15 de setembro de 2009

NOTÍCIAS


7 de fevereiro de 1915
10 de setembro de 2009



Todos os dias, quando acordamos do sono - morte provisória a que nos entregamos sem medo - pensamos: viver o dia de hoje.
Não estamos doentes (pelo menos até agora não sabemos de nada). O tempo passa célere. Já retornamos para casa. O cérebro trabalhou - quanto! As pequenas apreensões, as quedas livres.

Estamos vivos, é isso.
As notícias que chegam pelo telefone, pela internet, pela televisão vão sendo armazenadas em menor ou maior escala de cuidados.
Mas quando a morte - a verdadeira, nos abarca, quando morre uma pessoa muito próxima: pai, mãe, filho - não importam as guerras, os negócios, a fome no mundo, o tédio fashion, as mortes por petróleo. não só estamos junto ao próximo. Somos o próximo.
E então passamos pelos trâmites de praxe. Quem inventou a praxe?
Enterramos nosso morto. e voltamos para a nossa vida. O mundo segue sem especiarias. Aguardamos a nossa vez, disfarçadamente.

Tudo isso é para contar que minha mãe foi encontrar com o seu amado. É o que penso e espero, assim como espero que minha filha, grande (e eu pequena) me espere do outro lado. Voltaremos? Existirá ainda este mundo? Serei sua filha? Quem me escolherá para pai? Serei mãe de meu marido?
Riam, os que quiserem, da minha crença. Ela me traz alento e basta.
Geni Ortiz. Um nome curto, um nome que se resolve fácil. Ortiz o do marido, Adriano, que amou sobre tudo e sobre Deus. Um bonito marido, de fato. E corajoso. Não aceitou assinar ficha no PC porque não iria dedicar integralmente sua vida ao partido com cinco mulheres em casa. Lutou em 30 e depois outras lutas. Dedicaram-se, os dois, toda uma vida. Ela havia se formado na Escola Normal, mas abdicou do trabalho fora. Abdicou? Sabe-se lá o que conversam os casais.
Registro aqui a sua foto de moça, e a de meu pai, quando são mais bonitos os sonhos, e o amor esplende.

7 comentários:

  1. Helena, muito lindo! Aliás, pouco antes tínhamos falado um pouco sobre a "cumplicidade" entre os casais... Coisas de antigamente. Discordo apenas do "Aguardando a nossa vez, disfarçadamente." Não é um aguardo, é um caminhar evolutivo, mas com certeza para este momento de liberdade!!!
    Bjs
    Gládis

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  2. Cabelos brancos, nuvens, suspiros em ponto de neve ... É colocar debaixo da língua e sentir diluir-se a vida pedregosa. Tudo doce, agora. Na boca e na memória.

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  3. Só temos a certeza da morte. Ela é inevitável e inexorável e temos que nos preparar pra esse momento, mesmo que disfarçadamente. O que mais sentimos nos primeiros momentos da perda é a verdadeira demolição estrutural uma vez que aflora em nós todos os momentos bons que partilhamos com o outro na vida em comum. A falta da presença física certamente é uma das coisas que mais nos afetam, pois é difícil nos acostumarmos, após 40, 50 anos, com a falta de alguém que sempre nos acompanhou desde as entranhas. É um tremendo vazio a ser preenchido. Vamos nos lembrar de que a história de quem nos deixa foi muito bonita e cheia de bons momentos. Estou rezando por vocês. Força, querida. Sei que são momentos delicados e difíceis de enfrentar. Que Deus te ilumine e olhe por todos nós.
    Um grande beijo.
    mt

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Ainda este ano também enfrentei esta tragédia pessoal, nosso ensaio mais realista para o momento final, já faz 7 meses e parece que meu ontem permanece agora.
    Minha solidariedade e todo carinho do mundo, que uma amiga tão especial de todo tempo possa merecer.
    A foto é pra capa de livro e o texto merece um livro.
    beijo

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  6. Não poderia deixar de repetir que é lindo. Fez me deixar os olhos úmidos!
    Que estejas bem, beijos e saudades.

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  7. Lindo teu texto. Palavras ditas com a alma. Me fez lembrar também de minha mãe que também tenho certeza foi encontrar seu grande amor. O importante pra nós que ficamos por aqui é saber que elas tinham um grande amor para reencontrar e que neste instante estão lado a lado retomando suas histórias interrompidas desta vida para que possam continuar na outra.
    Bjus

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