Respeito o Sr. José Maria Beltrame. Gosto de vê-lo e ouvi-lo. Ele tem aquele jeito de gaúcho que sabe o que quer, mas não tem paciência para o mundo que se apresenta, apesar dos seus esforços e das suas crenças. Precisa o tempo todo se conter.
É um visionário, o Sr. Beltrame, e contra essa força ninguém pode.
Às vezes parece que ele vai fazer uma grande denúncia, mas segura, pensando que a política que segue está certa. Sabe-se lá quem ensinou isso pra ele lá em Santa Maria, que até hoje ele tem aquela cara de inocente lidando com bandidos dos dois lados. Isso é coragem. E não tenho certeza, mas acho que realmente sofre com os desmandos da polícia.
Há que respeitar um homem que acredita no que faz. Nas últimas aparições públicas, no entanto, Beltrame já não estava tão seguro. Ficou enrolando, ele que sempre falou com tanta clareza. Acho que começou a tomar consciência da situação, tal qual o Capitão Nascimento, quando finalmente constatou o que se passava na polícia.
Evidente que as armas apreendidas por policiais nesse janeiro fatídico não foram compradas na loja com desconto. Alguém forneceu essas armas oficiais. E certamente não foi na fronteira. É ali mesmo, no nariz do Secretário, que se fazem os negócios.
A maioria das favelas aguarda as UPPs, mas as UPPs já dão mostras de cansaço. E os bandidos gostam de diversificar.
Está difícil para o Secretário acreditar que esta não é a política adequada para a pacificação; que os Estados Unidos, que nos obrigam a essa repressão, estão dando risada com os dinheiros que estão ganhando com o plantio e a comercialização da maconha. E nós ainda estamos aqui, matando e morrendo por nada.
Não, claro que não fiquei com pena do Secretário. Também não sinto pena dos mortos, que se livraram mais cedo. Tenho pena das famílias, que choram uma vida em que apostavam.
E talvez sim, eu sinta pena (ou será espanto?) pelo fato do Sr. Secretário de Segurança somar a cada dia, na sua consciência, a co-autoria de uma política equivocada, as mortes nossas de cada dia.
E como se tudo isso não bastasse, a Secretaria ainda sofreu cortes no Orçamento. Pode ser que assim o Secretário pense numa saída. Que é apenas uma:
LEGALIZA!
Parece que não encontra eco a afirmação dos especialistas: a guerra ao tráfico fracassou. Vamos pensar em outra coisa.
Ou contar diariamente as vítimas.
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Parece que não encontra eco a afirmação dos especialistas: a guerra ao tráfico fracassou. Vamos pensar em outra coisa.
Ou contar diariamente as vítimas.
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Segundo o livro "Os infiltrados" de 4 repórteres gaúchos, entre eles Humberto Trezzi de ZH, Beltrame ( ex-agente da Polícia Federal) foi infiltrado no movimento estudantil do RS, durante a ditadura.
ResponderExcluirQue coisa me dizes, Ângelo. Quer dizer que a inocente desse texto sou eu mesma. Vou procurar o livro, embora tu sejas uma fonte preciosa. Mas a gente sempre precisa saber mais, para não se deixar levar apenas por impressões. grande abraço e saudade.
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