Há poucos dias morreu Chico Anysio e foi praticamente endeusado pela mídia global. Fiquei quieta.
Reconheço o talento de Chico Anysio na captação dos múltiplos tipos dessa babel que se chama Brasil. Mas um dia ele resolvoeu casar com Zelia Cardoso de Mello o que, na minha opinião, foi um deboche. ZCM - uma malfeitora. Devia estar na cadeia pagando por todos aqueles que ficaram sem dinheiro, pelas perdas de projetos e sonhos que estavam prestes a se realizar, pelo golpe baixo de mexer na poupança. Uma mulher perigosa que armou todo um plano para roubar - legalmente. Ela não ignora que muitas pessoas adoeceram, outras morreram, outros ficaram falidos. Ele, certamente, também não ignorava. Mas passou por cima de tudo e ofereceu-lhe a segurança do nome, o dinheiro do nome, o conforto da fama. Tudo por amor? Por favor. É um amor sem destino o que nasce na traição. Teve filhos, no entanto. Assegurou que uma mulher sem escrúpulos parisse filhos sem pátria.
Agora sim - morreu um humorista. De outro nível. De superior inteligência, de convicções firmes, de espírito livre - um pensador.
Adolescente eu já intuía aquela genialidade nas páginas de "O Cruzeiro", com o Pif Paf. Depois veio o Pasquim, a resistência única, apesar do reconhecido machismo. E junto com tudo a grande produção de desenhos, textos, peças de teatro, roteiros e traduções.
Os tempos mudaram, os pasquins se acomodaram. Mas Millôr não. Millôr era superior às acomodações, aos rapapés, aos tapinhas nas costas. Era grande amigo dos amigos de sempre, mas até aí. Trabalhou em muitos outros jornais, mas sempre com independência.
Onde teremos outro Millôr, que não se entregou às delícias da corte?
Hoje a morte é assim. Apenas sabemos a notícia, engolimos em seco. Logo outra virá. Há muito mais espanto do que luto. Não há nem tempo de chorar.
Quase no mesmo dia se foi Ademilde Fonseca, a Rainha do Choro, e então sufocamos, porque sabemos que há pessoas que são, de fato, insubstituíveis. E faltam poucas para que não tenhamos mais ninguém pensando com liberdade. Tomados pela massificação, nós, os sobrantes, corremos o risco de nos transformar, cada um, num elefante no caos.
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Texto claro de uma escritora brilhante, Helena Ortiz. Concordo em gênero, número e grau. Realmente aquela mulher, "sinistra do Collor", ninguém merece! Pouco depois daquele dia fatídico do cano nacional passou na minha porta uma amiga professora, doutora em línguas, chorosa e triste, tinha perdido a mãe que morrera de susto e ninguém tinha 1 centavo para enterrá-la... Alguém se responsabilizou por isto? NÃO. A senhora vivia daquele dinheirinho lá no banco e com o alarme da perda da grana na tv o coração não aguentou!!! Perdi também, exíguos cruzados de vida de artista, juntados com suor... porque com arte será que alguém um dia vai acreditar? Foi duro recomeçar. O plano do novo atelier modesto foi por água abaixo, adiado indefinidamente... As reservas de obras, desfeitas.
ResponderExcluirMillor, inesquecível, este ficará na memória de todos nós que lutamos com as desigualdades sociais. Ademilde, uma voz inconfundível na eternidade, um encanto, aprendi a amar seus chorinhos com minha mãe, Dona Miquita.
E assim é a vida enquanto aquela dama de negro e foice não chega para encerrar nossa conta.
Hélvio Lima
As pessoas são muito estranhas, casar com a Zélia é mais estranho ainda.
ResponderExcluirEstamos mais massificados do que nunca, jantar antes ou depois do JN? da novela? eis as questões de nossa shakespeareana medíocridade.
Millôr é o único que dá pra usar a palavra gênio, tão prostituída pela mídia nativa.
El escritor y humorista brasileño Millôr Fernandes, creador de un célebre periódico subversivo que criticó con ironía a la dictadura, murió a los 88 años en Río de Janeiro, informó hoy su familia.
ResponderExcluirAutor de cerca de 40 novelas, obras de teatro, guiones de musicales y de libros de poesía, Fernandes falleció de un derrame cerebral la noche del martes en su apartamento y sus restos serán cremados mañana después de un velatorio.
Fernandes fue uno de los fundadores de "O Pasquim" , un semanario humorístico y satírico nacido en 1968 que se sirvió de la ironía para burlar la censura y criticar al régimen militar que imperó en Brasil entre 1964 y 1985.
Millôr Fernandes se inició en el periodismo en 1938 con una columna en la revista "A Cigarra" que firmaba con el pseudónimo Vão Gogo, que utilizó durante varias décadas en diversas publicaciones, entre ellas en el semanario "O Cruzeiro" , uno de los principales periódicos brasileños de los años 40 y 50.
fiquei muito emocionado lendo, e lembrando.
ResponderExcluirCorajosa em falar dos podres de Chico Anysio em sua morte. Compartilhei nas redes sociais, parabéns !
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