Foto: Joel Santos
Ainda bem que não terminou o Carnaval (no Rio só termina no domingo).
Não digo isso porque seja louca por Carnaval, embora já tenha gostado de verdade. Não é para menos. Nasci numa terça-feira de Carnaval e cresci numa cidade onde a festa era boa demais. Hoje mudou tudo, mas acho que o Carnaval ainda mais do que eu.
Juntando o gosto pelo carnaval com a necessidade de defender uma causa que é política, há quatro anos vou ao bloco do Planta na Mente, que acontece na Lapa, na rua Joaquim Silva, e neste ano mudou (piorando) para os Arcos da Lapa. Fora os interessados, só havia vendedores ambulantes. E poucos.
A Lapa, numa quarta-feira de cinzas, é pior do que o submundo que normalmente é. Na quarta-feira está tudo acabado. Ali estão as sobras. Não só as do lixo, de que tanto reclamam, mas as humanas, para as quais se faz vista grossa, as vidas sujas ofuscadas pelos bares burgueses, que ocupam as ruas de trás, os becos, os prédios abandonados onde se mistura todo o tipo de miséria.
Fantasia eu já tinha. Das músicas, pensei que o Planta iria incorporar a Marchinha da Maconha, de autoria de Henrique Cazes, que vocês podem conferir:
Ouça a Marchinha aqui. - uma jóia entre sambas mal enredados e marchinhas mais velhas do que eu.
A Banda Erva, composta de alguns bons e bem intencionados músicos, não é de super homens, e portanto não pode segurar a animação por muito tempo. Reggae e jazz eram bem-vindos para o descanso.
Mas o bloco cresceu, com certeza. Não na proporção de defensores ou debatedores de mesas-redondas, mas de povo mesmo, que pouco a pouco vai se incorporando, vai perdendo a vergonha de reivindicar um direito que é seu.
O pessoal estava animado. Acredita até que 2014 é o ano da legalização. E vocês sabem que a gente acredita no que quer. Eu acredito na luta pela liberdade, que nunca, nunca termina, e nas cores com que se pode pintar a vida sem prozac ou projac.
Nem a polícia deu bola para a bloco. Eram poucos os policiais e ficaram de longe. Na real, nem se mexeram. Deram uma trégua aos brincantes que estavam mais entusiasmados com o fato de poderem fumar livremente do que com o Carnaval, propriamente, apesar de que uma coisa dependia da outra.
Digamos que foi, portanto, uma licença poética.
A foto é do Joel, mas o fundo - é o sonho. Um sonho verde, da mesma cor da esperança.
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