12 de abril de 2012

MACONHA & DESENVOLVIMENTO


De todas as mentiras, talvez a do desenvolvimento sustentável seja a pior. Todos os dias perdemos para os poderosos a terra, as árvores, o céu - tudo o que precisamos para viver. E temos que calar. Ou melhor, podemos até falar, mas quem nos ouve?
Os que me lêem mais amiúde devem ter notado que estou quieta em relação ao tema liberação da maconha, pelo motivo que todos também já sabem: não há, por parte dos governos em geral, interesse em acabar com o tráfico, simplesmente porque o o que é proibido dá mais dinheiro. Cachoeira que o diga.
Além de dar dinheiro, as "ações armadas" da polícia "pacificam" as "comunidades" e, de quebra, ajudam a matar uma meia dúzia de pobres que não têm nem nome. Trata-se, talvez, de uma experiência para a contenção demográfica.
Alguém aí sabe os nomes dos que morrem em investidas da polícia em comunidades?
Agora, se for um engenheiro, médico, qualquer profissional liberal e até polícia, aí tem nome, aí é gente.
Tanta hipocrisia me cansa. Parece que sempre escrevo a mesma coisa. Não sei se as palavras estão gastas ou se eu é que me gastei.

Afinal, se as próprias autoridades reconhecem que a repressão fracassou, por que não experimentar outra? Só um imbecil não aceitaria arriscar, só alguém muito sério poderia tentar. Experimentar, apenas, ter boa vontade, olhar para a frente com a certeza de que é muito pouco trancafiar jovens pobres porque em algum momento carregaram um baseado de lá para cá, coisa que milhares de pessoas fazem todos os dias em todo o mundo.
O assunto ressurge por conta de duas notícias de jornal. A primeira é a de que na sexta-feira, em lugar incerto, reunem-se pela primeira vez no Brasil os policiais, militares, juízes e desembargadores que vão compor a "Agentes da lei contra a proibição". Ufa! Já não é sem tempo.
E a segunda, ainda melhor e mais pitoresca, é que a população do pequeno vilarejo de Rasquera, na Catalunha, o mais endividado da Espanha,decidiu num referendum, com 56% dos votos, pelo plantio da maconha como parte de um plano para pagar a dívida de 1,3 milhões de euros e criar cerca de 40 postos de trabalho.
O destino da erva são os 5 mil membros da Associação de consumidores de Maconha de Barcelona, (ai como dói o nosso atraso) que reúne pessoas que fazem uso da planta. A associação financiará o projeto durante dois anos.
Bom, aí estão duas notícias alvissareiras.
De qualquer forma, a Marcha está aí (é dia 5 de maio) e sempre é bom lembrar (é preciso lembrar) que o que dizem é que vivemos numa democracia. Uma democracia em que somos achacados pelos impostos, pela polícia e pelas empresas em geral. Uma democracia em que vemos o dinheiro sumir sem que reapareça em forma de nada, a não ser em pessoa, digamos, escondido em malas, meias, cuecas ou contas dos eleitos que sustentamos religiosamente, mesmo que não tenhamos liberdade nem para fumar um baseado.
Não sabemos bem onde tudo isso nos levará, com o Brasil tendo um potencial gigantesco de enriquecimento natural, preferir cavar o o fundo do mar, depredando e poluindo em nome da "riqueza nacional".
Não me conformo que o Brasil, esse país colossal, com terra para todos, não possa ser aproveitado para o cultivo de uma planta que poderia suprir toda a demanda interna e ainda ser exportado. Eu prefiro sonhar com campos verdes do que ver com pavor as plataformas poluidoras que infestam tudo o que há de belo na natureza.
É preciso coragem, convenhamos. A Presidente Dilma teve coragem uma vez, quando assumiu a luta por um ideal. Naquele tempo os inimigos eram os ditos subversivos. Ela era um deles. Agora os subversivos são os maconheiros. É sobre eles que cai a pata do Estado. Alguém sempre tem que pagar. E alguém tem que pagar as armas.
Alguém sempre tem que ser o inimigo da vez, para que não pare jamais a repressão e suas armas assustadoras.
É preciso não esquecer as lições do passado. Naquele tempo talvez a Presidente Dilma tivesse pressa de mudar os rumos do golpe. A coisa não deu certo. Mas o tempo passou. Hoje ela é Presidente. Mas isso não quer dizer que agora deu certo. Está em suas mãos fazer com que dê certo uma outra revolução - a de que outro mundo só é possível se houver liberdade para todos.
O Brasil quer estar à frente? É um dos mais ricos? Pois então que seja, antes de tudo, o mais corajoso na luta contra o preconceito e a repressão.
...

3 comentários:

  1. Assino embaixo, Helena, sem qualquer ressalva. Cansa a minha beleza envelhecida a manutenção -- e, ultimamente, a proliferação -- de leis restritivas dos direitos do indivíduo. Até a Lei Seca me incomoda, por seu rigor excessivo, draconiano, e pela falta de lógica (a do sistema, não a minha): proibe-se o cidadão de dirigir sob o efeito da única droga que é legalizada. Dirigir empanturrado de cocaína, heroína, crack... pode.

    Até num país conservador como a Suíça liberou-se o uso das drogas ilegais, com o Estado fornecendo aos viciados a droga, de graça e 100% pura! E o resultado veio a curto prazo: uma melhora substancial na qualidade de vida dessas pessoas e a queda drástica dos índices de criminalidade.

    Enquanto isso, aqui, o cidadão que é condenado por algum crime associado ao consumo de drogas (exceto o alcoólatra e inclusive o "maconheiro") é internado em manicômios judiciários junto com psicóticos e... PSICOPATAS (que a Justiça brasileira considera tratáveis e curáveis, à revelia da opinião majoritária dos especialistas em psiquiatria e psicologia!).

    Enfim, essa é uma novela antiga -- germinal até, das questões sociais que impedem o país de sair desse subdesenvolvimento crônico. Todos os graves problemas decorrentes da existência das favelas não existiriam se elas não tivessem sido inventadas pelo governo. No caso, o de Pedro II, que criou a "comunidade" (o maldito sinônimo politicamente correto de favela) da Favela, ao promulgar uma lei que fortalecia o direito de propriedade como "solução" para dois gravíssimos problemas sociais da época: o retorno de centenas de milhares de combatentes, sem recursos e sem qualquer amparo governamental, da Guerra do Paraguai e a "libertação" de milhões de escravos. E essa gente, como sabiam o Imperador e praticamente todos os Presidentes que o sucederam, tem no sangue, no DNA, a propensão ao crime...

    Abraço

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  2. Invejinha da Espanha, um dia chegaremos lá, quero crer nisso.

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  3. Helena
    Independentemente do tema o que eu gosto é de a ler e de a ver lutar como alguém que tem uma missão na vida.
    O seu amigo e admirador
    Joaquim emidio

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