30 de novembro de 2013

MACHISMO BENTO


Andei por uns dias por outro Brasil, em sendo o mesmo. Jamais será o mesmo. Trata-se de um outro céu, um outro mar que não é o que conhecemos no Rio ou no Ceará e que o manto governamental não abarca.
Andei, vi toda a beleza que é possível ver, a natureza em suas exposições públicas, nas flores, nos jardins, nos grandes matos, no rio a cantar. Sim, ainda há rios limpos. E eu demoro cada vez mais a voltar. Quisera não precisar mais voltar para a urbe, ou para as obras, que é a mesma coisa nesse inferno de poeira e dúvida. 

Os gringos nos acham esquisitos, misturados e promíscuos? O nosso governo nos evita e quer esconder (não consegue), pobres que somos, com nossos narizes achatados e nossos lábios grossos? Somos belos e somos reis, dizem os negros do alto da sua elegância, ritmo e sensualidade. 

A política perde feio para o pagode. E a polícia segue matando, na madrugada e na moita. Assim foi o feriado de Zumbi. Para sempre um perseguido. 
Houve um tempo, os mais velhos hão de lembrar, em que nas festas, nos encontros de família, a política era o tema central entre os homens porque era determinante de tudo o que estava por acontecer no mundo inteiro, no pós-guerra. Foi por ali, pelos 7 anos, que eu comecei a ouvir sobre política. E tentar entender o que movia pessoas do sexo masculino. Mas não sei. Não sei até hoje. São coisas diferentes, isso eu sei, mas não sei porque, por exemplo, essa paixão por futebol. Alguém disse que os homens adoram futebol porque é quando ficam livres das mulheres. É possível. E agora as mulheres também gostam de futebol. Tomam cerveja e vibram. Isso é terrível. Onde é que eles ficarão a sós?
Talvez no Colégio São Bento, onde se preserva o direito do homem estar entre homens, como nos estádios. Embora ser ou ter sido aluno do São Bento não lhes garanta atuar nos times de futebol, a não ser como cartolas.

A notícia de jornal surpreendeu. O colégio São Bento, do Rio de Janeiro, tradicionalmente dedicado aos meninos, vai abrir suas portas para as meninas. Ora, o incauto poderia pensar que afinal as exortações do Papa a uma maior "compreensão" do mundo (a Igreja incluída) com os "diferentes" (mulheres incluídas) encontraram eco no Colégio São Bento.

O outro ponto possível seria o engorde do caixa do São Bento, aceitando meninas da elite, sugestão de algum "economista/consultor com foco na educação".
Nem uma coisa nem outra. O abade veio à tona para dizer que não era nada disso, que o assunto já tinha sido falado mas que sobre ele não havia nenhuma decisão. E assim desautorizou a supervisora pedagógica quando disse que a instituição permitiria a matrícula de meninas. Que terá acontecido depois a essa senhora? Quer dizer que como empregada, pode ser mulher? Falou demais, apenas. É um defeito das mulheres. Ah, essas mulheres invasivas!

Mas o que importa é que o Colégio São Bento continua lá, enfiando não sei quê na cabeça dos meninos. Principalmente o medo de serem eles mesmos, ao mesmo tempo em que são educados para servir. À Igreja, sempre necessitada. Ao patrimônio. À família. Às ações. Para tanto, doações, e se sobrar um tempo, orações.

Não se sabe muito quanto a frustrações. Ou castrações. Sabe-se que há pouco tempo um aluno passava pela janela e a janela chamou-o, puxou-o e o atirou do quinto andar.  Era introspectivo. Demorava para copiar a matéria do quadro. Demorou a adaptar-se.

não saio da porta

espero pelo padre
não me masturbo
não conheço crack

por que me abandonam mesmo assim?


Pois bem, senhor abade. Fique com o seu colégio e com seu apartheid. Seja sexista, discriminatório e anacrônico. Será bom mesmo que as mulheres não sejam passíveis dessa doutrinação para a submissão, elas que há tanto anos lutam contra isso. Padre, pai e marido. E ainda os chefes, de vários escalões, os colegas, os homens em geral, os donos da piada pronta, a elite intelectual, etc.  É muita luta. Mas os ícones da dominação, volta e meia estão caindo. E isso não depende dos santos. 



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