14 de dezembro de 2010

ALDYR GARCIA SCHLEE - FATOS LITERÁRIOS




Todo o mundo sabe que o Rio Grande do Sul tem vida própria, em matéria de literatura. E há quem pense que poderia bastar-se também em outras áreas. Mas isso já é subversão.
O movimento em torno da produção literária das terras gaúchas foi a solução para a dificuldade de penetração no mercado Rio-São Paulo, estados que sempre cuidaram de beneficiar aos seus, como aliás continuam. Vai daí que nomes importantes da literatura se mantêm desconhecidos do grande público (falo em grande público mas quero dizer público possível), mas conhecidíssimos por lá.
O Rio Grande do Sul, que já tem a maior e mais antiga Feira do Livro do Brasil, também sedia o maior evento literário nacional, a Jornada de Literatura de Passo Fundo, que até onde eu sei oferece o maior prêmio literário em dinheiro ao melhor romance em língua portuguesa.

Em 2003 o Grupo RBS, em parceria com o Banrisul e o Governo do Estado instituiu o prêmio FATO LITERÁRIO, e anualmente a Secretaria de Cultura do Estado outorga o Prêmo Açorianos de Literatura, um prêmio de bastante prestígio. No mínimo, um bom exemplo.

Isso é para dizer que no espaço de menos de um mês o escritor Aldyr Garcia Schlee, um dos melhores escritores brasileiros que conheço, recebeu o prêmio Fato Literário e agora, conforme soube, também o Prêmio Açorianos na categoria contos pelo seu extraordinário livro OS LIMITES DO IMPOSSÍVEL - contos gardelianos. Aliás, é a quarta vez que recebe o prêmio Açorianos. E neste ano não podia ser diferente, uma vez que o livro é imbatível.

Escrevi sobre Schlee por ocasião do lançamento d´Os Limites do Impossível. E ainda nem tinha lido o livro. O que li depois foi uma obra excepcional, que nasce de tempos em tempos, flor raríssima; que surpreende, comove, extasia. O artista pode mudar o tempo, o cenário, os fatos. Pode levar o leitor a pensar que ele também é parte da criação, que o sentimento, incorporado à obra, eleva-o à condição de criador. Só um apaixonado pela linguagem, um apaixonado pelo ofício, um incansável e predestinado escritor em sentido amplo pode fazer isso. Nada de invenções de marketing, nada de embromações. Arte pura, trabalho, paixão.

Cumprimentar é pouco. Louvo a existência de Schlee - vida e obra. Porque também a vida que leva é um exercício que o entusiasma, que diz respeito à família, aos amigos, a tantas coisas pelas quais se interessa e discorre com absoluto domínio, sempre com humor.

Espero que venha ao Rio lançar o premiadíssimo livro. É preciso que venha e que os brasileiros - todos - se ufanem do escritor que dizemos nosso, brasileiro, mas que pertence a um universo maior, que somos eu e você, na relação íntima que se estabelece na leitura, no encantamento que se instaura a partir da percepção, via linguagem, do sentimento do mundo.
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Obs: Os limites do impossível foi editado pela ARdotempo, que também acaba de lançar, do autor, DON FRUTOS - romance sobre a vida do caudilho Fructuoso Rivera, presidente da República Oriental do Uruguai em duas oportunidades históricas e indicado a um terceiro mandato em triunvirato, num momento preciso e pontual: cerca de um ano inteiro de vida, o último de sua jornada, vivido em Jaguarão, no sul extremo do Brasil e permeado pelas lembranças sobre os inúmeros episódios de sua espantosa vida de aventuras políticas, amorosas, militares e de barroca construção de um novo país. Frutos Rivera, um dos libertadores da América. Um homem do pampa que assomou à presidência do Uruguai e incluiu-se como um dos fundadores da nova república, entre impérios e potências internacionais. Foi escrito em quatro anos, lastreado num pesquisa exaustiva ao longo de 45 anos, em bibliotecas e arquivos nacionais, no Uruguai e no Brasil.

http://ardotempo.blogs.sapo.pt/

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2 comentários:

  1. Helena, parabéns pelo texto sobre o Schlee. Acompanho a sua obra e dela só posso dizer ser excelente. Não é fácil reunir num só escritor as virtudes da pesquisa e do romance eou conto. Abraços, Pedro

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  2. Não conheço Schlee, mas acredito na sua excelência e fico pensando nesse tal prejuízo literário de ignorar autores brasileiros do Sul, argentinos e uruguaios, pelo menos. Tanta gente boa. Enfim, que continuem escrevendo à revelia da minha santa ignorância.

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