Enquanto a sociedade brasileira avança lenta e teimosamente para diminuir o peso do sexismo, do racismo ancestral e do machismo, (que ninguém combate suficientemente), no campo do entretenimento A Globo, a boazinha Globo que se empenha tanto na arrecadação para o Criança Esperança inclui na sua grade de programação o programa do Sr. Miguel Falabella, chamado "Sexo e as negas". As chamadas na televisão já levam a concluir do que se trata, e as cenas mostram mulheres negras aparentemente muito senhoras de si, mas na verdade usando o sexo para impor-se na sociedade, que se aproveita delas e depois ignora-as.
Nunca fui adepta do politicamente correto. Para mim, significa varrer para debaixo do tapete as coisas feias que pensamos mas que, na profundo de nós mesmos, não achamos certo expressar. Os inventores das políticas públicas então vieram com essa coisa de afro-descendentes, terceira idade, pessoas em situação de risco, deficientes visuais, etc. Penso que os nomes são muito menos importantes do que as ações. E como valorizar pessoas que se vêem corrompidas na televisão?
O Governo, sempre muito ocupado, faz leis no sentido de diminuir esses abismos, mas para que servem? E quem as cumpre, se os negros ainda entram pela porta de serviço? Como acreditar que as mulheres ainda são vítimas de espancamento e morte todos os dias? Como humanizar uma comunidade degradada em que sexo é comida?
A televisão, todos sabem, é o meio de comunicação de maior abrangência e perde feio para as escolas, que não sabem seduzir, com seus conteúdos estagnados, seus professores cansados e seus pátios de concreto. E agora, para piorar, com policiais infiltrados. Será que as mulheres negras se sentirão retratadas? Será que se orgulharão daquelas pessoas que as estão representando? Será que alguma delas sentirá um chamado inconsciente para a vida difícil? Onde estão as organizações pelo direito dos negros?
A literatura do imenso Monteiro Lobato já foi considerada racista. Mas os livros foram escritos em outra época, bem diferente. O programa anunciado, no entanto, é para já, é atual, e contra ele ninguém se insurge? Eu também ia perguntar onde estão as organizações feministas, mas aí lembrei que o feminismo acabou. Enfraquecido o movimento, foi rápida a mudança. As mulheres deixaram para lá as conquistas possíveis e foram alisar os cabelos, botar botox e se atrapalhar nos saltos.
Tudo bem. Podem dizer que isso é coisa de velha. Mas por ser mulher, mesmo branca, tenho muitas histórias de preconceito e violência no passado. Lutei minha pequena grande luta e me orgulho de tê-lo feito. Por isso é que essas coisas me ofendem. Sob o disfarce da comédia e do entretenimento reforçam-se os conceitos da dominação e cavam-se mais abismos. É triste saber que muitas mulheres ainda (e quantas!) são vítimas de exploração, no público e no privado. Os programas que pisam na cultura e na cidadania das minorias (que minorias? as mulheres são 52% dos eleitores) apostam numa sociedade partida - branco no preto.
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Dá-lhe, Helena.
ResponderExcluir"Sexo e as negas"
ResponderExcluirInacreditável...não entendo como algo assim é liberado e incentivado, ainda mais num país onde grande parte da população vive grudada na televisão.
Sugiro que mandes este texto para algum jornal ou para a própria Globo, ou coloca no face para que as pessoas se pronunciem a respeito do título e do conteúdo do programa.
Estranho que as organizações em defesa da mulher e dos negros ainda não se pronunciaram...ou já se pronunciaram?
é uma vergonha!
Denise Paz