Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir. (George Orwell)
Por que chamar de vicio o que é do gosto? As pessoas costumam dizer: sou viciada em filmes de ação, outras em charutos, diamantes, melancia, fotografia, sexo, ópera ou bingo, para dar apenas alguns exemplos. O vício denomina algo sem o que, pensamos, não podemos viver. Podemos, é verdade, mas do profundo da nossa liberdade (*dentro de nós há uma coisa que não tem nome) elegemos o que nos dá prazer. E como prazer é o que mais queremos nessa vida, aí está - do prazer ao vício, mas um vício muito diferente do que domina a vontade e escraviza corpo e consciência.
Por que chamar de vicio o que é do gosto? As pessoas costumam dizer: sou viciada em filmes de ação, outras em charutos, diamantes, melancia, fotografia, sexo, ópera ou bingo, para dar apenas alguns exemplos. O vício denomina algo sem o que, pensamos, não podemos viver. Podemos, é verdade, mas do profundo da nossa liberdade (*dentro de nós há uma coisa que não tem nome) elegemos o que nos dá prazer. E como prazer é o que mais queremos nessa vida, aí está - do prazer ao vício, mas um vício muito diferente do que domina a vontade e escraviza corpo e consciência.
Entretanto há prazeres permitidos e não permitidos. As proibições seguem critérios obscuros que não podem ser discutidos porque alguém fez uma lei com o apoio de muitos (sempre a mando de outro alguém) para facilitar a vida e o lucro de alguns, que é para isso que as leis são feitas.
Os vícios não permitidos carregam consigo uma carga de transgressão e culpa, mas nem por isso deixam de ser curtidos, é óbvio. O desejo de transgressão aumenta com a repressão, todo o mundo já sabe e se não sabe é porque já morreu. Até as criancinhas se dão conta do que os adultos não querem que elas façam e é justamente isso que elas passam a querer. Se ninguém fala, a criança não se interessa, mas se alguém diz "isso aí não pode", ali é que ela irá, mais cedo ou mais tarde.
Os vícios não permitidos carregam consigo uma carga de transgressão e culpa, mas nem por isso deixam de ser curtidos, é óbvio. O desejo de transgressão aumenta com a repressão, todo o mundo já sabe e se não sabe é porque já morreu. Até as criancinhas se dão conta do que os adultos não querem que elas façam e é justamente isso que elas passam a querer. Se ninguém fala, a criança não se interessa, mas se alguém diz "isso aí não pode", ali é que ela irá, mais cedo ou mais tarde.
Mas não imaginem coisas. Do que eu ia falar mesmo era do vício que eu tenho de ler jornal. Já tinha largado, por falta de jornal que preste, mas tive uma recaída da qual procurarei me recuperar. Leio, por isso, o jornal aquele, o de sempre, o parcial e capcioso O Globo. Tenho observado que aumenta a aceitação, e até a simpatia dos articulistas em relação à legalização das drogas, e isso significa também dizer que mudou a "linha editorial" do jornal. No jornal de domingo, a entrevista com Jose Mujica mostrou como age um presidente que quer, de fato, corrigir os erros de uma política fracassada.
Infelizmente, no Brasil não se pensa em corrigir os erros, mas em reiterá-los. Por mais que a imprensa mundial divulgue as mudanças na legislação de países ou estados, como no caso dos EUA, ou mesmo da ONU, que é a última a fazer qualquer coisa, reconhecendo que o modelo repressivo não deu certo, o Brasil e principalmente o Rio de Janeiro, insistem na proibição e na repressão. Por que? A quem interessa manter o tráfico? A quem interessa manter sob armas as comunidades dominadas, ora pelo tráfico, ora pela polícia? O que justifica essa resistência às novas idéias? Quem se importa com os policiais mortos? Quem se importa com a quantidade de jovens de 15 a 25 anos mortos ou presos nessa guerra suja? É assim que se busca a paz?
Isso tudo eu queria saber.
* José Saramago
* José Saramago
Camarada Mujica, falou e disse, sempre que fala diz tudo e muito, diferente dos nossos alpinistas sociais.
ResponderExcluirBacana sua interpretação sobre o vicio e o prazer. Estou sem essa sorte de me viciar em ler jornais, e ainda bem.
ResponderExcluirSorte sua mesmo, Diogo. Nos meus bons tempos os jornais eram fontes mais confiáveis, ou pelo menos não tão escandalosamente "parceiras". Agora se espalha o velho jornalismo marrom. Pura lama. A gente sabe que se suja mas ainda vai lá. Uma tristeza.
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