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NATAL
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Fernando Pessoa
Nasce um Deus. Outros morrem. A verdade
Nem veio nem se foi. O Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.
Cega, a Ciência a inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo Deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.
O poema caiu em minhas mãos há poucos dias. Guardei-o, já aberto, para hoje, para dedicá-lo aos leitores desse blog que me permitiu, afinal, retornar à crônica, gênero a que me dediquei nos antigos anos da minha juventude.
Para a crônica nunca falta assunto. As coisas estão acontecendo o tempo inteiro, o mundo está em ebulição. Mas a maravilha é que o cronista pode escever sobre outra coisa, uma sombra que viu na parede ao cair da tarde. A janela envidraçada e uma roseira que tremia. Da rua vinha uma luz rosa, depois da chuva.
Mas é Natal, e ninguém consegue fingir que não é. Que posso dizer-lhes? Ritos e mitos. Acreditar ou não. Tudo é difícil. Mais difícil do que ser é crer. Mas sou uma voz anônima em relação ao mundo. Tenho leitores, é verdade, isso nos faz um mundo. Mas estamos inseridos em outro. E na hora da decisão, qualquer decisão, estamos sempre sós. Não sabemos bem no que isso vai dar, mas a dúvida é antiga e, ao que parece, não tem resposta.
Por mim, o mundo é esse corpo que carrego para todo o lado, essa alma tantas vezes esquiva, esquisita como eu, que me sacode todo o dia. Acordo e vejo: estou viva. E então vou viver. Firmeza ou insegurança, bom ânimo ou espírito derrotado. Todo o dia a mesma luta, alguma raiva, alguma ternura. E sempre as dúvidas, as decepções. A traição.
Mas é como aprendemos. Na porrada. Nada nos ensina a felicidade que passa num átimo e dizemos, perplexos: é ela. Erguemos o braço, já se foi.
O mundo somos nós, eu com o meu corpo até o fim, você com o seu. Caminhamos. Caminharemos até que se extingam os dias. Depois virão outros dias. E nós? Vá saber. Tudo é oculto.
Do chão, olho para o alto e pergunto. Quem responde é Gonzaguinha, embora também não possa confirmar.
"A vida poderia ser bem melhor e será,
mas isso não impede que eu repita:
é bonita, é bonita e é bonita."
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Felicidade é momento? Ah, se pudéssemos confraternizar todos os dias como se fossem datas especiais! Afinal é clima de Natal? E o que compartilhamos com os mais necessitados? Por que essa comilança desenfreada? É bem uma festa de desperdício... Triste, muito triste para nós adultos que nos afetamos pelo consumismo.
ResponderExcluirNão se deve pensar muito, que perdemos força e graça, impolutos demais, conforme quer o capeta. Ademais, quando se tem a oportunidade de ser feliz, pecado é não aproveitá-la, pq a felicidade tem tb status ideológico: é revolucionária. Aliás, tudo é vermelho no Natal - me dou conta, agora. Brademos, pois, e vamos dar muitas e muitas cambalhotas por aí, pelo Alemão e por Ipanema, com aquela risada de criança que ganha um brinquedo. Vivos, sempre vivos, mais que nunca vivos!
ResponderExcluir"La vida podria ser mucho mejor y lo será,
ResponderExcluirpero eso no impide que repita:
es bonita, es bonita y es bonita"
Mis saludos desde Santiago de Chile, un abrazo grande,
Leo Lobos
helena,
ResponderExcluirobrigado por existir em minha vida. venho muito aqui, quase sempre em silêncio e bato a porta com cuidado. mas hoje precisei te dar um abraço.
e um beijo
escreves com a alma cantante... o corpo, esse segue em frente ... o mais é, como dizes, caminhar
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