11 de outubro de 2010

CAPITÃO NASCIMENTO E PIPOCAS


O Capitão Nascimento vem agora como tenente-coronel. Nem quero imaginar as coisas por que passou até chegar até aqui. Ainda não vi o filme, mas lembro de um jovem equivocado, como se pode ser equivocado na juventude. Um iludido, com laivos visionários. E tão ardorosamente destemido.

Wagner Moura faz o personagem. Um embate cruel de criaturas, umas pela sobrevivência no crime, outras pelo equívoco. O Estado mantém pretos e brancos pobres em campos opostos a partir da escolha de submeter ou ser submetido. Na busca pela sobrevivência, a polícia acaba sendo a primeira opção. Salário pouco, mas certo, pra que a miséria não bata à porta. E ainda tem as despesas com celular, etc.

Sempre penso que às vezes o policial encontra um primo, o vizinho, o filho da Dona Didi, o amigo das quebradas. E mata o mano por uma razão que nem é dele.

Espero que os santos todos da Bahia mais a força dos terreiros ajudem aquele fio da terra que venceu nos Rio de Janero. Não é um herói de guerra de verdade. Mas alguma coisa é de verdade?
Vou ver o filme também pelo José Padilha. Um cara bom de filme e de mídia, uma promessa.

Está faceiro, eu vi numa entrevista. E bem merece. Um filme é antes de tudo uma obra de arte, e vocês sabem que um dos elementos essenciais para quem ama o cinema é que ele seja visto em silêncio. (Ah, se me ouvissem os pipocantes de cinema).
As pipocas (sacos enormes!) - um desrespeito aos trabalhadores do cinema, de todos os níveis, além do desrespeito ao vizinho, que pagou a mesma coisa.
Buñuel filmou uma cena em que os convidados saem da sala de jantar, onde estão sentados em vasos sanitários, em volta da mesa, e vão comer, privadamente, num cubículo onde a comida chega sem que se tenha contato com ninguém. Coisa de surrealista. Deu outra. Ninguém pode mais ficar hora e meia sem encher a pança.
Meu amigo, por favor: então um batalhão de gente faz um filme para você, espectador, mobiliza um sem número de equipamentos e trabalhadores, de diretores a carregadores de balde, e você, cidadão, você, um cara inteligente que sabe tudo sobre a invasão cultural que os do norte perpetraram contra nós - você! - come pipocas sobre o Capitão Nascimento? Francamente, assim você desmoraliza a nossa Polícia.


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2 comentários:

  1. José Alberto de Souza11 de outubro de 2010 às 23:24

    Um filme tem que ser visto em silêncio - muito boa essa colocação. Ai está a grande diferença do cinema para a TV ou o VT que, além de nos prenderem em casa, deixam-nos a mercê de um telefonema inesperado e nos tentam com aquela geladinha e os salgadinhos inoportunos. Senta, levanta, senta, haja paciência, perde-se o fio da meada fácil, fácil... Adorei esta tua crônica!

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  2. Un agrado leer esta crónica querida Helena, un abrazo desde Santiago de Chile,

    Leo Lobos

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