16 de junho de 2010

SOBRE O URUGUAI


Idea Vilariño ( 1920-2009)


Ouço pela janela que a seleção do Uruguai goleou a da África do Sul. Fiquei pensando no barulho que os uruguaios estarão fazendo por lá, atravessando o frio de prata, berrando anos de pobreza, enlouquecendo ainda pelos gritos sob tortura que jamais se calaram e cujos reflexos há pouco elegeram Mujica.

Que vá essa alegria ao Uruguai, ele precisa e merece. É resistente, é duro, de ferro. E o olhar no horizonte, tanto e tanto, às vezes quer vulcões, montanhas, mares de verdade.

Por mim, de futebol só gosto de ver filmes sobrfe. O que é o resto, para mim, não interessa. Me interessa contar-lhes que andei por lá e de repente me olhava da estante do Museo Torres Garcia a Poesia Completa de Idea Vilariño. E essa poesia sim, é algo de que um país deve orgulhar-se (e se orgulha), porque lá se lê. Por isso trago Idea, e falo assim, Idea, como se sempre a tivesse conhecido, como se a tivesse visto caminhando pela casa, morrendo tantas vezes de amor fracassado, escrevendo, os olhos tristes, vagando, escutando a escada, em diária e constante despedida.

POBRE MUNDO

(Trad. de Sérgio Faraco)


Vão desfazê-lo
vai voar em pedaços
no fim rebentará como uma bolha
ou explodirá glorioso
como um paiol de pólvora
ou mais simplesmente
será apagado
como se uma esponja molhada
apagasse seu lugar no espaço.
Talvez não o consigam
talvez venham a limpá-lo.
E perderá a vida como a uma cabeleira
e ficará girando
como uma esfera lisa,
estéril e mortal
ou menos belamente
andará pelos céus
apodrecendo lentamente
como uma chaga só
como um morto.
..
CADA TARDE

Cada tarde que finda
formosamente morre
e cada um
cada um?
admira a formosura e sabe
sabe?
que é mais uma que morre
mais uma que se acaba
mais uma que se perde
mais uma que é nunca
mais uma
menos uma.
...
ESSA ESTRELA

Essa estrela o que quer.
Ancorou na minha janela
quase à altura dos meus olhos
e ali está pulsando
ou fazendo sinais
ou sei lá
olhando
deixando que a veja
enorme como um punho
um punhado de luz
sobre a sombra suave dos pinheiros.
Olho-a com rancor.
Estou aqui a ler
um formoso ensaio
sobre a Alegoria
e essa estrela respirando
ofegando em minha janela
me instala de repente
na noite terrível do espaço
do espaço o abismo o infinito
como se queira
e me despoja e me deixa
errando às cegas
errando não
ah não
arrastada
numa veloz imóvel pura
respiração de gelo.
Arrastada levada
sobre esta chispa cálida
e suja e desvairada
que silva no escuro
lançada como um jet
para o nada para o nada.
E eu pobre de mim
lendo Alegoria.








...

2 comentários:

  1. Helena, também amo a poesia de Idea Vilariño.
    Helena, amo a ti, amo a tua poesia, amo a poesia que és. Beijos.

    JIVM

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