28 de março de 2014

DO CAOS À LAMA

"A  frivolidade desarma moralmente uma cultura descrente."
(Mario Vargas Llosa)


Uma coisa que muito me espanta e deprime é ver tantos artistas famosos venderem nome, imagem e honra por necessidade (ou amor?) ao dinheiro. Todos estão com saúde, com a vida ganha, no auge de suas carreiras (ou não?) e ainda precisam fazer propaganda Será que, serenamente, em suas casas, se dão conta do que estão fazendo? Não acreditam no poder da propaganda? Ou estarão apenas querendo nos dizer que o fim é o começo?Estarão sendo tão mal pagos, os artistas famosos, que precisem de um bico? O assunto vem porque li recentemente, por indicação de Elida Escaciota, a quem agradeço, o livro de Mario Vargas Llosa, A civilização do espetáculo, publicado no ano passado. Sempre gostei de Vargas Llosa, e o fato de ser "de direita" como chamávamos então, não perturbou em nada a sua indiscutível obra.Passados os anos, leio este livro o me pergunto. O que há de errado? Por que eu concordo com tantas coisas que diz sobre a cultura - que é disso de que trata o livro. Acaso terei me passado para o outro lado e nem sei? Mas imagino que não, que é apenas o tempo que faz com que revisemos alguns conceitos que tínhamos como certos em outra época. Além disso, um grande escritor cuja obra sempre versou sobre diferenças de casta e raças e exploração não pode ser tão inimigo da humanidade. O que escreve sobre cultura, erotismo, religião e arte me faz voltar a um outro tempo em que pensávamos a cultura como algo sempre a alcançar, mas não na invenção de coisas sem pé nem cabeça que as artes, e depois os espetáculos, acabaram de extinguir nesse século. Nunca imaginei que os artistas, que em outros tempos foram arautos da liberdade, que puxaram as grandes frentes de luta, hoje estejam com a cabeça enfiada entre os dentes do monstro publicitário.Isso significa dizer que tudo está acabado. Que dessa sociedade nada mais se espere porque nada mais virá. 
Só os caranguejos são felizes na lama.

* este blog não segue as normas do acordo ortográfico.

6 comentários:

  1. É que nem aquele vegetariano dando preferência ao filé suculento, além de sonegar imposto pelo que recebeu por fora...
    Como diz JC, "pobre por não gastar mais do que ganha" mas não "rico por gastar mais do que ganha"!

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  2. Olá Helena
    Ler um livro e depois escrever um texto assim com esta capacidade de falar sobre a atualidade é só para quem já viveu muito e já queimou as pestanas.
    tenho este livro e mais dois em lista de espera (comprados no Brasil embora o autor tenha boas traduções em português de Portugal ).
    Vai ficar para uma próxima. No lugar onde comento o seu artigo acabam de me lembrar que tenho que ler As Benevolentes, ou ainda morro "sem ler um dos livros mais importantes dos últimos decénios".
    abraços do
    joaquim emídio

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  3. Acabei de ler esse livro, Helena, tão bom quanto teu texto.
    Com o tudo pode como está o Brasil, esquerda, hoje, deve ser impunidade, imobilismo, violência ( 80 mil assassinatos/ano), blá-blá-blá, deu para o dilmismo.
    Basta.
    Vou de nulo, as opções são nulidades.

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  4. Tudo sob o patrocínio da Friboi, bicho, 25 milhões o cachê.
    Se servirem crua, engulo sem cara feia.

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  5. Depois de ler o livro fiquei menos angustiada. Entendi porque tenho sido chamada de radical. Não faço parte do grande espetáculo e quase acreditei que eu tinha mesmo envelhecido. Que nada... o mundo é que imbecilizou-se. Que se danem, eu permaneço "Fora da Moldura".

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