23 de setembro de 2010

PEQUENAS EMPRESAS GRANDES NEGÓCIOS


Como não voltar ao assunto que mais se destaca nos jornais? Não estou falando de eleições, mas da guerra às drogas. As eleições passam, a causa da legalização fica.

Pois bem, não posso deixar de refletir que pai e filho presos por plantarem maconha numa cobertura devem estar agora numa pior. No entanto, não fosse a hipocrisia da lei, convenhamos: que grande idéia: primeiro, estão plantando, o que já é ótimo (fazem o contrário da prefeitura, que cortou o que pôde de árvores no Morro da Catacumba); em segundo, produto de altíssima teor de pureza, pelo que se viu da literatura à disposição, da origem das sementes e dos instrumentos para o cultivo; terceiro, se chegassem a oferecer no mercado seria um produto com garantia de qualidade.

Não fosse a hipocrisia da lei, teríamos aí dois empreendedores. No entanto, lá estão eles enquadrados como criminosos, às voltas com a justiça que teima em não olhar para o futuro. Francamente, vocês acham que eles não ganhariam um prêmio do SEBRAE?
Tudo - absolutamente tudo - é uma questão de ponto de vista.


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22 de setembro de 2010

TRÁFICO & PROGRESS0

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias - pátria minha
Tão pobrinha!

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Vinicius de Moraes
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Escritas assim, acompanhadas, as palavras tráfico e progresso parecem incompatíveis. No entanto, também elas fizeram aliança. O combate ao tráfico de drogas traz progresso? Para alguém deve trazer, considerando-se progresso o enriquecimento rápido com consequências letais. Do contrário não seria tão contundente e a ele não seriam oferecidas tantas verbas.

No entanto, considerando progresso como a evolução da experiência humana, nos damos conta de quanto é prejudicado, uma vez que tem origem no preconceito e na força (armada) da autoridade.
Assim como o tráfico de influência, ao tráfico de drogas interessa, nos acertos ao pé do ouvido, os lucros e as comissões. Os danos são as vítimas sem nome. São negros, mulatos e brancos - todos pobres. Almas com frio, como escreve Dante Milano.
Saber o quanto falta esgoto no Brasil nos enche de vergonha. No entanto, na hora de votar, a televisão mostra os funcionários do governo levando as urnas em lanchas. para o eleitor semi-analfabeto, sem dentes e sem esgoto. E ele se sente importante. É o único dia em que ele importa.
Mesmo com as promessas de educação integral de Marina Silva; de saneamento básico, de Dilma ou de 13º para o Bolsa Família, de Serra, não nos iludamos. O combate ao preconceito não está em programa nenhum. E nós ainda estamos nesse pé.
O Brasil pagou a dívida com o FMI. Ninguém respeita um devedor - diz a candidata Dilma Roussef.
É o ponto de vista de quem só vê um tipo de conta.
Há outras contas de que somos credores e não cobramos. Por exemplo, as vítimas da política de combate às drogas, que acatamos, no melhor estilo norte-americano: homicida. Porque combater as drogas significa matar, sistematicamente, os moradores das periferias das grandes cidades, e de quebra quem estiver passando por perto. Mas os pobres são os preferidos. São tantos! E não fazem renda. Dão trabalho. É preciso educá-los e dar-lhes emprego? Mas eles são tantos! Mal sabem digitar uma senha.
O Brasil mudou, é certo. As estradas estão melhores, a comunicação digital é uma mania, a Petrobras é um sucesso? Isso não é progresso.
Progresso é caminhar com soberania, garantindo a cada um a liberdade que já é de cada um, e oferecendo condições de que a Nação evolua igualmente.
E isso, caros amigos, não se faz com armas.
Enquanto perdurar essa situação, não importa o quanto a publicidade (e os bancos) lhes ofereçam condições de ter um belo apartamento, um carro possante e boas aplicações. Você estará sempre sentindo o cheiro do ralo.
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13 de setembro de 2010

CHORO BRASIL


Você pode se indignar com o que acontece por aí. Mas creia, isso não é bom para você.

Você está mais indignado agora ou no tempo em que lhe disseram que não podia mais votar? Lembra quando foi? E durou, não é mesmo? O governo lhe diz: Não vote. E v. obedece (e eu também). O governo lhe diz: Vote em X, e você obedece (e eu também). Ou não. Sempre há os apáticos. Mas os apáticos não ficam furiosos, nem indignados. Talvez estejam certos. Que diferença faz? O mundo vai por si mesmo, independentemente de você ou de mim. A história tem seus ciclos e é preciso que se cumpram. Suportamos a ditadura, mas não temos paciência para a era Lula?

Meu amigo, não chore. Não adianta. O problema não está aí. Afinal, somos nós que sustentamos o sistema. Alguém aí ensaiou a desobediência civil, pregada por Henry Thoreau? Ninguém. É preciso muita coragem. Ninguém quer ir para a cadeia. V. não quer perder "aquilo que conquistou", mas se você não pagar e a mão do governo pegar você, ninguém vai estar nem aí. Só a morte lhe fará justiça. Mas aí, já era, né?

Você suportou Geisel, Médici, Sarney (ai!), e agora não gosta da cara de Dilma? Que coisa é essa? E a cara do Collor, era legal? E isso que nenhum fez sucesso "lá fora". Nem o FHC. Mas o Lula não pode. Por que será? Engraçado isso. Brasileiro adora quem faz sucesso "lá fora", mas não o Lula.

Você não gosta da cara da Dilma, acha que ela parece um mamute e fala mal? Grande coisa. E Bush? E Margareth Tatcher? E aquele diabo de mulher que foi assessora de Bush e eu já esqueci o nome graças a Deus?

Agora mesmo rola uma denúncia feita pela revista Veja. Denúncia? Revista Veja? Pense bem, agüentar uma denúncia da Veja... eu também perco a paciência.

Lula diz para votarmos em Sérgio Cabral. Nem acreditamos no que vemos e ouvimos. Mas Cidinha Campos também diz para votarmos em Jorge Picciani. E Marina diz que está bem votar em Sirkis. Isso é a política. Assim são os negócios. Ninguém é inocente. Todo o mundo é, já sabemos, o eu e suas circunstâncias (Sartre) e também (aprendendo com Saramago) aquilo que não tem nome. Não tem saída.

Portanto, por favor, amigo, não chore. A história é assim mesmo. Console-se. Você não falhou sozinho.

Lembre-se daqueles que ainda estão na marginalidade, mesmo que paguem os mesmos impostos que você, mas ainda assim são perseguidos. Lembre-se daqueles cidadãos que podem, a qualquer momento, por pura distração, sentirem a força da mão (e do achaque) da polícia porque estão fumando um inocente baseado.

Lembre-se de que essa tal democracia ainda demoniza os usuários de maconha, e burramente rechaça (com violência) aquela que poderá ser uma das maiores economias do tal país do futuro.

Agora mesmo, em vários lugares do gigantesco Brasil, movem-se brandamente com a brisa, milhões de pés de maconha que, colhidos, não pagarão imposto, enriquecerão os traficantes e a indústria de armas, as armas matarão os mais pobres e por aí vamos.

Quem ganha?

Por causa disso é que recomendo.

Renato Cinco para Deputado Federal - 5055

André Barros para Deputado Estadual - 13551

11 de setembro de 2010

O QUE HÁ DE NOVÍSSIMO


Há 11 dias cheguei do Recife e situações da vida privada (sim, eu tenho uma) não me permitiram a dedicação necessária para contar a grande, a sempre novíssima maravilha que habita as terras do Recife. Trata-se de uma pessoa que não se deixa envelhecer. É impelido, todos os dias, a criar a novidade, e o faz com absoluta naturalidade. Dá gosto vê-lo cumprimentando na rua, por onde quer que vá, as pessoas que o chamam. Os jovens beijam-lhe a mão, os poetas seguem-lhe os passos. Nele está a novidade, os atentados poéticos que comete a cada minuto, a tirada oportuna, o pensamento aberto, o olhar arguto para sacar o que está acontecendo - o que ele faz antes de todos.

Ai está: já viram que falo de Jomard Muniz de Britto. E devo dizer-lhes que essa criatura, esse filósofo ambulante, que habita salas ilustres ou praças de alimentação foi o responsável por uma inesquecível estada, minha e de Lou Viana em Recife, exatamente quando acontecia lá o projeto da Prefeitura A Letra e a Voz, do qual participaram escritores como João Silvério Trevisan, Raimundo Carrero, Bráulio Tavares, Marcelino Freire, Anco Márcio, Silviano Santiago, Rodrigo Lacerda, Ferréz e outros, que falaram, responderam perguntas e autografaram na bonita livraria Cultura (embora por vezes a livraria não tivesse para venda os livros em pauta), vizinha do Espaço Alfândega e da Rua da Moeda, onde terminavam as noites, inevitavelmente. Então era a vez dos poetas.

Miró, Malungo, Vitória, as Dremelgas, Urros Masculinos estiveram presentes até o outro domingo, quando o anfiteatro da Torre Malakoff foi tomado por uma multidão para assistir a finalíssima do concurso de poesia, o Recitata. Certamente 1000 pessoas (inclusive com torcidas organizadas) estiveram lá torcendo pelos seus preferidos, que receberam os merecidos prêmios. Poesia boa, performances originais, mistura com repente e cordel, uma surpresa a cada apresentação.

Dias absolutos em Recife, programa para marcar na agenda para o ano que vem, na esperança de estar entre poetas e principalmente conviver, respirar, rir e aprender muito na companhia de Jomard Muniz de Brito - cujo entusiasmo mais novo é a participação no próximo filme de Cláudio Assis.

Eis aí. Quem não souber quem é Jomard procure conhecê-lo. Ao menos para saber o que já fez, porque o que fará é imprevisível, e talvez nisso resida a sua juventude.

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6 de setembro de 2010

A CORAGEM DO ANONIMATO


Operários - Tarsila do Amaral


Cheguei querendo contar as coisas todas interessantes e às vezes perturbadoras que aconteceram no Recife. Descansada pela esperança, talvez, de ver que a poesia está mais presente no dia-a-dia das pessoas que povoam o Brasil. Talvez esse amor pelo Brasil venha de um outro tempo em que se pregava o nacionalismo, o patriotismo, vistos hoje como repentes emocionais que só rolam em pódios esportivos.
Mas uma visita respeitável, a da Morte, veio novamente me confrontar com a solidão. É que perdi uma tia querida (e se me olho no espelho ainda a vejo). E penso nela principalmente porque lutava sempre, ao lado do rádio, defendendo idéias. De prontidão na Legalidade, resistente na Ditadura, avançando nas Diretas Já, lentamente marchando com a classe operária até chegar ao dia de hoje, o dia das eleições. Sem nunca hesitar, sem nunca esmorecer.
Em junho, quando a vi pela última vez, já diminuída pela doença, apenas dizia que queria chegar até outubro para votar em Dilma. E lembrava sempre o nome dos traidores, trazia para as conversas nomes que tinham acabado por si mesmos. Desmascarando a hipocrisia. Ela sabia, conhecia bem a história e seu avesso.
Lembro as pregações entusiásticas, como se falasse de um palanque, apresentando argumentos imbatíveis. E uma resistência de soldado. Por outro lado, era a guardiã das vidas sem consolo, dos terminais, dos permanentemente necessitados, ao mesmo tempo em que abraçava causas que considerava justas, entregava-se nas amizades eternas e na vertigem dos temperos, com os quais nos levava aos céus.
Foi-se a minha querida sem realizar seu último desejo. E eu, que há tanto tempo não acredito na democracia representativa, que não acredito em governo nenhum e tampouco em processos eleitorais, olho-me no espelho e a vejo. E se está viva votará. Em Dilma. Um voto de homenagem. E assim se faz a história. ...