20 de outubro de 2014

ZUMBI - A LUTA CONTINUA




No dia de homenagem a Zumbi, e distante da lei que libertou os escravos, a grande maioria dos homens e mulheres presos neste momento no Brasil é de negros. Todos eles sofrem até hoje com o mesmo preconceito, do qual se nutrem as polícias repressoras da pobreza identificadas pela cor, embora ele tenha sido em parte calado (mas não transformado) pelas políticas de afirmação. 
Todos louvam a grande contribuição dos negros na construção do País e da sua cultura, mas esquecem que há muitos negros que não são músicos, nem bailarinos, nem atores, nem desportistas; que não estão representados na vida pública e ainda engatinham nas profissões liberais.
Enquanto todos lembram a primeira, a segunda guerra e o golpe de 64, para que não esqueçamos os crimes cometidos, aqui mesmo, na nossa cara, diariamente, os mesmos crimes são cometidos, sistemática e impunemente. No Brasil ainda se constrói quilombos como uma forma dos negros se defenderem dos brancos. Quando se fará, eu pergunto sempre, a Comissão da Verdade para os negros?
Quanto às mulheres, não é nem bom falar. As mulheres ainda trabalham como burros e têm agora um novo dominador, que é a estética dominante. Brancas e negras sofrem de mal chamado exacerbação da futilidade. Parece que não há mais nada a conquistar a não ser um bom cabelo. Será para isso que tantos morreram?
Que nos perdoem todas as vítimas do preconceito e mais do que isso, das idéias que o estimulam; dos comportamentos que têm como característica a humilhação e, sempre que for possível, a morte, seja com que arma for.
Zumbi chega aqui acompanhado de outro grande, Cruz e Sousa, ambos vítimas da ignorância e da presunção de superioridade dos brancos.



ESCRAVOCRATAS
Cruz e Sousa


Oh! trânsfugas do bem que sob o manto régio
manhosos, agachados — bem como um crocodilo,
viveis sensualmente à luz dum privilégio
na pose bestial dum cágado tranqüilo.

Eu rio-me de vós e cravo-vos as setas
ardentes do olhar — formando uma vergasta
dos raios mil do sol, das iras dos poetas,
e vibro-vos a espinha — enquanto o grande basta

O basta gigantesco, imenso, extraordinário —
da branca consciência — o rútilo sacrário
no tímpano do ouvido — audaz me não soar.

Eu quero em rude verso altivo adamastórico,
vermelho, colossal, d'estrépito, gongórico,
castrar-vos como um touro — ouvindo-vos urrar!


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