( 1938-2010)
Morreu Lélia Coelho Frota. Quem conhece? Que jornal publicou o fato à altura da importância? Quantos críticos se debruçaram sobre a obra da escritora? Qual editoria realizou um tour de force para mostrar e registrar o valor e a abrangência de seu trabalho?
Eis a cultura nacional, o País onde os donos da cultura não estão interessados naquilo que forja a nacionalidade, que é justamente o conhecimento de um povo por si mesmo, o que Lélia fez durante toda a sua vida.
Os suplementos estão cheios de nomes norte-americanos que somos obrigados a engolir, traduções ridículas, perda de tempo, gasto de papel, livros que se vão sem que ninguém aproveite, com exceção das empresas que exploram o mercado da literatura.
Vá ao Google e saiba pelo menos quem foi Lélia Coelho Frota no cenário intelectual do País e até mesmo como representante do Brasil no exterior. Conheça o trabalho de pesquisadora no campo da arte popular, o seu papel à frente de importantes instituições culturais do País. Que foi poetisa premiada, amiga querida, trabalhadora incansável.
E a imprensa nos informa o quê sobre Lélia Coelho Frota?
Nada. É tempo de Copa, a paixão nacional, e nada mais existe. No entanto a paixão acaba. Mas a obra da artista não. Ela foi além do que pôde com todas as barreiras que à mulher são impostas. Esteve à frente e acima em inúmeros projetos e realizações. Construiu o que muitos não fizeram nem farão com igual talento e ética. Com igual sentimento. Para ela, Astrid Cabral escreveu o poema que segue. Os demais selecionei para vocês, são os poemas portugueses publicados no livro Menino deitado em alfa porque ler a poesia é uma forma de homenagear a autora, de mantê-la viva até quando não possamos mais. E passemos também.
Presentes de Lélia
Astrid Cabral
Uma rosa perpétua
a saudar o primogênito.
Campainha verde azinhavre
lembrança da Espanha.
Desenho de Milton Dacosta
embelezando minha sala.
Camafeu relíquia da Itália
para compor um anel.
Madona de Minas
talhada em madeira.
Caderno para anotar versos
em mimo pelo Natal.
O Divino Espírito Santo
artesanato de Paraty.
Livros, textos, conversas
telefonemas, mensagens
convites, encontros, festas.
E além calendário e espaço
a fonte constante do afeto
o doce calor do abraço
seu amor sempre presente.
Princípio
Lélia Coelho Frota
A morta abriu o dia radioso
com a cortina da sua despedida.
Partiu no meio os cabelos vagarosos Morreu Lélia Coelho Frota. Quem conhece? Que jornal publicou o fato à altura da importância? Quantos críticos se debruçaram sobre a obra da escritora? Qual editoria realizou um tour de force para mostrar e registrar o valor e a abrangência de seu trabalho?
Eis a cultura nacional, o País onde os donos da cultura não estão interessados naquilo que forja a nacionalidade, que é justamente o conhecimento de um povo por si mesmo, o que Lélia fez durante toda a sua vida.
Os suplementos estão cheios de nomes norte-americanos que somos obrigados a engolir, traduções ridículas, perda de tempo, gasto de papel, livros que se vão sem que ninguém aproveite, com exceção das empresas que exploram o mercado da literatura.
Vá ao Google e saiba pelo menos quem foi Lélia Coelho Frota no cenário intelectual do País e até mesmo como representante do Brasil no exterior. Conheça o trabalho de pesquisadora no campo da arte popular, o seu papel à frente de importantes instituições culturais do País. Que foi poetisa premiada, amiga querida, trabalhadora incansável.
E a imprensa nos informa o quê sobre Lélia Coelho Frota?
Nada. É tempo de Copa, a paixão nacional, e nada mais existe. No entanto a paixão acaba. Mas a obra da artista não. Ela foi além do que pôde com todas as barreiras que à mulher são impostas. Esteve à frente e acima em inúmeros projetos e realizações. Construiu o que muitos não fizeram nem farão com igual talento e ética. Com igual sentimento. Para ela, Astrid Cabral escreveu o poema que segue. Os demais selecionei para vocês, são os poemas portugueses publicados no livro Menino deitado em alfa porque ler a poesia é uma forma de homenagear a autora, de mantê-la viva até quando não possamos mais. E passemos também.
Presentes de Lélia
Astrid Cabral
Uma rosa perpétua
a saudar o primogênito.
Campainha verde azinhavre
lembrança da Espanha.
Desenho de Milton Dacosta
embelezando minha sala.
Camafeu relíquia da Itália
para compor um anel.
Madona de Minas
talhada em madeira.
Caderno para anotar versos
em mimo pelo Natal.
O Divino Espírito Santo
artesanato de Paraty.
Livros, textos, conversas
telefonemas, mensagens
convites, encontros, festas.
E além calendário e espaço
a fonte constante do afeto
o doce calor do abraço
seu amor sempre presente.
Princípio
Lélia Coelho Frota
A morta abriu o dia radioso
com a cortina da sua despedida.
escorrendo ainda de lembranças,
vestiu o vestido precioso
e saiu à procura, sôfrega,
de outras tantas,
verdadeiras vidas.
Litoral (poemas portugueses)
Estávamos um diante do outro
como um só espelho de ouro.
Entre nós corria o rio rubro
e era tempo de despedida.
Portugal, Espanha ou as cícladas
é tempo, mas de frutas cítricas
para ter nas mãos a colhida,
ácida, consentida, súplice vida.
Liberdade
Passo pelo fio
de pérolas do Rossio:
não quero comprar flores,
quero ver o rio.
Uma dor
O vento soprava árvores da esquerda
Ao fundo, o menino tocava o violão preso no ombro,
como um pequeno navio adernado.
Uma dor
no mundo
rachava tudo fino e longe,
cinema mudo.
...
Helena, querida ! Que maravilha ser apresentada a seu blog pelo Augusto, encontrando essa bonita homenagem que você fez à Lélia. Em apenas dois anos de contato, quando a entrevistamos para o Jornal Poesia Viva, contagiava-nos, mais ainda, seu entusiasmo pela arte popular. Recebeu-nos no Museu do Folclore (que tanto lutou para não ser extinto!!!), lançando o Jornal. Adquiri o belíssimo "Pequeno dicionário da arte do povo brasileiro", ainda, pensando em pedir-lhe um autógrafo, mas não houve tempo. Entanto vou homenageá-la em meu próximo livro "As cercanias do outono", à abertura de cada núcleo. Gostaria que estivesse presente, para partilhar de tantas outras frentes que, sem dúvida, ela enfrentaria com garra e o singular encantamento que sempre a moveu. Muita saudade nos deixa essa grande museóloga, antropóloga, crítica de arte e, acima de tudo, amiga. Poeta que Drummond abençoou quando, aos dezessete anos, lhe mostrou os primeiros "Quinze poemas", mais tarde o 1º livro, a ele dedicado. Parabéns, pela merecidíssima e preciosa lembrança! Bjcs, Léa Madureira G. Lima
ResponderExcluirPrezada Helena,
ResponderExcluirSou João Emanuel, filho da Lélia, para quem ela escreveu "Menino deitado em alfa" e fiquei muito sensibilizado com suas belas palavras sobre minha mãe. Também acho um absurdo que a imprensa em geral não tenha se dado ao trabalho de escrever nada sobre uma pessoa tão fundamental no panorama cultural brasileiro como ela.
Pra você, todo meu carinho.
João Emanuel Caneiro