O que pensarão os nossos pósteros ao verem uma foto como essa? Poderão compreender que o México, que em 2010 ainda tinha 23 milhões de habitantes em estado de fome crônica, queimasse 134 toneladas de uma planta que valia, por baixo, o equivalente a 560 milhões de reais?
Isso me lembra Fahrenheit 451, o filme de Truffaut baseado no romance de Ray Bradbury em que opiniões próprias eram proibidas e para isso queimavam-se os livros - tudo controlado pela televisão. Mas as pessoas resistem ao decorar livros inteiros.
Houve outros momentos de controle de leitura (e idéias) ao longo da história. Sempre há alguém querendo impor o pensamento único.
Ora, combater as drogas equivale a combater opiniões próprias. Afinal, é preciso sempre perseguir e, se possível, matar alguém, para que as armas tenham alguma utilidade. E como nesse negócio meteram-se os pobres, melhor ainda. Já se faz uma limpeza étnica. Fora ou dentro dos porões.
Do ponto de vista ambiental, nem se fala. O crime é ainda maior. Os governos cavam a terra, querem minérios (a Vale que o diga), cavam o mar, querem petróleo (A Petrobras não tem limites) e agora o pré-sal. Mudam o curso das águas, gastam horrores com os equipamentos e a operacionalização (bem menos com os salários). Cavam para buscar minério (aí estão os mineiros chilenos para cujo salvamento deve ter sido gasto mais do que anos de salário). E mesmo com esse custo astronômico, com a destruição brutal do corpo da Terra, que os exploradores explodem, trituram, destroem, corrompem, ainda assim acham que é melhor combater as drogas. E chamam de droga uma plantinha que precisa de sol e água.
Mas governos não podem decepcionar as fábricas de armas. Os lobbies são fortíssimos. Dona Taurus e Dona Rossi não podem parar. Os cursos estão aí. Sempre tem um coronel aloprado para dar os treinamentos. Fora isso tem o exército, a polícia e os bandidos de plantão. Tudo plantado pelo sistema, que o Capitão Nascimento demorou a reconhecer.
Assim são os homens-toupeiras. Quase cegos, preferem se meter nos buracos. Rejeitam, prendem e queimam o que a Terra dá, naturalmente. Mas cavam brutalmente as suas entranhas. Um dia acharão o coração. E ele explodirá em mil pedaços na mão dos torturadores.
Talvez aí o mundo seja outro.
Comecemos com a manchete de um mundo novo:
"Tratado internacional decide a paz mundial e fecha as portas de todas as fábricas de armas".
Pensam que estou viajando? Não mesmo.
No dia 2 de novembro, na Califórnia, será votada em plebiscito a Proposição 19 para decidir sobre a legalização da maconha.
E os Estados Unidos, vocês sabem, sempre foram um ótimo exemplo para os nossos governos.
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Maravilhoso texto, maravilhosa Helena.Nome emblemático este teu, hein? Não poderia ser diferente.
ResponderExcluirQue Blog! Que texto! Parabéns!
ResponderExcluirUm dia eu chego lá...