Foi-se mais um dos grandes escritores do século XX. Aos 99 anos, perto de completar os 100, deixa o mundo em que padeceu de dúvidas e desencantos e escreveu sua grande obra.
Ernesto Sábato nasceu em Rojas, província de Buenos Aires, em 1911. Doutor em física pela Universidade de La Plata, trabalhou no Laboratório Curie, em Paris, e em 1945 abandonou a ciência. Sofreu por isso, porque a ciência ainda muito esperava dele, mas ao entregar-se à literatura teve sua obra reconhecida por Camus e Thomas Mann. Em 1983 foi eleito presidente da Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas, cujo trabalho originou o relatório Nunca más, conhecido como "Informe Sábato". Entre seus ensaios, destacaram-se Nós e o universo, Homens e engrenagens e O escritor e seus fantasmas. Publicou os romances Sobre heróis e tumbas, Abadón, o exterminador e O túnel.
E como é comum acontecer, teve a seu lado uma mulher, Matilde, que o acompanhou, esperou e amparou (ela sim, sem dúvidas que a abatessem) durante toda uma vida de incertezas.
O trecho abaixo é do livro Antes do fim, uma autobiografia triste publicada em 1999, em que fala da morte de Matilde.
"Em seus anos finais, quando a vi abatida pela doença é quando mais profundamente a amei. E penso na valentia com que padeceu minha vida complicada, incerta, contraditória. A seu lado passei momentos de perigo, de amor, de amargura, de pobreza, de desilusões políticas e de tristíssimos distanciamentos, em que ela sempre esperava que o navio sacudido por obscuras tempestades regressasse à calma e eu voltasse a divisar o céu estrelado, esse Cruzeiro do Sul que indicava novamente o rumo, o mesmo que tantas vezes, quando éramos moços, contemplamos sentados em algum banco de praça. E muitos, muitíssimos anos antes, o supremo mistério, recordo-a sussurrando para mim aqueles versos de Manrique:
como se passa a vida
como se achega a morte
tão calando...
...
...
Quando soube da morte pela tv, levei um susto, me senti ainda mais sozinho...um tipo de silêncio difícil de suportar. O silêncio conspiratório da literatura, disso sim eu gosto, mas cada vez se conspira menos e menos. A vontade...ah, sei lá!...é sair berrando por aí. Como um órfão.
ResponderExcluirMis saludos desde Santiago de Chile, una gran perdida para el mundo de las letras, un abrazo grande,
ResponderExcluirLeo Lobos
Parabens, puta texto, qual seu livro preferido dele?
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