16 de janeiro de 2012

O CRIME DA FURADEIRA

Ao povo, nada. Eis o critério de justiça no nosso estado "de direito". Entre um policial, que é "dos nossos"
e que está vivo, a um politicamente pobre, que inclusive já morreu, fiquemos com o primeiro. Sai a sentença: o policial é inocente. A viúva não fala em recorrer. Recebe uma pensão do Estado e foi indenizada. De novo a mesma premissa: Hélio (o marido) está morto e ela está viva.
Ninguém diz quanto custou a vida de Hélio Barreira Ribeiro, de 46 anos, morto por um tiro de fuzil quando pregava uma lona no terraço de sua casa, no Andaraí, usando uma furadeira. Convenhamos, não é comum morrer assim. Ele estava no terraço de sua residência, diz a notícia. O policial estava a aproximadamente 30 metros de distância, segundo laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, quando atirou contra a vítima. O fiscal de supermercado foi atingido no pulmão e no coração.

Quem era Hélio Barreira Ribeiro? A quem interessa esse personagem de bastidores que aparece apenas para mostrar que até disso, uma coisa inverossímel, a polícia é capaz?


Lá se foi - um brasileiro - estava pregando uma lona. Estava na sua folga. Ou era fim de semana. A mulher tinha insistido para colocar a lona. Ele se dispôs, tudo bem, vamos lá. Quem poderia supor?

E qual foi a arma do crime? Uma furadeira, amigos. Uma prosaica furadeira levou (eu ia escrever deu cabo) o cabo do BOPE a atirar contra Hélio.
O juiz diz que a justiça foi feita. Que o cabo estava nervoso.
Não é o único caso de brasileiro que morre pelas mãos do Estado. Não será o último. A polícia está alerta para que casos assim se repitam.


O inusitado do caso é a furadeira.

Mas a culpa, a culpa mesmo, foi dos vasos de xaxim.



A FATALIDADE
Murilo Mendes

Quem me conduz meio tonto
Sobre esses campos noturnos
E as florestas de cristal?

Inventaram minha infância
Nas asas da proporção
Por isso aqui neste mundo
Não cheguei a me destruir.

Por isso aqui neste mundo...
Mas o outro mundo, quem sabe?

Batem-se ângulo e esfera
Na minha cabeça azul:
Guerra ou paz, quem vencerá?

Sairei despovoado
Deste amor e desencanto,
Desta amargura sem véu.

...
...

2 comentários:

  1. A justiça brasileira está em estado putrefato, veja o que fizeram com a corregedora quando propôs investigar indícios de venda de sentenças, os juízes tem direito há 2 meses de férias quando qualquer trabalhador tem 1.
    O Direito é classe privilegiadíssima sem condições de julgar os pobres, por questão de classe, ricos e privilegiados julgando pobres.
    Mais um trabalhador assassinado "democraticamente" pelo Estado "democrático", não é emocionante ?

    beijo

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  2. Gracias Helena querida amiga y poeta, siempre tan intigantes, brillantes y necesarios comentarios precisos sobre nuestra realidad con signo de pesadilla social y una bella poesía ese poema de Murilo Mendes una gracia y levedad que me toca esta mañana, un abrazo lleno de colores desde Santiago de Chile,

    Leo Lobos

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