Morreu o poeta. Mais um. Desta vez foi o poeta Antonio Olinto.
A imprensa deu destaque. Antonio Olinto era um poeta importante, com uma obra extensa e uma movimentada atuação política, além de ser membro da ABL.
Também tinha uma peculiaridade que os jornais não informam, mas que importa: lia os novos. Interessava-se por eles. Coisa rara.
Desde que este blog existe, morreram Idea Vilariño, Mário Benedetti, Rodrigo de Souza Leão, Anibal Beça e Antonio Olinto. Fora os que não conheci.
Fico triste. Já são tão poucos.
Além disso, ninguém me informa que nasceu um poeta. Quisera saber. Mas como sabê-lo? Certamente entre tantos nascimentos terá nascido um, ou mais. Sempre poucos. Um dia saberão, mas quando? E eu, saberei que o poeta nasceu e viverá?
Não. Só sei que se vão e a sua poesia, muitas vezes, se vai com eles. Às vezes retorna iluminando o sentimento de um leitor jamais imaginado. E então, contrariando os que dizem que poesia não serve para nada, terá servido. E terá trazido ao mundo, novamente, o poeta.
Abaixo, o que deu na imprensa, para aqueles que não sabem quem foi Antonio Olinto. Mas antes, um poema
O crime da máquina
A máquina rodou só
nos trilhos limpos,
foi matar a menina de vermelho.
Bastou um grito para o espanto
fixar-se na tarde.
Desceu gente de longe,
homens pisaram pedras,
mulheres jogaram noites na pressa,
os pais surgiram de súbito.
Um sangue ungia rodas e trilhos,
pedaço de vestido repousava em dormente.
Lanternas acesas na lida em vôo,
foram examinar a máquina,
o freio intacto,
as peças nuas,
a chaminé parada em pânico.
Rodara só
nos trilhos limpos.
Em desvio de falas,
colheram saudades da menina,
assistiram ao desfile das pausas,
contaram casos de nascimento.
A manhã parou na máquina,
os homens trouxeram cadeiras,
fizeram um círculo de vozes,
ergueram pedaços do crime.
Depois, tomaram café,
deram seus votos
e fitaram, em rápida apreensão,
a máquina condenada.
Levaram-na para um desvio,
destruíram os trilhos de um lado e de outro,
fundaram cerca de arame ao redor,
deixaram placa de madeira
com letras em quase cruz.
Quando as outras máquinas passam
nos trilhos mais longe
apitam avisos,
rodam mandadas,
contemplam a cela tênue,
plantas agora buscando as fendas
da quieta locomotiva.
O crime da máquina
A máquina rodou só
nos trilhos limpos,
foi matar a menina de vermelho.
Bastou um grito para o espanto
fixar-se na tarde.
Desceu gente de longe,
homens pisaram pedras,
mulheres jogaram noites na pressa,
os pais surgiram de súbito.
Um sangue ungia rodas e trilhos,
pedaço de vestido repousava em dormente.
Lanternas acesas na lida em vôo,
foram examinar a máquina,
o freio intacto,
as peças nuas,
a chaminé parada em pânico.
Rodara só
nos trilhos limpos.
Em desvio de falas,
colheram saudades da menina,
assistiram ao desfile das pausas,
contaram casos de nascimento.
A manhã parou na máquina,
os homens trouxeram cadeiras,
fizeram um círculo de vozes,
ergueram pedaços do crime.
Depois, tomaram café,
deram seus votos
e fitaram, em rápida apreensão,
a máquina condenada.
Levaram-na para um desvio,
destruíram os trilhos de um lado e de outro,
fundaram cerca de arame ao redor,
deixaram placa de madeira
com letras em quase cruz.
Quando as outras máquinas passam
nos trilhos mais longe
apitam avisos,
rodam mandadas,
contemplam a cela tênue,
plantas agora buscando as fendas
da quieta locomotiva.
Morreu na madrugada de sábado, 12, no Rio, o acadêmico Antonio Olinto. Tinha 90 anos e estava em seu apartamento, em Copacabana. Escritor, crítico literário, ensaísta e ex-adido cultural brasileiro em Lagos (Nigéria) e em Londres, Olinto ocupava havia exatamente 12 anos a cadeira de número 8 da Academia Brasileira de Letras (ABL), que até então era de Antonio Callado. O corpo foi velado na ABL para o sepultamento no Mausoléu Acadêmico, no cemitério São João Batista. Ele teve falência múltipla dos órgãos.
Olinto tinha prazer de frequentar as sessões da ABL, de organizar seminários e de viajar para participar de conferências. Esteve em mais de 40 cidades no mundo falando sobre cultura brasileira, de Seul, na Coreia do Sul, a Abidjan, na Costa do Marfim. É descrito pelos colegas como um acadêmico muito entusiasmado.
A idade avançada não o impediu de desfilar duas vezes no Sambódromo - em 2007, pela Mangueira, quando houve homenagem para a escola da Língua Portuguesa, e este ano, pela Mocidade, cujo enredo eram Machado de Assis e Guimarães Rosa. "Olinto foi uma das pessoas mais aplaudidas pelo público", contou o presidente da ABL, Cícero Sandroni, que estava com ele no carro alegórico, no último carnaval.Os dois eram amigos e companheiros de trabalho desde os anos 50, quando Olinto atuava como crítico literário. Foi nesta década que ele se casou com a escritora e jornalista Zora Seljan, que trabalhava, então, como crítica de teatro. Em 1962, Olinto foi nomeado adido cultural do Brasil em Lagos. Ele percorreu parte do continente em busca do estreitamento dos laços entre o Brasil e o continente africano.
A cultura local o inspirou naquela que é considerada sua fase mais importante, a da trilogia A Casa da Água, O Rei do Keto e Trono de Vidro, com traduções para 19 idiomas. "Ele era um farol brasileiro voltado para a África", apontou o imortal Marcos Vilaça. A última publicação de Olinto saiu em 2002, uma biografia de Ary Barroso. Ele também era pintor e chegou a fazer exposição em 2003.
Olinto (Antonio Olyntho Marques da Rocha) era mineiro de Ubá. Não teve filhos. Ficou viúvo em 2006, quando contava 50 anos de casamento. Desde então, abateu-se, embora mantivesse suas atividades na ABL. Em março, teve problemas de saúde e foi internado, mas voltou para casa, onde contava com a ajuda de uma secretária.
As cadeiras da ABL estão todas ocupadas desde novembro de 2008, quando o jornalista Luiz Paulo Horta tomou posse. Ele sucedeu Zélia Gattai, que morrera seis meses antes. Uma candidata que chegou a disputar com Horta, mas retirou sua candidatura no início do processo, pode vir a participar da eleição para a cadeira de Olinto: a professora Cleonice Berardinelli, especializada em literatura portuguesa. A vaga será oficialmente declarada aberta na próxima quinta-feira, ao fim da Sessão de Saudade.
Olinto tinha prazer de frequentar as sessões da ABL, de organizar seminários e de viajar para participar de conferências. Esteve em mais de 40 cidades no mundo falando sobre cultura brasileira, de Seul, na Coreia do Sul, a Abidjan, na Costa do Marfim. É descrito pelos colegas como um acadêmico muito entusiasmado.
A idade avançada não o impediu de desfilar duas vezes no Sambódromo - em 2007, pela Mangueira, quando houve homenagem para a escola da Língua Portuguesa, e este ano, pela Mocidade, cujo enredo eram Machado de Assis e Guimarães Rosa. "Olinto foi uma das pessoas mais aplaudidas pelo público", contou o presidente da ABL, Cícero Sandroni, que estava com ele no carro alegórico, no último carnaval.Os dois eram amigos e companheiros de trabalho desde os anos 50, quando Olinto atuava como crítico literário. Foi nesta década que ele se casou com a escritora e jornalista Zora Seljan, que trabalhava, então, como crítica de teatro. Em 1962, Olinto foi nomeado adido cultural do Brasil em Lagos. Ele percorreu parte do continente em busca do estreitamento dos laços entre o Brasil e o continente africano.
A cultura local o inspirou naquela que é considerada sua fase mais importante, a da trilogia A Casa da Água, O Rei do Keto e Trono de Vidro, com traduções para 19 idiomas. "Ele era um farol brasileiro voltado para a África", apontou o imortal Marcos Vilaça. A última publicação de Olinto saiu em 2002, uma biografia de Ary Barroso. Ele também era pintor e chegou a fazer exposição em 2003.
Olinto (Antonio Olyntho Marques da Rocha) era mineiro de Ubá. Não teve filhos. Ficou viúvo em 2006, quando contava 50 anos de casamento. Desde então, abateu-se, embora mantivesse suas atividades na ABL. Em março, teve problemas de saúde e foi internado, mas voltou para casa, onde contava com a ajuda de uma secretária.
As cadeiras da ABL estão todas ocupadas desde novembro de 2008, quando o jornalista Luiz Paulo Horta tomou posse. Ele sucedeu Zélia Gattai, que morrera seis meses antes. Uma candidata que chegou a disputar com Horta, mas retirou sua candidatura no início do processo, pode vir a participar da eleição para a cadeira de Olinto: a professora Cleonice Berardinelli, especializada em literatura portuguesa. A vaga será oficialmente declarada aberta na próxima quinta-feira, ao fim da Sessão de Saudade.
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