16 de março de 2013

O RUI ESTÁ NU



Há pouco tempo o Presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, Wanderley Guilherme dos Santos, ao deixar o cargo, saiu atirando contra os pesquisadores e funcionários da Fundação. Os intelectuais da Casa se levantaram em defesa da instituição. O ex-Presidente retratou-se, em parte. Muita conversa deve ter rolado naquele que é, desde que conheço, um feudo de intelectuais a que todos almejam. Mas sem concurso há 10 anos, não há quem alcance. 

De minha parte, desde que entrei pela primeira vez nos jardins da casa tive uma surpresa. Uma estátua de Rui Barbosa, na entrada, mostra-o com o peito nu. Não entendi até agora a intenção do escultor porque Rui Barbosa, um diplomata, sempre de casaca e colarinho alto, jamais se deixaria retratar para a posteridade e exposto assim, contrariamente aos costumes do seu tempo. Talvez seja para lembrar sempre que aqueles que pensam que seus lugares estão garantidos podem ser surpreendidos por quem observa que o rei está nu. E aí tudo muda.
De minha parte, que venho do povo, a única coisa que posso dizer é que os jardins, tombados pela Casa, são "administrados" de maneira atrasada e burra. 
Os jardins da Casa de Rui são a única área verde nas redondezas, a única onde se pode levar crianças, crianças pequenas, até cinco anos, porque as mais velhas já não se interessam por olhar borboletas e fazer bolinhos na areia. Areia? O chão dos jardins da Casa de Rui nada mais são do que uma terra dura e pedregosa, que não raro machuca as crianças. Ainda assim elas não podem lavar os pés nos tanques, nem andar na grama, nem dar comida aos peixes. Há uma quantidade de guardas a impedi-las de tudo. A casa está tombada, os jardins também. Mas estará tombada a grama?
Na contramão de todos os países civilizados, onde andar na grama é livre, na Casa de Rui não pode.
As crianças não podem dar comida aos peixes, não sei se para matá-los de vez, o que fatalmente acontecerá com aquela água permanentemente suja e a evidência de que os peixes têm fome.
Como vêem, não me interesso por fofocas palacianas, apenas me preocupa o fato de que uma instituição tão considerada não olhe para além de suas paredes e de seus interesses. 
Ah!, outra determinação da administração é que se entre casais, um quiser deitar no banco e colocar a cabeça no colo do outro - não pode. 
Será porque Rui era de moral muito rígida? Ou será porque temem os sentimentos onde só reina a razão?
Não sei. Só sei que quando chego aos jardins da Casa de Rui tenho-lhe pena de estar assim, tão magrinho, tão desprotegido, e preparo-me para suportar as normas ditadas por quem não entende nada de parques, de jardins ou da importância que eles têm na vida das crianças. 
Tenho pena de quem dedicou sua vida ao Brasil, a esse mesmo Brasil onde os intelectuais permanecem em
salas refrigeradas, com suas pesquisas que ninguém lê, com seu desinteresse por coisas que não sejam próprias, com sua frouxidão em relação aos rumos políticos do País.

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Um comentário:

  1. Quanta dignidade em seus comentários, pontuados de opiniões que compartilho e penso. Como é podre o poder e os que o almejam em detrimento do outro.

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