8 de maio de 2010

A PROCURADORA DA LITERATURA


De repente, faz-se a polêmica. E o texto abaixo, de autoria de Astrid Cabral, vem a propósito de outro, de autoria de Flora Sussekind, no qual ela lamenta que o crítico Wilson Martins tenha vivido. O texto, publicado n´O Globo (23.04.2010), foi contestado por Afonso Romano de Sant´Anna em seu blog e despertou muitas manifestações de apoio. http://www.affonsoromano.com.br/blog/

Publico aqui a opinião de Astrid sobre o assunto, primeiro porque concordo com ela, depois porque a Srta. Flora Sussekind nunca teve a minha admiração, em virtude de seu texto sempre confuso e mal pontuado, a ponto de às vezes a gente não saber sobre o que ela está escrevendo. Enfim, aquelas leituras que você tem que engolir em nome de um "prestígio" que não se sabe de onde veio.

De qualquer forma, toda a vaidade exacerbada precisa de um freio, antes que se torne perigosa.


A PROCURADORA DA LITERATURA

Astrid Cabral

Sempre fui entusiasta de polêmicas porque elas promovem uma acalorada exposição de idéias e muita luz deriva do atrito das pedras. Mas para que isso aconteça é necessário equilíbrio e uma habilidade típica da esgrima.

Como no caso das guerras ou batalhas há que haver uma simetria de forças para que o embate não se transforme num massacre e adquira feição indiscutivelmente criminosa. Tripudiar com aqueles que não podem reagir ou responder é abominável covardia. A promotora que agride a criança indefesa, a crítica que se insurge contra o colega morto, são exemplos de equivalente pusilanimidade.

O respeitável crítico e professor Wilson Martins viveu nada mais nada menos que 90 anos. Houve, portanto, tempo de sobra para que a jovem crítica Flora Sussekind apresentasse a ele suas objeções e pontos de vista diametralmente opostos, fornecendo ao público um debate de idéias enriquecedor, propiciando inclusive um diálogo com a perspectiva de diferentes gerações.

No entanto, ela aguardou o momento infausto do necrológio dele para se insurgir contra as justas reverências que lhe foram prestadas..É como apunhalar o defunto. O que poderia explicar, não digo justificar, essa atitude de estranho desrespeito, senão uma descabida rivalidade com o merecido prestigio de Wilson Martins? Prestigio conquistado por uma vida inteira de admirável competência e dedicação, além da dignidade da franqueza, moeda rara no jogo das relações humanas e da eterna feira de vaidades.

Como já disse em versos Cecília Meireles, Quem pode ser verdadeiro/ sem que desagrade? Digamos que cada um deles defenda a sua particular e única verdade, desagradando o outro, digamos que haja atritos incontornáveis, mas que haja sempre respeito. É inadmissível que um intelectual no uso de sadias faculdades mentais se comporte como um bárbaro sem reconhecer o valor de seu oponente.

Por que o campo das letras há de ser um rinque de competições ou uma rinha de galos? Por que ceder ao sensacionalismo do espetáculo, dividindo as energias que devem ser somadas contra problemas de âmbito bem mais grave do que divergências de cunho pessoal?


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2 comentários:

  1. Marcia Cavendish Wanderley13 de maio de 2010 às 18:12

    Parabéns para Astrid, que saiu de seus cuidados , talentosos e etéreos, para insurgir-se contra a arrogância de Flora Sussekind, em sua crítica pouco sábia a Wilson Martins. Querer fazer alguém desaparecer, se não é magia , é autoritarismo. Muita confiança em sua própria verdade. Mas será que só existe uma ?a de Flora Sussekind?

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  2. Os pareceres equivocados dessa procuradora têm causado grandes prejuízos à literatura. Astrid, com suas palavras equilibradas, mostra-nos a sordidez da tal professora, que, aliás, de flora não tem nada.

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