8 de fevereiro de 2011

A MALDIÇÃO DE BELO MONTE



Sei não, mas esses apagões parecem maldição de Belo Monte. Aconteceu no nordeste, pensei: Edison Lobão vai cair. Não caiu. Agora houve outro em São Paulo. Caiu? Não caiu. Sarney até emplacou mais uma, das itermináveis.

Então é isso. Vai ter Carnaval ou não vai ter? Ronaldinho joga ou não joga? E o Egito, hem? Demorou. E todos seguem tocando suas vidas na máquina de assar.
Fernandinho Beira Mar, coitado, foi afastado. Não há castigo pior do que sair de uma prisão no verão do Rio de Janeiro.
Verão. Eu gosto. Nasci no verão. Gosto do véu azul escuro, que cobre a noite. Lembro do vestido de Catherine Deneuve em Peau d´ane, com Jean Marais.

E as auroras? Não há nada mais lindo que as auroras do Rio. Elas existem pra compensar o desgaste de viver numa cidade totalmente desorganizada, maltratada, despreparada para qualquer coisa. Uma cidade entrege a si mesma.

Por mais linda que seja a cidade, no início é o deslumbramento, mas logo você quer estar longe dela, buscar um lugar onde as coisas sejam minimamente previsíveis e eficientes. E parte novamente. Volta louco de saudade, quer vê-la em seu esplendor outra vez, inigualável. Três dias dura o affair. Logo vêm os desmandos de que só o Rio é capaz.
Por mais que se ame o Rio e admire a cidade sob qualquer ângulo, pouco a pouco ela vai se tornando um álbum de postais. Melhor se for um livro de arte. Bem melhor vista de fora. Um luxo ordinário.
Agora vou para o sul. Vou cultivar os afetos. E voltar para olhar o Rio nos três primeiros dias.
Sempre espero voltar, mas nunca se sabe. Lá, chove. Sempre chove. Mas hoje em dia é tudo mais perigoso. Há muito do que se chama "resgates coletivos". Mas precisavam ser tão trágicos? Morrer assim, sem mais? Nesse mergulho repentino? Vivamos, pois, nem que seja por compulsão, ligados no esplendor do azul.
O sol é o rei. E ninguém canta mais alto.



...

4 comentários:

  1. Também lembro da Deneuve, mas não do tal vestido ... como tb lembro do Rio, mas não do seu espectro alemão, como tb lembro de ti já chegada à cidade ... e agora partes! Mas voltas, que és nômade, criaturinha irrequieta de arribação, moto-contínuo em forma de poeta com asas de cruzar o continente e escapar da UPP que já se instala aí nas tuas faldas ...

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  2. Sol quente e céu azul.
    Fiquei quase um mes no Rio e retornei também para minha serra - Palmares!
    Compreendo sua leitura sobre do Rio. Bonito pra viver e para admirar no distanciamento das fotografias...mas sinto uma falta enorme das tardes frescas daqui. bjs, Nilzanira

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  3. Precioso texto Helena!
    E muito preciso o que falaste da relação com o Rio. Do distanciamento, saudades; da aproximação, desilusão. Apesar disso a cidade não é como uma coisa, fechada e imóvel. Ela requer transformações. Triste é que quando se vê o tempo passar e o que deveria ser evolução, acaba dando em pernada pra trás.

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  4. Cara Helena,

    Se vai por sul, volte logo.
    Aricy Curvello

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