como fatores decisivos para a mudança. Verdade que a cidade resiste, e quem nunca viu ainda acha que é a cidade mais linda do mundo. Mas é só impressão de turista.
Fotografei de longe o novo Rio, porque se fotografasse de perto vocês veriam a sujeira, os buracos, as infrações, o desrespeito em geral, fora as enchentes e problemas dos apagões que a cada dia se repetem. De longe, quando é mais estonteante o poder da natureza, a forma como se desenha a catástrofe para o que poderia ser apenas uma chuva boa, de verão.
Não acreditem, portanto, nas imagens feéricas da novela de Manoel Carlos. Aquilo não existe. Trata-se de artifício, efeito especial, mentira leve. O céu do Rio de Janeiro agora é assim, uma ameaça, que quase sempre se cumpre.

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A INVEJA DO PÊNIS

Antes mesmo que a imprensa divulgasse a conclusão de pesquisadores de que o ponto G não existe nem nunca existiu, já preparávamos a edição do panorama 69. Para nós, o ponto G não só existe como se desdobra em vários outros pontos, do corpo à poesia.
O 69 foi talvez o primeiro indício de que aquilo que somente as profissionais faziam poderia ser feito também por moças com pretensões mais casadoiras. Também o pompoarismo veio à baila e começaram a ser ministradas aulas, algumas nas bem aceitas sexshops, para as interessadas em ingressar na carreira, msmo que por objetivos dignos, quais sejam custear os estudos em universidades privadas (e se possível engravidar de um bacana), pagar uma cadeira de rodas para a mãe (para as mais culpadas) ou sustentar o irmãozinho caçula (configurada aí a tendência à maternidade). Isso posto, cai o ponto G, que surgiu talvez para preocupar as mulheres que já não tinham orgasmo; que depois ainda sofreram ao saber que existia o orgasmo múltiplo, e por fim não conseguiram descobrir (ou não tiveram quem descobrisse) o seu ponto G. Como se vê, tudo terrorismo sexual.
Agora está tudo bem. O ponto G existe (e grita) mas só para quem acredita, como outras coisas. Até a erudição ajudou na disseminação das práticas sexuais, e fala-se que alguns cursos interessantes de literatura dão lugar à procura de pares num outro sentido.
É possível que tais diversificações tenham sido amparadas por uma falta de vontade natural para o coito, uma vez que hoje em dia você pode ver tudo pela televisão, até tomando cerveja, sem se esforçar muito.

Mas a novidade é: acabou-se também a inveja do pênis, e as mulheres hoje acham linda a sua vagina e sabem muito bem que é ela que come. O pau é a comida.
Além disso, esteticamente, vamos combinar: não tem comparação possível. Fora o desconforto dos homens, que não sabem ajeitar as suas partes, e muitas vezes nem mesmo controlá-las. E ainda com esse calor.
Não perca, portanto, a edição 69 do panorama - tudo sobre o que move a espécie.
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5 de janeiro de 2010

LEITURAS E ENCANTAMENTOS



"Parece, portanto, que homens e mulheres falham igualmente. Parece que não conhecemos em absoluto uma opinião profunda, imparcial e absolutamente justa sobre nossos próximos. Ou somos homens, ou somos mulheres. Ou somos frios, ou somos sentimentais. Ou somos jovens, ou estamos envelhecendo.
Em qualquer caso, a vida não é senão uma procissão de sombras, e sabe Deus por que as abraçamos tão avidamente e as vemos partir com tal angústia, já que não passam de sombras." (Virginia Woolf)



O ano já é outro, 2010. Apagadas as luzes, voltamos ao que somos, e o texto de Virginia Woolf vem na medida para ilustrar.

A quem amamos, desejamos o bem, o bonito e o abraço. Quanto àqueles de quem não gostamos (ou que não gostam de nós), não estamos nem aí e até um risinho esboçamos de vez em quando no momento em que se transformam em pó, como aconteceu agora com o Cel. Erasmo Dias.
Fora isso, a natureza, que há tanto tempo maltratamos, se levanta contra nós. Acostumados às tragédias, logo nos aprumamos e pensamos: isso não acontecerá mais. E no entanto, acontece. Não serviu para nada.
Dessa forma vamos caminhando, tanto os sábios como os ignorantes, desacreditando em tudo que não seja a nossa própria pessoa, mesmo que nos enganemos reiteradamente justamente em relação a ela.
Não tenho, portanto, nenhuma mensagem de otimismo. Tenho apenas algumas sugestões de leituras, que muito me encantaram nos feriados compridos do fim do ano.
Pra começar, além da citada Virgínia Woolf em O quarto de Jacob, sugiro Caim, de José Saramago - imperdível;
Pra relaxar, Os Espiões, de Luís Fernando Veríssimo;
Para encantar, Os limites do impossível, de Aldyr Garcia Schlee;
Para pensar, os contos policiais selecionados por Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares;
Para lembrar, os contos de Horacio Quiroga.
Para conhecer, A minha alma é irmã de Deus, de Raimundo Carrero.
Para viajar, a Antologia poética de Izacyl Guimarães Ferreira.
Isso feito, agradeço à literatura, aos homens e mulheres que a criaram e àqueles que ainda têm paciência para ler blogs.
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