Cheguei de São Paulo toda lampeira, entusiasmada com a intensa movimentação literária, mas a situação no Rio conseguiu esmorecer esse entusiasmo. Não há entusiasmo que resista aos transtornos e tragédias da guerra. Tragédias pequenas, pessoais, de pequena repercussão. Filhos perdidos, vidas marcadas.
Os arrastões freqüentes em vários pontos da cidade já surgiam como resultado da política de "pacificação" das favelas cariocas, onde os pobres vivem acuados, entregues à lei do mais forte, seja polícia ou bandido.
Seria uma ingenuidade pensar que depois de perder mercado os traficantes não fossem buscar outras fontes. Aliás, se não fosse contra a lei isso tudo seria chamado de "empreendedorismo".
A televisão, o governo, grande parte da população apóia as ações belicistas e mostrou isso nas urnas, mas eu sigo pensando que ante a impossibilidade de impedir o avanço das drogas (a todo instante uma droga é inventada) a única solução pacífica é legalizá-las, e não fazê-lo, se não é burrice, é puro interesse pelo dinheiro (que não é pouco), que sustenta a corrupção.
A legalização seria o verdadeiro golpe no reinado do tráfico. É claro que não impediria o crime, mas certamente a lei serviria para organizar o mercado, captar recursos e investir em educação, que é o de que mais precisamos.
A operação de guerra montada pelas polícias do Rio e as forças armadas desencadeada no dia 25 e considerada um SUCESSO REPRESSIVO, não impediu, no entanto, que cinco veículos fossem incendiados durante a noite e não impedirá que o monstro criado com migalhas por uma sociedade racista e desigual tenha crescido, em força e raiva, e agora jogue seus tentáculos sobre a cidade que o ignorou. Tudo era previsível, e até demorou.
Durante toda a cobertura sobre os episódios assustadores que a cidade enfrenta não se ouviu uma única voz (sim, elas existem e são muitas) falando sobre a possibilidade de um novo modelo de política relativa às drogas. Parece que a guerra também dá barato. Tudo é feito como se confronto, repressão, prisão e morte fossem as únicas soluções para a segurança.
E vocês sabem que a gente colhe o que semeia. Querem guerra, aí está. Quanto estará custando? E quanto valem as vidas já perdidas?
PS. Ao recomendar que a população da Vila Cruzeiro se protegesse nos momentos da ação da polícia o jornalista da Globo disse que as pessoas não ficassem nas janelas e fossem para os corredores das casas.
Corredor, meu filho? Nunca subiu uma favela e não sabe em que espaço habitam os pobres.
Talvez seja isso que assegure uma política equivocada. Tratam do que não conhecem. E quando conhecem, é só teoria.
Os arrastões freqüentes em vários pontos da cidade já surgiam como resultado da política de "pacificação" das favelas cariocas, onde os pobres vivem acuados, entregues à lei do mais forte, seja polícia ou bandido.
Seria uma ingenuidade pensar que depois de perder mercado os traficantes não fossem buscar outras fontes. Aliás, se não fosse contra a lei isso tudo seria chamado de "empreendedorismo".
A televisão, o governo, grande parte da população apóia as ações belicistas e mostrou isso nas urnas, mas eu sigo pensando que ante a impossibilidade de impedir o avanço das drogas (a todo instante uma droga é inventada) a única solução pacífica é legalizá-las, e não fazê-lo, se não é burrice, é puro interesse pelo dinheiro (que não é pouco), que sustenta a corrupção.
A legalização seria o verdadeiro golpe no reinado do tráfico. É claro que não impediria o crime, mas certamente a lei serviria para organizar o mercado, captar recursos e investir em educação, que é o de que mais precisamos.
A operação de guerra montada pelas polícias do Rio e as forças armadas desencadeada no dia 25 e considerada um SUCESSO REPRESSIVO, não impediu, no entanto, que cinco veículos fossem incendiados durante a noite e não impedirá que o monstro criado com migalhas por uma sociedade racista e desigual tenha crescido, em força e raiva, e agora jogue seus tentáculos sobre a cidade que o ignorou. Tudo era previsível, e até demorou.
Durante toda a cobertura sobre os episódios assustadores que a cidade enfrenta não se ouviu uma única voz (sim, elas existem e são muitas) falando sobre a possibilidade de um novo modelo de política relativa às drogas. Parece que a guerra também dá barato. Tudo é feito como se confronto, repressão, prisão e morte fossem as únicas soluções para a segurança.
E vocês sabem que a gente colhe o que semeia. Querem guerra, aí está. Quanto estará custando? E quanto valem as vidas já perdidas?
PS. Ao recomendar que a população da Vila Cruzeiro se protegesse nos momentos da ação da polícia o jornalista da Globo disse que as pessoas não ficassem nas janelas e fossem para os corredores das casas.
Corredor, meu filho? Nunca subiu uma favela e não sabe em que espaço habitam os pobres.
Talvez seja isso que assegure uma política equivocada. Tratam do que não conhecem. E quando conhecem, é só teoria.
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Mis saludos desde Santiago de Chile, el silencio de los medios de comunicación chilenos con respecto a esta terrible realidad de violencia, pobreza, y abandono que muy bien nos describes querida Helena es parte de una estrategia que permita que los turistas chilenos ni se enteren de esta realidad.
ResponderExcluirComo lo fue a su escala la tragedia de los mineros chilenos, estamos todos hundidos, enterrados vivos en nuestros propios tuneles bajo tierra, ciegos, sordos y mudos ante una terrible realidad.
Leo Lobos
Esta é a melhor apreciação que li a respeito do que acontece na cidade e arredores. Lúcida, incrivelmente lúcida, vc, cara Helena, registra, analisa e delata com cinzel de impiedoso desbaste. Resulta a forma mais apurada. Parabéns!
ResponderExcluirComentarei aqui com a cópia da conversa , ontem, 26/11/2010, no msn, entre mim e meu filho pós (ou ainda) adolescente, que completou recentemente (em outubro) 18 anos de idade:
ResponderExcluirPai: "Eu posso está sorrindo, mas só eu sei a dor que sinto por dentro." corrija para "Eu posso estar sorrindo, mas só eu sei a dor que sinto por dentro."
Filho: ja corrigi, eae pai td blz?
Pai: Olá meu filho...
Filho: blz
Pai: Como VC está aí no Rio de Janeiro...
em meio a toda essa violência?
Filho: eu estou bem, evitando um pouco ficar de bobeira na rua
Pai: ok
Filho: to sem aula por tempo indeterminado
Pai: Por causa do caos?
Filho: sim no dia que fui pra escola teve troca de tiros e 2 veiculos incendiados... ai a escola desitiu de colocar a vida dos alunos em risco... fora que conseguiram detonar o caveirao... com granadas, bomba-relogio e com uma ajudinha de dentes de jacar[e na pista... meu teclado ta ruim... liga nao""
Pai: Fique de fora desses acontecimentos, mas apenas fisicamente... entenda-os como distúrbios sociais... e que as fontes desses mesmos distúrbios... estão disfarçadas, escondidas atrás dos seus próprios comentários na mídia. Lembre-se que a história é contada pelo vencedor... e também manipulada por este... massificada ideologicamente... essa gente que pensa ser vítima apenas de um lado agressor, traficante e viciado... e protegida pelas pseudo forças do bem social. Criam-se justificativas para exterminar o mal (o explorado e seus péssimos costumes) que foi criado pelo explorador. A favela justifica-se como reduto de mão de obra barata para o desenvolvimento da economia... mas é inconveniente quando se levanta contra a opressão, com as armas que o mesmo sistema de produção leva até lá... e eu disse armas no sentido não apenas bélico... mas também barbitúrico... que faz o faminto sonhar... um mundo diferente do que está vivendo. Essa guerra não é nossa como proteção ao Estado de Direito... pois o Estado de Direito está a proteger o direito de alguns... que tem mais direitos do que a maioria sem direitos.
Um beijo na sua irmã.
Papai.
Eu posso estar sorrindo, mas só eu sei a dor que sinto por dentro.
rsrsrsrsrsrs
kkkkkkkkk
hehehehehehe