A representação do mapa meteorológico é impressionante. Enquanto chove no país todo, sobre o Rio há uma massa de ar quente que não se dissipa há um mês. As frentes frias que vêm do sul não conseguem penetrá-las, vão em direção ao oceano e passam ao largo. Na aurora e no crepúsculo estão os êxtases do dia.
Um vermelho fogo paira sobre o Rio de Janeiro como uma maldição. O calor é demasiado, mais para uns do que para outros, sempre, e junto ao desconforto natural, soma-se o desconforto das obras com que o príncipe tortura seus súditos. O príncipe talvez sofra de um mal incurável, que é a paixão pelo eu. E por saber disso preenche sua vida com mais e mais brinquedos, que logo despreza, que nunca vão até o fim, que demandam dinheiro e selam o compromisso com o seu reinado feroz.
Talvez seja esse momento fogo que cause tantas tragédias. Talvez sejam os astros, ou os deuses, espantados com a capacidade do ser humano de ser tão cruel, pelos séculos afora. Sempre tem um sem noção para acender o estopim. E quando acerta traz à tona a cadeia de irresponsabilidades em que se baseiam os governos, cuja ideologia é: Vamos deixar assim mesmo. Pode dar problema, mas pode ser que não. E enquanto isso o custo fica mais barato, somando-se às moedas por uma preferência na licitação. Traição.
Não foram culpadas a prefeitura, a administradora do pedágio ou a polícia. E é ótimo para todos quando há uma evidência que aponta para outrem.
Até que terminem as investigações, outros mortos a chamarão a atenção.
É assustador olhar no céu e também no chão o vermelho mais rubro, que é denso, que é quente, que era humano e agora escorre pelo asfalto.
Danemo-nos todos na ante-sala do inferno de poeira cinzas cones guardas celulares e placas insuficientes
Danemo-nos frente à iniquidade, ao abuso, aos devaneios estéticos e i(logísticos) dos governantes.
Um final para esse texto seria grave demais, triste demais, apocalíptico demais. Uma cidade tão cheia de graça! Mas por ela andamos de luto.
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