Todos já fizeram seus votos de esperança para o Ano Novo. Uns acreditam mais, outros menos, alguns pensam que é pura continuação. Eu estou nessa terceira categoria, embora guarde uma certa esperança, sem a qual não se vive.
Mas agora o ano já passou, já é quase nosso íntimo, já fizemos nossas previsões e em alguns casos, provisões para o que virá, coisa que ninguém sabe. Seguimos, no entanto, com os mesmos problemas, cujas soluções não passam, como se sabe, de promessas.
E antes de qualquer coisa aproveito para sair em defesa de uma classe que está sendo a cada dia mais demonizada, sem diferença de idade, sexo, raça ou religião: a classe dos motoristas.
Cansei de ver os motoristas sendo acusados de tudo o que ocorre no trânsito; de ver, em telas de elevadores ou restaurantes uma cena terrível de acidente que poderá acontecer caso você não siga as normas de trânsito (a velha estratégia do terror); de ver pessoas com defeitos físicos nos sinais em decorrência de acidentes. Nunca se sabe se foram os causadores ou as vítimas. E também de ver os motoristas submeterem-se a bafômetros, extintores de incêndio, kit socorro, carrinho de bebê e outros pretextos para se ganhar dinheiro em cima dos otários que são, em primeiro e último caso, os motoristas. Isso, quando todo o mundo sabe que hora de morrer, morrer. O que aliás, acontece a toda o momento, sem que o motorista tenha com quem socorrer-se, nas ruas ou nas estradas.
Saio em defesa do motorista considerando que frente ao enorme número de carros que se deslocam diariamente para toda a parte, principalmente numa cidade caótica em que se transformou o Rio de Janeiro, a proporção entre motoristas que não causam estragos é absurdamente maior do que aqueles que causam. Ou seja, podemos considerar que a maioria dos motoristas age com prudência e bom senso, e melhor fariam se não fossem as regras de trânsito, seus agentes e a mídia, naturalmente, como sempre empenhada em tornar cada cidadão um atentado. Todos resolveram que os motoristas são seres raivosos e desprezíveis que saem todos os dias com o objetivo de causar um acidente e, com sorte, matar um. Errado: os motoristas existem porque é impossível usar o transporte público sem temor de falta de energia, de carros lotados, de longas esperas e de solavancos mortíferos.
Vocês estão cansados de ver placas nas estradas que dizem "Acredite na sinalização". Ora, uma instituição que pede que você acredite nela não é, não pode ser séria porque pressupõe que já está desacreditada. A partir daí você verá "fiscalização eletrônica" onde ela não existe; indicação de velocidade a 90km que, numa curva, baixa para 70km porque a polícia está fazendo uma blitz na qual só pára motos e carros velhos; indicação de 80km/h. na ponte, por exemplo, onde pode-se andar de 30 a 200km/h sem que alguém se importe. Ou ficar num engarrafamento porque a polícia está fazendo operação tartaruga. Fora isso, os guardas estão nas cabines (onde sempre estão) ou na sombrinha (ninguém merece esse calor).
Algumas multas nos dizem que um excesso foi detectado por uma "câmera discreta", demonstrando que querem mesmo é nos roubar, castigar-nos além dos pedágios (inconstitucionais) e dos buracos (absolutamente nacionais).
Ainda há uma profunda discrepância entre a política que estimula a venda de carros no Brasil (cuja compra é facilitada com redução de imposto), com potência impossível de ser usada nas estradas onde poderiam andar a 120km/h., mas o limite é 110km/h; onde é 60km/h, poderia ser 80km/h.; e assim por diante. A única coisa de que não cogitam é que o acaso existe.
Estradas movimentadas? Chuva? Confie no motorista. Está provado que a repressão gera revolta. Motoristas respeitados respeitarão mais o trânsito e causarão menos acidentes. É assim que funciona.
Existem os loucos, os sádicos, os exibicionistas? Claro que existem (e muitos deles são polícia). Mas isso há em qualquer categoria.
Você pode dizer: mas só os motoristas causam acidentes.
Errado. Os pilotos, os comandantes de navios, executivos de grandes empresas, donos de hospital - todos causam grandes males, com centenas de mortes, incluindo aí (como aconteceu no caso Collor) alguns suicídios.
Como vêem, a culpa não é só dos motoristas, a quem saúdo particularmente, desejando que suportem 2015.
No momento em que escrevia um raio matou cinco pessoas em São Paulo.
Quem dirigia?
*Música de D. Yvonne Lara e Délcio Carvalho
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Enquanto não existir alguma vontade política para que se melhore nosso transporte coletivo, as montadoras agradecem penhoradas tal trânsito.
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