O calor, a doença, a morte, o vazio, um defeito no computador, o sangue fraco, o trânsito. Isso tudo foi dezembro. O mundo, o que era o meu mundo, vai se esvaziando de gente e se enchendo de lembranças, de fotografias, de risadas que se perderam no passado mas às vezes ecoam, na intimidade do silêncio.
Tudo bem, sempre há as vitórias nessa luta pela sobrevivência. Como viver sem bandeiras e estandartes? A causa da legalização deu seus passos e entrará, a partir de amanhã, no circuito oficial da representação política, graças à eleição de Renato Cinco - desde o início a figura que catalizou tantos adeptos.
Pra quem pensa que maconheiro é deitado, saibam todos que uma grande convicção move o Vereador eleito, ao longo dos anos, planejando, executando e ainda administrando idiossincrasias, e assim conseguiu com que o movimento se alastrasse pelo Brasil.
Também a galera que o acompanha é de gente forte, firme nas idéias libertárias. André Barros, um dos companheiros mais antigos e leais, além de advogado dos perseguidos revelou-se um talentoso articulista. Ainda com uma pegada de advogado, mas necessária, porque as pessoas demoram a compreender e também ignoram quase tudo. É preciso citar as leis, mas antes de tudo é preciso fazê-las, ou revogá-las. Renato Cinco estará lá, em terreno perigoso, presa de pressões e constrangimentos, mas estará lá.
Eis a tal esperança, literalmente verde.
E alegre. Não são mais os maconheiros temerosos e circunspectos do PT bebê. Esses foram extintos pela realidade. Hoje a repressão é outra. Um grupo festeiro fundou o bloco carnavalesco Planta na Mente, famoso ao nascer, como são as coisas hoje. São jovens, são bonitos, fazem seus estudos, trabalham e ainda têm tempo para a militância.
Mujica, no Uruguai, também teve que dar um passo atrás, atendendo à maioria conservadora. Uma missão norte-americana esteve no Uruguai, sabe lá do que ainda são capazes.
Os conservadores celebram a bandeira de que na Holanda o governo restringiu a venda de maconha aos estrangeiros. Um erro. Sempre haverá maneiras de um holandês descolar um troco e vender para os gringos, chamando primo e sobrinho pra aumentar na transação. A mente humana não tem barreiras quando quer alguma coisa. E é só para isso que existe a repressão: para estimular a idéia do convicto de burlar a lei e atingir o fim pretendido. Como os hackers, por exemplo. Esses, no entanto, são bem-vindos ao mercado.
Eu poderia pertencer a um movimento pelo fim do estupro. Mas como assim, o fim do estupro, a partir de uma educação machista e descabida? Nem a religião ou a lei, que ameaçam com a culpa ou a cadeia, resolvem o problema. Lavagem de honra, pura bobagem. A honra é manchada a toda a hora. Vamos ficando tisnados de tanta desonra. Quantas mulheres casadas não são estupradas regularmente por seus caros consortes? Mas essa luta precisa que as mulheres se levantem. É dura a caminhada.
Mas a luta pela legalização da maconha também abrange a luta pela liberdade da mulher e a de todos os oprimidos. É a luta pela liberdade de alimentar, plantar e colher o prazer. Coisa que muitos não entendem.
Desejo a Renato Cinco que não lhe falte o bom senso e que isso não signifique perder a coragem. É preciso firmeza frente a bispos e pastores, coronéis e poderosos de qualquer hierarquia.
Confira, quem quiser ter opinião mais substancial sobre o assunto, o blog do André. Ser contra ou a favor por ouvir falar é pouco, muito pouco para formar opinião.
E a poesia? Bem, está aí para quem quiser senti-la. Mas quando Ela escolhe o poeta, olha na sua direção, toca-lhe corpo e alma, ele sabe o que vale a pena na vida. O sentido da vida, sobre o qual muito se especula, é apenas sentir, compreender e aguardar. Ninguém sabe o que virá.
E a cidade? E o reveillón? Isso vocês podem ver ao vivo ou pela televisão.
O que só verão aqui é o texto magistral que fala de uma outra cidade, que só o poeta percebe.
Maravilhosa
* por Daniel Santos
Houvesse um colapso, as tensões se aliviariam, mas recorrente é o frenesi que toma todo o sítio das promoções vantajosas, das produções milionárias, das platéias que se convulsionam roufenhas à exaustão.
Sempre prestes, incapaz de escapar ao incessante gerúndio, a cidade atrai turistas, forasteiros, curiosos e os imiscui na rotina da alegria ruidosa que preenche todos os horários, sem noção de prazo nem de limites.
Quando a fadiga beira a ruína, o troar dos tambores anima criaturas quase esgotadas, sem licença para a pausa. E prossegue assim, o permanente show das multidões sem consciência do próprio desespero.
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* por Daniel Santos
Nada cala os tambores da cidade fatigada. Os dias entram
pelas noites com insônia de profundas olheiras, numa convulsão requebrosa pelo
divertimento a todo custo, ansiedade sem o cabresto do recato.
Houvesse um colapso, as tensões se aliviariam, mas recorrente é o frenesi que toma todo o sítio das promoções vantajosas, das produções milionárias, das platéias que se convulsionam roufenhas à exaustão.
Sempre prestes, incapaz de escapar ao incessante gerúndio, a cidade atrai turistas, forasteiros, curiosos e os imiscui na rotina da alegria ruidosa que preenche todos os horários, sem noção de prazo nem de limites.
Canta, dança, sua e emite à atmosfera eflúvios da própia
alma, da sua inquieta essência. Assim, o delírio em suspensão volta a se
depositar, grão após grão, sobre essa que desconhece descanso,
tranqüilidade.
Quando a fadiga beira a ruína, o troar dos tambores anima criaturas quase esgotadas, sem licença para a pausa. E prossegue assim, o permanente show das multidões sem consciência do próprio desespero.
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Eis aí. Aos meus caros apoiadores, amigos e leitores das minhas divagações, agradeço.
Ao jornal O Cometa, que me sustenta na sede do sonho de um jornal de verdade.
A todos aqueles que, gentilmente, me chamaram para serem seus amigos em redes sociais, explico: não posso. Sou muito contida em minha intimidade, acostumada ao que chamam de solidão, e eu chamo de paz.
Consegui-a, em momento de desespero, num pacto com Deus. A qualquer vacilo, lembro da palavra empenhada e agradeço a vida que tenho, os amores que mereci ou despertei, os filhos que tive e os que me tiveram
E numa homenagem ao amor, à paz e à divindade eu, certamente, já apertei um.
E para terminar esse texto que já vai comprido enquanto o calor aumenta, uma piada de maconheiro:
O cara estava indo pra casa, numa quebrada, quando surge o policial e pergunta:
- Tá levando uma parada aí?
O cara, pego de surpresa com um polícia saindo da moita, responde:
- Ainda não.
...
Helena, ler-te no primeiro dia do ano, ser teu o primeiro texto a ler em 2013, é uma honra. Ser teu amigo filho, irmão, companheiro, amigo, não há nem palavra para expressar. Amor é pouco pra ti, Helena Ortiz!
ResponderExcluirIntegrada e Marginal sensacional, valeu Helena, força, saúde e tranquilidade em 2013, abraço bem apertado, ANDRÉ BARROS
ResponderExcluirAmei o texto, me fez repensar a loucura do dia-a-dia. Bjus saudosos
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