27 de junho de 2011

O SOL MORRE PARA TODOS (Victor Colonna)

Aos caros amigos leitores, informo: voltei. Trinta dias viajando dá para cansar, ainda que seja preciso viajar para reciclar algumas coisas que só ao vivo, não só em relação aos lugares visitados como em relação ao universo que mais nos importa, que somos nós mesmos. Também para gravar algumas imagens a mais na retina, aquelas que para sempre.
Tinha algumas coisas para contar, coisas inusitadas como o meu encontro com Fernando Pessoa em Lisboa, num sítio impensável para o poeta (e ainda mais para mim), mas eis que chego ao Brasil, e aqui, vocês sabem, as coisas, as nossas coisas tomam conta de nós, exacerbadamente.
Junto com os 15 anos da parada gay que tanto entusiasmo causa aos apresentadores de telejornais, fiquei sabendo da morte do ex-Ministro Paulo Renato de Souza. Morreu dançando, que lindo! Nas rodas de sambistas diz-se, quando morre um artista, que "cantou para subir". No caso, o ex-ministro dançou para descer.
Amigos e leitores mais antigos hão de lembrar que sempre tive o ex-Ministro (e o seu presidente) na lista das minhas antipatias mais fortes. Em que pese as lamentações dos tucanos e até dos petistas (obrigatórias como autoridades de governo) relativas à extinção da validade do seu passaporte para a vida, tenho a dizer-lhes que o Sr. Paulo Renato de Souza foi um dos tantos maus ministros de educação que o País suportou, com a diferença de que exagerou.




Ele foi o responsável por enfiar (não sem bem a troco de quê ou se era só má intenção) aparelhos de televisão em todas as escolas públicas que possuíam teatros ou auditórios. Para o alto o teatro, para o canto o canto, vamos ver Xuxa e dançar sobre o gargalo. Eis aí um mal cujas consequências não poderemos avaliar nem em 20 anos.
Que mais mesmo fez o ex-Ministro? Criou o ENEM. E alguém me diga, por favor, para que é que serve o ENEM a não ser para avaliar a cada ano a nossa sempre desclassificada classificação no prontuário da qualidade de ensino.
Paulo Renato de Souza foi apenas um dos pavões do séquito de FHC. Bem apessoado, enrolador, fingindo que é grande coisa o nada que está fazendo, um bom discípulo, digamos.
E para que não pensem que só eu penso assim, fecho com o comentário sobre o "passamento" relatando o pensamento de um amigo, tão logo leu no jornal: ""Foi enterrado hoje o corpo do ex-ministro Paulo Renato de Souza.
Ao que ele pensou: Pena. Poderiam ter enterrado vivo

No entanto, ah, no entanto, deixo aqui, por sua alma


As pessoas sensíveis

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas


O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra


"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."


Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito


Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.


Sophia de Mello Breyner Andresen
(Livro sexto)

8 comentários:

  1. Mis saludos desde Santiago de Chile, tiempos violentos vivimos en cualquier canto de los vientos,

    Leo Lobos

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  2. Seu texto é ótimo, mas você é muito cruel. Aprendi que devemos atacar veementemente todos os argumentos com os quais não concordamos, mas nunca o interlocutor. E enterrar vivo, minha cara, nem os americanos tiveram coragem com Sadam Hussein e Osama Bin Laden. Muito cruel e sem coração, que não combinam com uma pessoa sensível.
    Um abraço.
    Diniz.

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  3. Li a crónica e aproveitei para ler os comentários. Há quem escreva para se divertir; e há quem escreva para viver e matar.
    Eu sou do último género; daqueles que escrevem também para enterrar vivo no sentido metafórico da palavra como a Helena escreveu.
    Se o texto fosse construido na forma de um poema ninguem ficaria chocado com a força da metáfora. Assim parece cruel. Para mim que leio do outro lado do Atlantico e não conheci o personagem não me choca; as palavras que geram afectos são as mesmas que podemos utilizar para desabafar mágoas. Todos os dias há pessoas, pobres e ricas, que são enterradas vivas pela injustiça dos juizes, dos jornalistas, do homem simples que nega um crédito bancário a um empresário honesto,que depois se suicida por vergonha de viver, ou até do cidadão impoluto que tem medo de parar no trânsito para acudir a uma criança acidentada no chão e em sangue.

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  4. Ao menos encontro uma pessoa a mais, capaz de perceber o CRIME que cometem a cada dia oferecendo essa educação POBRE e sem interesse em formar cidadãos. Porém, estão precarizando tanto essa educação que vão acabar formando imbecis tão grandes que serão incapazes de perceber a diferença entre políticos e amebas não lhes permitindo assim, capacidade para votar, onde esta política educacional mais se preocupa em investir; em futuros "eleitores".

    Caríssima, comungo com a mesma antipatia ao Ex-Ministro.

    Parabéns pelo texto!

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    Respostas
    1. Querida Adriana, passei por aqui e vi seu comentário de 2011. Parece que virou profecia. E a coisa aconteceu...bj

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    2. Querida Adriana, passei por aqui e vi seu comentário de 2011. Parece que virou profecia. E a coisa aconteceu...bj

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    3. Este comentário foi removido pelo autor.

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    4. Querida Adriana, passei por aqui e vi seu comentário de 2011. Parece que virou profecia. E a coisa aconteceu...bj

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