15 de janeiro de 2011

O FIM DO FUTURO



"Por que eu sempre nado contra a corrente? Porque só assim se chega às nascentes."
(José Lutzenberger)






José Lutzenberger foi o primeiro ecologista que conheci, fundador da AGAPAN - Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, e a partir daí comecei a tomar conhecimento das questões ambientais. Lutz, que foi funcionário da Basf durante 13 anos, abandonou a carreira para denunciar o uso indiscriminado de agrotóxicos nas lavouras do Rio Grande do Sul. Isso foi há 40 anos. E por mais ativo e até barulhento que fosse (muitos, como sempre, diziam que era louco), por mais prêmios que tenha conquistado pela defesa de suas idéias, não conseguiu que o mundo seguisse o que ele indicava, na direção contrária à do capitalismo sem freio.
Muito antes, em 1854, Henry David Thoreau escreveu Walden; ou A Vida nos Bosques, uma auto-biografia e também uma alternativa ao modus vivendi que se implantava nos Estados Unidos, e que os norte-americanos preferiram não seguir. Ganhei o livro da própria tradutora, grande poeta e também defensora das causas ambientais, Astrid Cabral, a quem muito agradeço.

Trata-se de uma leitura necessária e urgente para que possamos entender, frente aos acontecimentos, porque as sociedades preferiram outro rumo, o da destruição, e não enxergaram até agora que esse rumo fracassou.

Todo o mundo sabe como se degrada o ambiente: petróleo, mineração, transposição de rios, usinas em geral. Por outro lado, a mania da assepsia deu um grande impulso às indústrias de embalagens. Até canudinho tem embalagem. Queremos que o lixo seja reciclado, mas não deixamos de comprar o lixo. Para que lixo? Por que uma caixa de isopor para embalar dois docinhos? E a garrafa PET já não deveria estar proibida? E as corridas de fórmula I, não deveriam ter sido varridas das sociedades civilizadas? E os fogos de artifício que tanto nos distraem, como distraíram os índios com espelhinhos e apitos? Como vêem, é difícil. Para estancar a poluição é preciso antes de tudo não compactuar com nenhum material poluente. Quem fará isso?

Agora está aí a hidrelétrica de Belo Monte. No meio do rio Xingu? O que significará para o ambiente? Cabeças estão rolando, mas quem garante que ao final não será autorizada? No entanto, a Presidente foi aos locais das tragédias e sabe muito bem que existe uma força que ninguém suplanta, que é a da natureza. O Governador que o diga. Passou por um sufoco ao passar pela BR-116.

Da minha janela vejo passar aviões o tempo inteiro, e também alegres transatlânticos de verão. Aqui e lá há focos de festa, e não são poucos. Alguma coisa sempre há para festejar. Não foi conosco. Estamos secos e temos comida. Podemos ainda ir à praia, ao cinema, ao teatro. A Internet funciona? Ah, bom. Tudo ficará bem outra vez.

Mas eis que a Terra se contrai, céus e mares, contra os quais nada podemos. Talvez chegue um dia já anunciado em que todos os habitantes, em todos os lugares do planeta, tenham que viver a sua amarga cota de conivência, consciente ou não. Talvez seja como vem sendo, aqui ou lá, vez ou outra. Mas talvez seja total, terrível e definitivo. E será tarde para dizer: vamos tentar outra coisa. O futuro terá realmente acabado.


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Joseph Franz Seraph Lutzenberger.[1]

Formado em Agronomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Lutzenberger trabalhou durante muito tempo para empresas que produzem adubos químicos, no Brasil e no exterior. Em 1971, depois de treze anos como executivo da Basf, abandonou a carreira para denunciar o uso indiscriminado de agrotóxicos nas lavouras do Rio Grande do Sul. A partir de então se dedicou à natureza e defendeu o desenvolvimento sustentável na agricultura e o uso dos recursos renováveis, alertando para os perigos do modelo de globalização em vigor.

Participou de mais de oitenta encontros nacionais e mais de quarenta internacionais. Entre os quarenta prêmios que recebeu está o The Right Livelihood Award (Nobel Alternativo), 25 distinções e inúmeras homenagens especiais.

Participou da fundação da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN) - uma das entidades ambientalistas mais antigas do país - e criou a Fundação Gaia. Lutz, como era conhecido, escreveu diversos livros, dos quais um dos mais notáveis é Fim do futuro? - Manifesto Ecológico Brasileiro, de 1976. Coordenou também os estudos ecológicos do Plano Diretor do Delta do Jacuí (RS), tendo papel importante na implantação do Parque Municipal do Lami, em Porto Alegre, (que hoje leva seu nome), e do Parque Estadual da Guarita, em Torres, entre outras atividades.

Em março de 1990, foi nomeado secretário-especial do Meio Ambiente da Presidência da República, em Brasília, durante o governo de Fernando Collor de Mello, onde permaneceu até 1992. Nesse período, teve papel decisivo na demarcação das terras indígenas, em especial a dos índios Yanomami, em Roraima, na decisão do Brasil de abandonar a bomba atômica, na assinatura do Tratado da Antártida, na Convenção das Baleias e na participação das conferências preparatórias da Conferência Mundial do Ambiente, a Rio-92.

Lutzenberger faleceu em 2002, com 75 anos. Ele foi sepultado do jeito que desejou, nu, envolto em um lençol de linho, sem caixão, ou seja, sem deixar impactos ao ambiente, de forma coerente com sua vida. Seu sepulcro está próximo a uma árvore, em um bosque do Rincão Gaia, em Pantano Grande.
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5 comentários:

  1. Eta, paisinho do futebol, é de doer ao nosso entendimento que, frente a tantas catástrofes aqui se sucedendo nos últimos anos, ainda se pense no Rio como sede de megaeventos esportivos colados uns nos outros, tornando-nos reféns de entidades internacionais como a FIFA para deitar e rolar sobre as nossas prioridades mais prementes. Pão e circo, que solidariedade é essa onde se destinam vultosos recursos em investimentos supérfluos e se consegue facilmente verbas milionárias para remunerar parlamentares inescrupulosos, um verdadeiro atentado a miserabilidade que se acentua com essa tragédia nacional? Por enquanto ainda "estamos secos e temos comida", mas até quando?

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  2. Tudo é segmento, tudo é fase. Enquanto caem os morros, uma corrente de monumentalidade jamais vista neste estado, a da solidariedade, ampara quem perdeu família, casa e a própria cidade - perdeu a si mesmo, enfim! Esse é o grande ponto. Se a autoridade destrói, o homem sem interesses ampara os necessitados e, nisso, se eleva.

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  3. Helena,

    Temos de combater sem trégua esse projeto "Usina de Belo Monte". É destruição e desacerto, apenas para fornecer lucros a algumas empresas e a uma determinada família poderosa de políticos do Maranhão.
    ARICY CURVELLO

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  4. translúcido
    vejo um transatlântico
    transando o azul do mar
    do atlântico sul

    penso nos mísseis
    que passeiam plácidos
    sobre o pacífico

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  5. Sugerimos lerem isto sobre o que está atribuído a ele no site oficial do governo federal:

    http://aoma-sd.blogspot.com/2011/11/jose-lutzenberg-um-critico-do-discurso.html

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