Dia 27 de outubro, dia em que nasceu Graciliano Ramos.
Não vejo nada melhor do que isso para escrever.
Os tempos andam maus. As pessoas têm sido capazes de atos, contra si e contra os outros, que nos deixam perplexas. A violência tem muitas caras, a autoridade tem muitas máscaras. A famosa opinião pública opina, mas as soluções não vêm de lado nenhum.
A injustiça que Graciliano Ramos conheceu tão cedo não mudou muito, de lá para cá, enquanto a chamada justiça existe no papel, e quando chega (confundida com punição) chega tarde. Nunca é capaz de poupar a vítima da tragédia, do medo ou do desespero.
A justiça não existe.
Por isso fiquem com o conto, que é sempre novo, sempre terrível, sempre um exemplo da violência de que o ser humano é capaz e da força, de que também é capaz, de sobreviver aos ataques das feras em que, quando menos se espera, transforma-se o seu semelhante, sem que justiça alguma possa impedir.
A justiça não existe.
Por isso fiquem com o conto, que é sempre novo, sempre terrível, sempre um exemplo da violência de que o ser humano é capaz e da força, de que também é capaz, de sobreviver aos ataques das feras em que, quando menos se espera, transforma-se o seu semelhante, sem que justiça alguma possa impedir.
Um cinturão
Graciliano Ramos
As minhas primeiras relações com a justiça foram dolorosas e deixaram-me funda impressão. Eu devia ter quatro ou cinco anos, por aí, e figurei na qualidade de réu. Certamente já me haviam feito representar esse papel, mas ninguém me dera a entender que se tratava de julgamento. Batiam-me porque podiam bater-me, e isto era natural.
Os golpes que recebi antes do caso do cinturão, puramente físicos, desapareciam quando findava a dor. Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa que me pintou as costas de manchas sangrentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade, eu distinguia nas costelas grandes lanhos vermelhos. Deitaram-me, enrolaram-me em panos molhados com água de sal – e houve uma discussão na família. Minha avó, que nos visitava, condenou o procedimento da filha e esta afligiu-se. Irritada, ferira-me à toa, sem querer. Não guardei ódio à minha mãe. O culpado era o nó. Se não fosse ele, a flagelação me haveria causado menor estrago. E estaria esquecida. A história do cinturão, que veio pouco depois, avivou-a.
Meu pai dormia na rede, armada na sala enorme. Tudo é nebuloso. Paredes extraordinariamente afastadas, rede infinita, os armadores longe, e meu pai acordando, levantando-se de mau humor, batendo com os chinelos no chão, a cara enferrujada. Naturalmente não me lembro da ferrugem, das rugas, da voz áspera, do tempo que ele consumiu rosnando uma exigência. Sei que estava bastante zangado, e isto me trouxe a covardia habitual. Desejei vê-lo dirigir-se à minha mãe e a José Baía, pessoas grandes, que não levavam pancada. Tentei ansiosamente fixar-me nessa esperança frágil. A força de meu pai encontraria resistência e gastar-se-ia em palavras.
Débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa, fui encolher-me num canto, para lá dos caixões verdes. Se o pavor não me segurasse, tentaria escapulir-me: pela porta da frente chegaria ao açude, pela do corredor acharia o pé de turco. Devo ter pensado nisso, imóvel, atrás dos caixões. Só queria que minha mãe, sinhá Leopoldina, Amaro e José Baía surgissem de repente, me livrassem daquele perigo.
Ninguém veio, meu pai me descobriu acocorado e sem fôlego, colado ao muro, e arrancou-me dali violentamente, reclamando um cinturão. Onde estava o cinturão? Eu não sabia, mas era difícil explicar-me: atrapalhava-me, gaguejava, embrutecido, sem atinar com o motivo da raiva. Os modos brutais, coléricos, atavam-me; os sons duros morriam, desprovidos de significação.
Não consigo reproduzir toda a cena. Juntando vagas lembranças dela a fatos que se deram depois, imagino os berros de meu pai, a zanga terrível, a minha tremura infeliz. Provavelmente fui sacudido. O assombro gelava-me o sangue, escancarava-me os olhos.
Onde estava o cinturão? Impossível responder. Ainda que tivesse escondido o infame objeto, emudeceria, tão apavorado me achava. Situações deste gênero constituíram as maiores torturas da minha infância, e as conseqüências delas me acompanharam.
O homem não me perguntava se eu tinha guardado a miserável correia: ordenava que a entregasse imediatamente. Os seus gritos me entravam na cabeça, nunca ninguém se esgoelou de semelhante maneira.
Onde estava o cinturão? Hoje não posso ouvir uma pessoa falar alto. O coração bate-me forte, desanima, como se fosse parar, a voz emperra, a vista escurece, uma cólera doida agita coisas adormecidas cá dentro. A horrível sensação de que me furam os tímpanos com pontas de ferro.
Onde estava o cinturão? A pergunta repisada ficou-me na lembrança: parece que foi pregada a martelo.
A fúria louca ia aumentar, causar-me sério desgosto. Conservar-me-ia ali desmaiado, encolhido, movendo os dedos frios, os beiços trêmulos e silenciosos. Se o moleque José ou um cachorro entrasse na sala, talvez as pancadas se transferissem. O moleque e os cachorros eram inocentes, mas não se tratava disto. Responsabilizando qualquer deles, meu pai me esqueceria, deixar-me-ia fugir, esconder-me na beira do açude ou no quintal.
Minha mãe, José Baía, Amaro, sinhá Leopoldina, o moleque e os cachorros da fazenda abandonaram-me. Aperto na garganta, a casa a girar, o meu corpo a cair lento, voando, abelhas de todos os cortiços enchendo-me os ouvidos – e, nesse zunzum, a pergunta medonha. Náusea, sono. Onde estava o cinturão? Dormir muito, atrás dos caixões, livre do martírio.
Havia uma neblina, e não percebi direito os movimentos de meu pai.Não o vi aproximar-se do torno e pegar o chicote.A mão cabeluda prendeu-me, arrastou-me para o meio da sala, a folha de couro fustigou-me as costas. Uivos, alarido inútil, estertor. Já então eu devia saber que rogos e adulações exasperavam o algoz. Nenhum socorro. José Baía, meu amigo, era um pobre-diabo.
Achava-me num deserto. A casa escura, triste; as pessoas tristes. Penso com horror nesse ermo, recordo-me de cemitérios e de ruínas mal-assombradas. Cerravam-se as portas e as janelas, do teto negro pendiam teias de aranha. Nos quartos lúgubres minha irmãzinha engatinhava, começava a aprendizagem dolorosa.
Junto de mim, um homem furioso, segurando-me um braço, açoitando-me. Talvez as vergastadas não fossem muito fortes: comparadas ao que senti depois, quando me ensinaram a carta de A B C, valiam pouco. Certamente o meu choro, os saltos, as tentativas para rodopiar na sala como carrapeta, eram menos um sinal de dor que a explosão do medo reprimido. Estivera sem bulir, quase sem respirar. Agora esvaziava os pulmões, movia-me, num desespero.
O suplício durou bastante, mas, por muito prolongado que tenha sido, não igualava a mortificação da fase preparatória: o olho duro a magnetizar-me, os gestos ameaçadores, a voz rouca a mastigar uma interrogação incompreensível.
Solto, fui enroscar-me perto dos caixões, coçar as pisaduras, engolir soluços, gemer baixinho e embalar-me com os gemidos.Antes de adormecer, cansado, vi meu pai dirigir-se à rede, afastar as varandas, sentar-se e logo se levantar, agarrando uma tira de sola, o maldito cinturão, a que desprendera a fivela quando se deitara. Resmungou e entrou a passear agitado. Tive a impressão de que ia falar-me: baixou a cabeça, a cara enrugada serenou, os olhos esmoreceram, procuraram o refúgio onde me abatia, aniquilado.
Pareceu-me que a figura imponente minguava – e a minha desgraça diminuiu. Se meu pai se tivesse chegado a mim, eu o teria recebido sem o arrepio que a presença dele sempre me deu. Não se aproximou: conservou-se longe, rondando, inquieto. Depois se afastou.
Sozinho, vi-o de novo cruel e forte, soprando, espumando. E ali permaneci, miúdo, insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que trabalhavam na telha negra.
Foi esse o primeiro contato que tive com a justiça.
Graciliano Ramos
As minhas primeiras relações com a justiça foram dolorosas e deixaram-me funda impressão. Eu devia ter quatro ou cinco anos, por aí, e figurei na qualidade de réu. Certamente já me haviam feito representar esse papel, mas ninguém me dera a entender que se tratava de julgamento. Batiam-me porque podiam bater-me, e isto era natural.
Os golpes que recebi antes do caso do cinturão, puramente físicos, desapareciam quando findava a dor. Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa que me pintou as costas de manchas sangrentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade, eu distinguia nas costelas grandes lanhos vermelhos. Deitaram-me, enrolaram-me em panos molhados com água de sal – e houve uma discussão na família. Minha avó, que nos visitava, condenou o procedimento da filha e esta afligiu-se. Irritada, ferira-me à toa, sem querer. Não guardei ódio à minha mãe. O culpado era o nó. Se não fosse ele, a flagelação me haveria causado menor estrago. E estaria esquecida. A história do cinturão, que veio pouco depois, avivou-a.
Meu pai dormia na rede, armada na sala enorme. Tudo é nebuloso. Paredes extraordinariamente afastadas, rede infinita, os armadores longe, e meu pai acordando, levantando-se de mau humor, batendo com os chinelos no chão, a cara enferrujada. Naturalmente não me lembro da ferrugem, das rugas, da voz áspera, do tempo que ele consumiu rosnando uma exigência. Sei que estava bastante zangado, e isto me trouxe a covardia habitual. Desejei vê-lo dirigir-se à minha mãe e a José Baía, pessoas grandes, que não levavam pancada. Tentei ansiosamente fixar-me nessa esperança frágil. A força de meu pai encontraria resistência e gastar-se-ia em palavras.
Débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa, fui encolher-me num canto, para lá dos caixões verdes. Se o pavor não me segurasse, tentaria escapulir-me: pela porta da frente chegaria ao açude, pela do corredor acharia o pé de turco. Devo ter pensado nisso, imóvel, atrás dos caixões. Só queria que minha mãe, sinhá Leopoldina, Amaro e José Baía surgissem de repente, me livrassem daquele perigo.
Ninguém veio, meu pai me descobriu acocorado e sem fôlego, colado ao muro, e arrancou-me dali violentamente, reclamando um cinturão. Onde estava o cinturão? Eu não sabia, mas era difícil explicar-me: atrapalhava-me, gaguejava, embrutecido, sem atinar com o motivo da raiva. Os modos brutais, coléricos, atavam-me; os sons duros morriam, desprovidos de significação.
Não consigo reproduzir toda a cena. Juntando vagas lembranças dela a fatos que se deram depois, imagino os berros de meu pai, a zanga terrível, a minha tremura infeliz. Provavelmente fui sacudido. O assombro gelava-me o sangue, escancarava-me os olhos.
Onde estava o cinturão? Impossível responder. Ainda que tivesse escondido o infame objeto, emudeceria, tão apavorado me achava. Situações deste gênero constituíram as maiores torturas da minha infância, e as conseqüências delas me acompanharam.
O homem não me perguntava se eu tinha guardado a miserável correia: ordenava que a entregasse imediatamente. Os seus gritos me entravam na cabeça, nunca ninguém se esgoelou de semelhante maneira.
Onde estava o cinturão? Hoje não posso ouvir uma pessoa falar alto. O coração bate-me forte, desanima, como se fosse parar, a voz emperra, a vista escurece, uma cólera doida agita coisas adormecidas cá dentro. A horrível sensação de que me furam os tímpanos com pontas de ferro.
Onde estava o cinturão? A pergunta repisada ficou-me na lembrança: parece que foi pregada a martelo.
A fúria louca ia aumentar, causar-me sério desgosto. Conservar-me-ia ali desmaiado, encolhido, movendo os dedos frios, os beiços trêmulos e silenciosos. Se o moleque José ou um cachorro entrasse na sala, talvez as pancadas se transferissem. O moleque e os cachorros eram inocentes, mas não se tratava disto. Responsabilizando qualquer deles, meu pai me esqueceria, deixar-me-ia fugir, esconder-me na beira do açude ou no quintal.
Minha mãe, José Baía, Amaro, sinhá Leopoldina, o moleque e os cachorros da fazenda abandonaram-me. Aperto na garganta, a casa a girar, o meu corpo a cair lento, voando, abelhas de todos os cortiços enchendo-me os ouvidos – e, nesse zunzum, a pergunta medonha. Náusea, sono. Onde estava o cinturão? Dormir muito, atrás dos caixões, livre do martírio.
Havia uma neblina, e não percebi direito os movimentos de meu pai.Não o vi aproximar-se do torno e pegar o chicote.A mão cabeluda prendeu-me, arrastou-me para o meio da sala, a folha de couro fustigou-me as costas. Uivos, alarido inútil, estertor. Já então eu devia saber que rogos e adulações exasperavam o algoz. Nenhum socorro. José Baía, meu amigo, era um pobre-diabo.
Achava-me num deserto. A casa escura, triste; as pessoas tristes. Penso com horror nesse ermo, recordo-me de cemitérios e de ruínas mal-assombradas. Cerravam-se as portas e as janelas, do teto negro pendiam teias de aranha. Nos quartos lúgubres minha irmãzinha engatinhava, começava a aprendizagem dolorosa.
Junto de mim, um homem furioso, segurando-me um braço, açoitando-me. Talvez as vergastadas não fossem muito fortes: comparadas ao que senti depois, quando me ensinaram a carta de A B C, valiam pouco. Certamente o meu choro, os saltos, as tentativas para rodopiar na sala como carrapeta, eram menos um sinal de dor que a explosão do medo reprimido. Estivera sem bulir, quase sem respirar. Agora esvaziava os pulmões, movia-me, num desespero.
O suplício durou bastante, mas, por muito prolongado que tenha sido, não igualava a mortificação da fase preparatória: o olho duro a magnetizar-me, os gestos ameaçadores, a voz rouca a mastigar uma interrogação incompreensível.
Solto, fui enroscar-me perto dos caixões, coçar as pisaduras, engolir soluços, gemer baixinho e embalar-me com os gemidos.Antes de adormecer, cansado, vi meu pai dirigir-se à rede, afastar as varandas, sentar-se e logo se levantar, agarrando uma tira de sola, o maldito cinturão, a que desprendera a fivela quando se deitara. Resmungou e entrou a passear agitado. Tive a impressão de que ia falar-me: baixou a cabeça, a cara enrugada serenou, os olhos esmoreceram, procuraram o refúgio onde me abatia, aniquilado.
Pareceu-me que a figura imponente minguava – e a minha desgraça diminuiu. Se meu pai se tivesse chegado a mim, eu o teria recebido sem o arrepio que a presença dele sempre me deu. Não se aproximou: conservou-se longe, rondando, inquieto. Depois se afastou.
Sozinho, vi-o de novo cruel e forte, soprando, espumando. E ali permaneci, miúdo, insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que trabalhavam na telha negra.
Foi esse o primeiro contato que tive com a justiça.
Helena,
ResponderExcluirnão conhecia o conto. me deu nó na garganta. talvez porque eu conheça intimimamente a primeira fase da história(me livrei das vias do fato). depois de gato e polícia, a coisa que mais me mete medo é a cólera, a ameaça, a violência iminente. o velho graça
me botou de cócoras com ele, morta de medo.
obrigada pelo presente.
beijim
lena
Bofetadas de meu pai na cara, sem que nem pra que, recebi até os 16 anos. Sinistra pedagogia, a mesma que encontro neste conto do superior Graciliano. Parabéns, Helena, pela belíssima homenagem!
ResponderExcluirLena,
ResponderExcluirEstá em Infância - que na época, consideraram uma interseção em relação aos gêneros literários.
Mariel Reis
Tinha ese trabalho sobre esse conto e achei oportuno te enviar. É um ponto de vista complementar.
ResponderExcluirUm beijo, Rosália Milsztajn
O Cinturão , de Graciliano Ramos
Por Rosália MIlsztajn
O conto O Cinturão poderia ser um relato de um paciente em psicanálise, contando ao seu analista suas mais dolorosas lembranças de infância, e sua relação com seus pais, tal a profundidade psicológica que o autor alcança na descrição dos sentimentos, medos e desejos infantis que habitam a mente humana.
Por outro lado poderia ser um depoimento de uma vítima de abuso de poder e de violência doméstica levantando questões éticas importantes, tal a vivacidade da linguagem na descrição, crua , forte, da violência sofrida pelo narrador e personagem do conto.
O narrador descreve duas cenas infantis onde foi espancando , primeiro por sua mãe e uma outra cena mais importante e descrita com maiores minúcias, pelo seu pai que guardou na memória como absolutamente traumática e inesquecível.
Logo no início da leitura do Cinturão o que chama atenção e me parece o mais intrigante, é , como a vítima , o menino de 4 ou 5 anos, pode transformar-se em réu? O que fez ele? Qual sua culpa?
De que julgamento o menino estava participando?
Que espécie de justiça o conte se refere?
Por que seria natural os pais baterem em seus filhos?
Por que não guardou ódio de sua mãe e a desculpava colocando a culpa na corda? E os golpes físicos desapareciam quando findava a dor?
Por que seria a ameaça do pai pior que a dor física e pior que apanhar de sua mãe? Seria um outro tipo de ameaça? Parece que sim!
O menino se julgava um covarde habitual, débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa, ao invés de sentir-se violentado, injustiçado. Por que deveria ele explicar-se onde estava o cinturão ?
Medo, muito medo reprimido , como fala o narrador, pois mesmo que soubesse onde estava o cinturão seria impossível responder, “emudecia, tão apavorado que se achava”, e continua: “situação desse gênero constituíam as maiores torturas de minha infância” e ainda, “O moleque e os cachorros eram inocentes”, e ele não era?
O martírio e o suplicio ao qual se refere estariam muito mais ligados a um medo reprimido e a ameaça que seu pai representava, “O suplicio... por muito prolongado que tivesse sido não igualava a mortificação da fase preparatória: o olho dele a magnetizar-me, os gestos ameaçadores, a voz rouca a mastigar uma interrogação incompreensível”.
Segundo Sigmund Freud, na infância exatamente na idade do personagem do conto, isto é , entre quatro e cinco anos, o menino sente-se muito ameaçado pela figura do pai , e tem medo de ser e punido por ele e até castrado pelo desejo incestuoso que tem pela mãe. Resumidamente , isto é o que se denominou como Complexo de Édipo. No conto apesar de uma situação de realidade acontecer, isto é , a violência dos pais em relação ao filho, tão real e atual encontrada em nossa sociedade, existe um horror a mais, um medo reprimido a mais, uma vítima que se considera réu, uma atitude de alguém que merece castigo, além de toda a fragilidade de uma criança frente a agressão de um adulto. Talvez isso possa explicar porque se coloca como réu e não como vítima, porque o sentimento que fica da surra de sua mãe é diferente da do seu pai e talvez esse julgamento e a justiça que o narrador se refira esteja ligada a essas fantasias mais profundas da mente humana. E a incapacidade do pai de pedir perdão ao menino pela injustiça cometida em relação a ele, quando achou o cinturão, poderia aliviar a culpa inconsciente do filho, e este por sua vez poderia sentir-se mais amado com sua auto estima aumentada , “E ali permaneci, miúdo, insignificante, tão miúdo e insignificante como as aranhas que trabalham na telha negra”. “Foi esse o primeiro contato que tive com a justiça”. A justiça aconteceu no nível inconsciente. E na outra camada , isto é da realidade, a justiça parece que sempre é um pouco injusta. O conto é uma criação literária que é ao mesmo tempo denúncia e testemunho.
querida Helena,
ResponderExcluirmis saludos desde Santiago de Chile, he perdido la comunicación con usted querida amiga y poeta, espero retomar por este medio te dejo mi nuevo email: tallerleolobos@yahoo.com
saludos desde el sur de AMERICA
Leo Lobos
Também não conhecia esse conto tão intenso do Graciliano. Embora meus pais não usassem comigo esse tipo de tortura,ainda hoje lembro-me bem da revolta que eu sentia ao assistir, quase diariamente,pela janela de casa, a vizinha surrar o próprio filho. Eu nutria por ela um ódio de morte. Além da dor física ainda a dor moral. Talvez ele se sentisse mesmo culpado ou envergonhado. O fato é que nunca brincamos,sequer um dia nos falamos,mas eu nunca o esqueci.
ResponderExcluirFiz faculdade de Letras e, em um dos 4 anos, ouvi falar ou li algo sobre esta obra dele, mas nunca conseguia encontrar para ler, porém, li um livro, cuja história é MUITO PARECIDA com a que o personagem deste conto sofreu, apesar da autora ser estrangeira. O livro se chama "Um Longo Caminho para Casa", de Danielle Steel, que também contem trechos fortes. Recomendo, pois é muito bom, faz a gente refletir sobre nossos atos para com os outros e as consequências dessa violência sobre as pessoas. Mas, Anônimo, dá vontade de avançar numa pessoa que faz isso, hein? Essa sua vizinha, por exemplo, imaginemos o que o garoto devia estar sentindo e como deve estar hoje. Espero que esteja bem. Fiquem com Deus!
Excluirhelena,querida,
ResponderExcluirpostei como anônimo o comentário sobre a vizinha que batia no filho,mas quero que saibam que o anônimo de 01/11 sou eu. Elida
beijo e parabéns