24 de agosto de 2012

AMOR ARMADO

Vinha do Rio para Niterói ontem à noite quando fui parada por uma blitz da Lei Seca.
Foi a primeira vez que fui parada numa blitz.
Vá lá. Quase nunca bebo e também ontem não tinha bebido. Um policial enfiou sua barriga na janela do meu carro e me pediu documentos. Entreguei. Em seguida me perguntou se concordava em fazer o teste do bafômetro e eu, que não quero espichar meu contato com polícia nenhuma e conheço as consequencias legais, só tive que engolir. Fui até a tenda, ele me mostrou o bico descartável e eu soprei naquela merda com todo o ar que era possível, a ver se me livrava da raiva que estava sentindo, da humilhação mesmo de ser parada por um babaca a partir de uma política que acha que a maioria é culpada e que todo cidadão deve se submeter à autoridade, mesmo que ela seja grossa e mal encarada.
As pessoas a quem contei o fato acham que tudo bem, que é assim mesmo, que é preciso impedir que motoristas bêbados andem por aí matando pessoas. Acontece que a grande maioria da população não sai bêbada por aí matando pessoas. A minoria é que bebe e, quando mata, não há o que a impeça. Está visto que a polícia só chega depois do morto.
O motorista atento sabe quando o motorista do outro carro está bêbado, falando no celular ou até dormindo, como acontece com frequencia. Ora, se qualquer motorista é capaz de perceber isso, por que a polícia, que é treinada, não pode? Nesse caso, a "autoridade" quando me mandou parar, depois de ver meus documentos em dia poderia ter percebido que eu não tinha bebido, e que ele bem podia me dispensar do teste, uma vez que sou (também é uma política pública) uma idosa que tem, por lei, algumas prioridades. Ao contrário, a "autoridade policial" não quer nem saber. Sabe que estou na sua mão. Sabe que se eu me negar a fazer o teste vou me incomodar mais do que fazendo. E então lá estou eu, prestando contas dos  atos que não cometi a um policial mal encarado. Se me nego: desacato.
Mas quando a polícia inferniza a vida da população causando engarrafamentos por conta de reivindicações salariais, também nenhum motorista sai do carro para dizer que é desacato infernizar a vida de quem eles devem proteger.
Aí está. Vivemos um estado policial em que a repressão é o melhor remédio. Punição, punição e punição. 
Por mais que Eduardo Paes ame o Rio, e o diga quase chorando na propaganda eleitoral, não acredito em amor armado.


...

4 comentários:

  1. É a pura verdade, Helena, imagino tua indignação, um Estado policial em que não oferece segurança nem é coibido pelos abusos.
    Ninguém pode ser obrigado a nada, é muito chato, mas cada vez mais aumenta a irresponsabilidade no que se refere a tudo, principalmente no trânsito.
    Adulto sem senso do ridículo da irresponsabilidade é pior do que jovem, este ainda tem tempo de aprender ou envelhecer.

    beijo

    ResponderExcluir
  2. Helena, nasceste para me fazer feliz, acabei de lamber minha cria lá no "Panorama da Palavra", obrigado.

    beijo

    ResponderExcluir
  3. absurdo e normal, óbvio que não é. somos agredidos o tempo todo e como sapos, engolimos... polícia para quem precisa...

    ResponderExcluir
  4. Ótimo comentário Helena. Estamos sufocados, não é só Estado policial, no fundo é muito Estado, Estado, Estado, Estado...
    Fora desse sufoco, se sobrar espaço, dou os parabéns pelo n. 71 do Panorama! Saudades, luiz.

    ResponderExcluir