Se eu não morrer,
Muito prazer
Muito prazer
Victor Colonna
Passou o Carnaval como passou há pouco o Natal. Sabemos que acontecerá, preparamo-nos ou não, ele chega de qualquer jeito. Há que adaptar-se. Depois as estatísticas, os arquivos de sempre: tantos mortos, tantos feridos. Lá se foram uns, por pouco não fomos nós. Quem sabe na próxima. É possível prever a morte súbita?
Às vezes não se morre, foi um acidente e sobrevivemos. Sobreviver é viver sobretudo? Mas as seqüelas, as adaptações. Não somos mais quem éramos. Somos outros. Outras vidas. Nunca mais a vida antiga, para sempre nunca mais.
E os sonhos, que nos avisam do inevitável? Prevenimo-nos sem sucesso. Ele nos alcançará na queda enquanto tomamos banho e a viagem será a mesma se voássemos pelo despenhadeiro. O vôo terreno para um mar de perguntas.
Por que eu? Por que agora? Não sei, não sabemos.
O que sei é que voltei inteira à minha casa, meu gato, a mim mesma, esta que penso ser. Alguém com meu nome.
Hoje morri, amanhã faço anos. Minha vida (chamo minha a vida de que não disponho) segue simplesmente.
Dizem que é bonito em outros mundos, mais bonito que o mais bonito que conhecemos. Não sei. Viver é assim mesmo, essa perplexidade a cada aurora. Mas segue para todas as espécies do planeta, em seus propósitos naturais.
Às vezes não se morre, foi um acidente e sobrevivemos. Sobreviver é viver sobretudo? Mas as seqüelas, as adaptações. Não somos mais quem éramos. Somos outros. Outras vidas. Nunca mais a vida antiga, para sempre nunca mais.
E os sonhos, que nos avisam do inevitável? Prevenimo-nos sem sucesso. Ele nos alcançará na queda enquanto tomamos banho e a viagem será a mesma se voássemos pelo despenhadeiro. O vôo terreno para um mar de perguntas.
Por que eu? Por que agora? Não sei, não sabemos.
O que sei é que voltei inteira à minha casa, meu gato, a mim mesma, esta que penso ser. Alguém com meu nome.
Hoje morri, amanhã faço anos. Minha vida (chamo minha a vida de que não disponho) segue simplesmente.
Dizem que é bonito em outros mundos, mais bonito que o mais bonito que conhecemos. Não sei. Viver é assim mesmo, essa perplexidade a cada aurora. Mas segue para todas as espécies do planeta, em seus propósitos naturais.
Voltei, estou, ressurgi - não sei como dizer, mas estou contente. E de contente ofereço a vocês um milagre absurdamente comum; enorme, ainda que mínimo - promessa de pássaros.
E vamos vivendo fevereiro, que é o que temos.
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Maravilhoso teu texto, não consigo mais ler coisas tão boas como as que escreves em lugar nenhum.
ResponderExcluirSensibilidade, delicadeza e poesia pura em qualquer que seja a prosa.
beijo
Oi Helena, muito legal tua crônica. Um beijo,
ResponderExcluirA vida está cheia de interferências indébitas, de acasos estúpidos, de personagens errados que travam conosco desencontrados diálogos de surdos, a vida está atravancada de pormenores inúteis, a vida parece um romance mal feito!
ResponderExcluirjá dizia nosso maravilhoso Mário Quintana
saudades e afetos a voce e a socrates