18 de fevereiro de 2014

AS PIRAÇÕES DO PRÍNCIPE

Fico pensando no prefeito chegando em casa, às 2h da madrugada, exausto de tanto mentir, fatigado de adorar-se, deslumbrado com o próprio poder, imune a críticas, fechado a sugestões, sozinho com sua capacidade de desorganização, mas apto a manter a seu lado aqueles que obedecem porque precisam. Suprema felicidade poder decidir, num átimo, dependendo do tesão ou da ganância, (também é uma forma de gozo), que amanhã os seus súditos, ao sair para o trabalho, terão um dia de cão. Grande coisa, dizem os cães, já estamos acostumados. 
Mas não. Sempre é possível surpreender-se com a crueldade dos monarcas. Mais paciência terão ainda os que já a têm, viajando em trens desvairados, brts assassinos, metrôs aquecidos e avenidas atulhadas de carros porque agora os carros, cuja venda é incentivada pelo governo federal, não podem nem circular, muito menos parar. Nada é passível de entendimento. Siga o jargão policial; circulando, circulando.
Todo o mundo circula sem saber por onde nem até onde pode ir. Só quem sabe é o prefeito e o secretário, e essa exclusividade é excitante, é absolutamente inigualável. É uma sensação acima do bem e do mal, de permanência, de realeza. O príncipe ascendeu aos céus.

O prefeito, imagino, está viciado em obras. Não termina uma e já está em outra. Existe recuperação para esse tipo de vício?
Aposta no Santo Cristo, um bairro pobre como qualquer outro, assaltado de repente pelos delírios oldebrechtianos, mas só lhe passa uma camada de asfalto. O resto continua. O tráfico retorna, os assaltos crescem, principalmente nos ônibus recomendados pelo príncipe, há gangues de rua, gangues na polícia, gangues na gestão pública. Os turistas adoram. Não existe nada igual a preço tão alto. Melhor que safári, aventuras na Índia ou esportes radicais. O príncipe, extasiado, olha a cidade em pânico. Muito mais divertido. Inspira, e quando expira já vem lá uma nova idéia louca, uma invenção, com certeza uma maldade. 


Sei não. Me parece que é vício. Aceitará ir a uma casa de acolhimento para recuperação?



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2 comentários:

  1. Helena, tua acidez é mel para minha alma. Mais doce que você, impossível!

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  2. é, ele deve esconder o sobrenome, eduardo de orleans e bragança!

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