paisagem do interior
Anita Malfatti
(1889 - 1964)
Recebi via internet uma propaganda para um produto que será lançado no dia 7 de setembro. O produto é uma indignação geral com o estado geral das coisas. A apresentação é bem feita, coisa de profissional. Mas a mensagem...- é o tal panelaço, que os argentinos faziam muito bem e nós nunca conseguimos repetir porque não vamos andar por aí com panelas, certo? nosso sentimento nacionalista nunca foi por demais arraigado, digamos assim, a não ser por força das armadas. Preferimos uma cerveja gelada e um jogo de futebol.
O movimento (?) prega uma união geral dos lesados pelo sistema, fala em canalhada, "saco cheio" (pra ficar mais popular) e escroques, palavra que ninguém mais lembra o que é.
Traz uma máxima de Lima Barreto, que diz que "O Brasil não tem povo, tem público", mas não engana ninguém. Ou engana(?)
7 de setembro, para mim, não é só o dia da independência, mas o dia de aniversário de minha filha, quando a tínhamos, e em 1992 o bolo foi decorado com uma passeada que conclamava "Fora Collor". Há 19 anos. Ela não está mais, mas Collor está aí.
7 de setembro, para mim, não é só o dia da independência, mas o dia de aniversário de minha filha, quando a tínhamos, e em 1992 o bolo foi decorado com uma passeada que conclamava "Fora Collor". Há 19 anos. Ela não está mais, mas Collor está aí.
Sabemos, no entanto, o que aconteceu. Parece que de lá para cá tem arrefecido o nosso ânimo para mudança. Tudo muda? Claro que sim, mas muito lentamente. É recente a independência, é recente a abolição da escravatura, e fomos pegos ainda pequenos pela globalização, que massificou principalmente a corrupção. Saímos das reuniões dos coronéis para a corrupção tecnológica, sempre amparados pela lei. Como combater as oligarquias e cobrar da Justiça republicana se ainda pagamos o laudêmio? Quem me explica essa vocação para a vassalagem?
Pois bem, o email considera que se no dia 7 de setembro, às 17h, durante uma hora, todas as pessoas se manifestarem, estará resgatada a esperança e então "iniciaremos a mudança".
Iniciaremos quem, boludo? No outro dia cada um fará o que tem que fazer, atendendo seus interesses particulares mais prementes, aceitando até "um agrado", enquanto segue o que não tem remédio nem nunca terá. Os caras ainda exigem que a lei se faça (como puder) punindo os culpados. Parece que não sabem que a lei não se cumpre quando pode, ela se cumpre quando quer.
Não fiquemos tristes, no entanto. Lembremos um brasileiro, Vinicius de Moraes, e nossos corações se encherão de orgulho, de amor à terra, de terno sentimento em relação a nós mesmos, que desejamos tanto ser cidadãos, mas só temos consolo nas palavras do Poeta.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!
...
Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes".
Arrasou geral! Gostei ainda mais da lembrança de Vinicius, sempre lembrado por espíritos simples como romântico, quando foi igualmente revolucionário amante de seu povo.
ResponderExcluirBem-vinda à blogosfera, teu talento fazia falta
ResponderExcluirneste espaço, os heróis da resistência não desistem.
O título do blog é originalíssimo, como só quem seja Helena Ortiz pode ser.
beijo