Pois fui novamente, depois de muitos anos, ver os tais fogos de Copacabana. O motivo é que desta vez os veria de longe, sem o barulho e sem a fumaça, e de um ângulo contrário, do outro lado da baía.
Outras pessoas pensaram a mesma coisa. Aliás, normal. Com tanta gente coexistindo no planeta, fica difícil ter pensamentos originais e lugares vazios. Mas não apareciam. Eram vultos, apenas, que se moviam na praia sem vocação nenhuma para a fraternidade.
Saibam vocês que na praia de Camboinhas não entra ônibus, nem mesmo para transportar a massa trabalhadora que mantém limpas as grandes mansões, onde não se vê ninguém, e os únicos viventes são os empregados. Não importa quão longe seja o local do emprego, os operários têm que caminhar, sob sol e chuva. Os patrões pensam que assim se livram das hordas que invadem as praias gerais, nos finais de semana.
Pois bem. Começaram os fogos. Aos cinco minutos eu já estava entediada. Afinal, por mais tecnologia, o que resulta mesmo é a repetição.
Deitei, então, sobre a canga, e fiquei olhando um outro espetáculo, aparentemente mudo, silencioso, misterioso e (oh!) gratuito. Se a vida é um show, os fogos da meia-noite são estupendos, você ri até sentir o maxilar, de tanta obrigação de ser feliz, repare: é o que não olhamos, que não contemplamos devidamente, que não valorizamos com a convicção dos privilegiados, que nos traz a proximidade e o encontro com a beleza, o brilho e a eternidade.
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É bem o espetáculo dos deslumbrados, daqueles que buscam assunto para se exibirem, que não medem sacrifícios só para se fazerem presentes a uma leviandade coletiva e até se arriscam a uma catástrofe inesperada.
ResponderExcluirEsta crônica me fez lembrar o acesso ao Barrashoping, aqui de Porto Alegre, que dificulta a entrada das pessoas que precisam usar o transporte coletivo, mesmo para aquelas que necessitam fazer suas compras no supermercado anexo - uma longa caminhada pelo imenso estacionamento até chegar nas lojas - só para quem tem carro próprio...
Helena, querida, só teus textos para me salvar do tédio de fim de ano, que sequer um fim de mundo decente consegue assegurar.
ResponderExcluirEntre os Maias prefiro o calendário do Tim Maia, o resto é tentar atravessar até a margem oposta do rio (2013) sãos e salvos.
Será que consigo ?
Saudades
Inspirador para aqueles que encontram vida e contemplação em situações e paisagens esquecidas. Amei.
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