6 de abril de 2015

QUANDO O ESTADO É O AUTOR

Bernardo


Todas as pessoas que são atingidas pela tragédia, que pode ser um assassinato, um acidente de trânsito ou um assalto - querem justiça.
A justiça, no entanto, não se faz. O menino Eduardo de Jesus, 10 anos, morto no Complexo da Maré, foi levado para o Piauí para ser enterrado. Tem coisa mais triste do que viajar com o cadáver do filho? A família está destroçada.
O policial que o matou não sabemos que destino terá. A polícia diz que havia um tiroteio. A mãe diz que não havia nada e que o policial atirou porque...por que mesmo? Porque foi mal preparado, porque estava nervoso, porque pensou que...
Eu acredito na mãe, até porque atirar primeiro é uma prática policial frequente.

A promotora responsável pelo caso de assassinato do menino Bernardo, em Três Passos, no Rio Grande do Sul, chegou à conclusão de que "há indícios suficientes" para condenar o monstro chamado pai. Isso já faz um ano.
O caso de Bernardo foi ainda mais impressionante, em se tratando de omissão da justiça porque meses antes ele havia procurado o Ministério Público para pedir proteção contra maus tratos e negligência por parte do chamado pai e da madrasta. E não achou quem o ajudasse.
Morreu barbaramente, dois meses depois.

No primeiro caso, o de Eduardo, a polícia fará tudo para livrar o criminoso de uma condenação.

No segundo, a Justiça se omitiu ao não levar a sério o pedido do menino Bernardo. Para esse caso não houve "averiguações".

Com esta justiça e esta polícia há ainda quem queira diminuir a maioridade penal.
Talvez fosse melhor divulgar o cronograma: hoje vamos matar na Rua B; amanhã, na viela do Calvário. Afinal, é esse o serviço que a polícia aprendeu. E a justiça acoberta.

A resposta do Governador ao recrudescimento do conflito no Complexo da Maré, onde já morreram 30 pessoas desde a ocupação é de mais armas, mas polícia e, naturalmente, conforme a política pública adotada, mais mortes.
O Governador diz que novos policiais foram treinados por três meses. Ora, e o que podem aprender em três meses, a não ser atirar?
Forças de ocupação. Sem educação, sem treinamento, sem compaixão.
E o Estado? Nada. Sempre outras mortes vão substituir, como notícia, as mortes de crianças que nasceram destinadas a vítimas. Não é preciso que sejam delinquentes.
Qualquer morte é medalha.

...


2 comentários:

  1. Sempre que vejo a foto desse menino Bernardo parece que sua solidão passa pra mim. Dentre tantas desgraças ocorridas a crianças brasileiras, o destino desse gauchinho foi o que mais me atingiu. Nunca mais esquecerei esse caso em que todas as autoridades envolvidas falharam. E tal não poderia mesmo ter ocorrido. Saudades eternas e desmedidas.

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  2. Sempre que vejo a foto desse menino Bernardo parece que sua solidão passa pra mim. Dentre tantas desgraças ocorridas a crianças brasileiras, o destino desse gauchinho foi o que mais me atingiu. Nunca mais esquecerei esse caso em que todas as autoridades envolvidas falharam. E tal não poderia mesmo ter ocorrido. Saudades eternas e desmedidas.

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